Quando assumiu o cargo de reitor da PUCPR, em 2013, Waldemiro Gremski já tinha em mente um projeto nada secreto: o de um novo plano de graduação para a universidade. “Sempre fui da pesquisa e da pós-graduação – que no Brasil é uma das melhores do mundo. Eu me perguntava: por que não é também o caso da nossa graduação? É porque na pós o Brasil tem planos nacionais com objetivos claros. Na graduação, não temos nada nesse sentido”, compara. Já que o governo não organizava este projeto, Gremski resolveu assumir o desafio durante sua gestão como reitor. A principal pergunta a nortear o projeto era: o que a universidade e a graduação têm a contribuir para o país e para a sociedade?
Ao longo dos últimos anos, a PUCPR tem se esforçado para ser uma universidade que responde a esta pergunta em termos práticos. Literalmente. Desde 2014, o objetivo tem sido formar e engajar seu corpo docente em torno da aprendizagem ativa nos processos de ensino e aprendizagem. Em outras palavras: em um mundo em que o aluno tem acesso a todo conteúdo por conta própria, cabe à universidade e ao professor ensinar a sistematizar e aplicar este conteúdo. Essa mudança tem reflexos não só no que se espera do aluno, mas também do professor.
“Muitos têm a docência como uma segunda profissão. São engenheiros, médicos... e também professores. Mas é preciso se conscientizar de que a docência é uma carreira como outra qualquer. O profissional se atualiza nas outras atividades e precisa se atualizar também como professor”, alerta a professora Rosane de Mello Santo Nicola, do Curso de Letras. Para dar todo o apoio que esses profissionais precisam, a PUCPR investiu em um programa contínuo de formação docente com base na aprendizagem ativa.
Durante sua capacitação, o professor vive a experiência como aluno e vê o outro lado da sala de aula. Detalhe: na abordagem ativa. A certificação se dá em etapas, já que é preciso não apenas ter a base teórica, mas aprender a aplicar o que foi aprendido e relatar como foi a experiência. Como cada uma das mais de 4 mil disciplinas ofertadas pela PUCPR por semestre tem características próprias, é feito um plano específico, com estratégias definidas a partir das necessidades de cada docente e um acompanhamento para ver o que funciona e o que ainda pode ser melhorado. Cada fase do treinamento valoriza a experiência compartilhada, contínua, ativa e por competência. Aproximadamente um terço dos cerca de 1.400 docentes ativos do quadro da universidade já passaram pela capacitação.
Embora tenha enfoque na graduação, as mesmas ideias também serão levadas aos alunos de pós. Segundo a professora Dilmeire Sant’Anna Ramos Vosgerau, do Programa de Pós-Graduação em Educação, muitos alunos, especialmente no mestrado, vão seguir carreira como professores. “Como eles não tiveram esta experiência de aprendizagem ativa na sua graduação, é importante que tenham contato com o modelo”, explica.
A esperança de todos os envolvidos nesta mudança de paradigma é que a PUCPR responda àquela pergunta inicial feita por Gremski: O que a universidade e a graduação têm a contribuir para o país e para a sociedade? A resposta que se espera atingir – já em forma de resultado – é: formar cidadãos autônomos, dedicados, cooperativos, com senso crítico e honestos.
Em busca de um novo conceito
O processo de mudança no ensino da PUCPR teve início em 2014, e as pesquisas sobre aprendizagem ativa duraram cerca de seis meses antes que qualquer mudança fosse feita na prática. Mais de 20 profissionais – desde gestores a representantes de todas as escolas e campi – ajudaram a pensar o Plano de Desenvolvimento da Graduação, elaborado pelo Comitê de Inovação na Graduação (CIG).
A PUCPR também procurou exemplos de fora do Brasil sobre como formar, avaliar e acompanhar os professores. Representantes da universidade visitaram instituições como Harvard, MIT e Olin College, e a pró-reitoria trouxe professores de Harvard para – nas palavras do próprio reitor – “mostrar aos incrédulos” como todos seriam beneficiados por uma mudança de cultura que priorizasse a aprendizagem ativa. Para a professora Rosane de Mello Santo Nicola, “não se trata de copiar ou reproduzir o que vem de fora, mas de adaptar e criar para a nossa realidade.”
Para mostrar este caminho, a PUCPR entrou no Consórcio STHEM Brasil, uma parceria de mais de 30 instituições de ensino superior brasileiras com o Laspau, um instituto de difusão de inovações no ensino superior afiliado à Universidade de Harvard. Também foi criado o principal órgão de apoio do programa de formação de docentes, o CrEAre (Centro de Ensino e Aprendizagem da PUCPR). É por meio deste centro que professores podem aprender estratégias de ensino efetivo. Entre as oficinas oferecidas estão as de aprendizagem ativa, ferramentas de ensino, oralidade, leitura e escrita e de estratégias de avaliação.
O próximo passo neste processo é o Devising 21st Century Higher Education, uma conferência com a proposta de promover a discussão de aprendizagem ativa no ensino superior, reunindo educadores renomados no Brasil e no mundo. O evento ocorre de 26 a 28 de julho no campus da universidade em Curitiba, e tem a proposta de servir de inspiração aos professores da PUCPR e da comunidade.
