Não estamos pensando só no resultado palpável. Pretendemos criar um ambiente que gere uma convergência de ideias e forneça condições para desenvolvê-las
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Já imaginou se aqui no Paraná houvesse um lugar onde estudantes, professores e pesquisadores entusiasmados, de diversas áreas, fossem incentivados a trabalhar juntos em busca de soluções que facilitassem o trabalho dos médicos, barateassem os custos da saúde e melhorassem a vida das pessoas? Mais: que essas soluções se materializassem e virassem produtos, dispositivos ou processos economicamente viáveis, que atraíssem investidores e grandes empresas, capazes de espalhar essas ideias pelo mundo – e, numa só tacada, propagassem o bem-estar?
Pois pode parar de imaginar. O primeiro passo rumo a esse cenário, onde você pode exercitar sua criatividade e usá-la para fazer o bem transformando conhecimento em riqueza, foi dado nesta segunda-feira, quando começou para valer o projeto de incentivo à inovação na área da PUCPR, inspirado no consagrado programa Biodesign, da Universidade de Stanford, no Vale do Silício, na Califórnia.
“A ideia surgiu de uma visita que fizemos a Cingapura, por meio do contato de um professor de Stanford, que nos levou para conhecer um braço do Biodesign lá”, conta o vice-reitor da PUCPR, Paulo Mussi. “E lá nós vimos uma cidade-estado sem recurso natural nenhum, nem sequer água, porém com um dos maiores PIBs per capita do mundo. E pudemos constatar que esse progresso e essa qualidade de vida são calcados em um ‘ecossistema de inovação’, que congrega todos os recursos (humanos, financeiros, intelectuais e materiais) de determinadas áreas e gera desenvolvimento econômico e social. E aí a gente pensou: ‘se eles conseguem fazer isso aqui, imagine o que podemos fazer no Brasil!’”.
O passo seguinte foi procurar a Universidade de Stanford para estabelecer uma parceria. “Fomos lá duas vezes em 2012, ajudar a desenhar esse projeto”, lembra Mussi. E o modelo escolhido foi o que já havia sido implantado na China: uma espécie de intensivo de duas semanas da metodologia norte-americana, que, em sua versão completa, requer um ano de imersão total. “Resolvemos fazer essa primeira versão mais concentrada para que pudesse ser implantada mais rápido.”
“O que chamou a nossa atenção em Stanford é que é um programa multiprofissional, que envolve médicos, engenheiros, designers, profissionais da área de TI, negócios e outras, todos empenhados em buscar necessidades inusitadas em hospitais e postos de saúde. E todo esse time é colocado junto para fazer o brainstorming e criar as soluções”, conta Marcelo Pillonetto, coordenador do Programa de Inovação em Saúde e professor da Escola de Medicina da PUCPR. “É uma metodologia bem-sucedida para ensinar inovação desde a ideia, invenção, implementação, até a comercialização, que foi replicada para países emergentes como Índia e China. E surgiu a oportunidade de a PUCPR sediar o primeiro braço na América Latina.”
Concentrado sem
ser superficial
O fato de o programa aplicado na PUCPR ser um “intensivo” do método de Stanford não quer dizer que ele seja menos eficaz. “Teremos o acompanhamento de cinco instrutores de Stanford e vamos passar por todas as etapas no Bootcamp: visitar hospitais, levantar necessidades, propor soluções, escolher a melhor ideia, fazer um plano de negócios, testar, fazer um produto viável mínimo e expor aos investidores”, enumera Pillonetto.
Claro que, possivelmente, as ideias e soluções propostas nas duas semanas do Bootcamp não sejam tão revolucionárias, nem se tornem produtos economicamente viáveis num primeiro momento. “Não estamos pensando só no resultado palpável. Pretendemos criar um ambiente que promova essas experiências e esse relacionamento, que gere uma convergência de ideias e forneça condições para que elas possam ser desenvolvidas”, resume Paulo Mussi. “É uma semente, mas o fato de não estarmos sozinhos e podermos contar com o apoio de uma referência como Stanford nos permite acreditar que renderá bons frutos.”