Construção Civil, um dos setores que alavanca a retomada da economia| Foto: Gazeta do Povo
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Em uma reação de retomada, a economia brasileira mostra sinais de recuperação nos últimos meses, puxada por dois setores: agronegócio e construção civil. Segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), vinculado ao Ministério da Economia, foi registrado no mês de julho 41.986 vagas de emprego geradas pela construção civil. O setor só foi superado pela indústria que abriu novos 53.590 postos de trabalho. No balanço geral para o mês, o Brasil registrou 1,04 milhão de contratações e 912 mil demissões, com um saldo de 131 mil admissões. Julho foi o primeiro mês desde o início da pandemia com saldo positivo.

Com severos e irreparáveis danos à saúde pública, os efeitos colaterais do coronavírus também causam impactos negativos de ordem econômica e social que no segundo semestre começam reverter a tendência de baixa com o desempenho positivo de alguns setores. O PIB (Produto Interno Bruto) do agronegócio, por exemplo, deve crescer 2,5% em 2020, enquanto o PIB geral deve sofrer retração de 6%, segundo números do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Na avaliação do presidente em exercício do Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia), Osmar Barros Júnior, “a engenharia e a agronomia colocam-se como vetores para a retomada econômica devido as suas características essenciais que impactam a vida da sociedade”. São setores, segundo o dirigente, de relação direta com infraestrutura e exportação, em especial de base agrícola, com forte viés na promoção de emprego e renda.

De acordo com o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), as exportações do setor cresceram 10% no primeiro semestre, em relação ao mesmo período de 2019, e totalizaram US$ 61 bilhões. Já a construção civil chegou a registrar 30% de recessão durante os anos de 2013 e 2018, segundo dados da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção). Mas em 2019, o setor cresceu 1,6% e teve participação direta na elevação do PIB brasileiro no ano passado. Mesmo durante a pandemia, a atividade não diminuiu suas ações e deve registrar nova alta em 2020.

“Estamos conseguindo manter a atividade e contribuindo para o país. Para cada R$ 1 milhão de investimento na construção civil temos a geração de 7,6 empregos diretos, 3,8 indiretos e 12,10 induzidos, resultando em 23,5 empregos totais”, avaliou a economista da CBIC, Ieda Vasconcellos. O engenheiro civil e conselheiro federal pelo Distrito Federar João Carlos Pimenta reforça o impacto social do segmento: “a construção civil agrega uma parte razoável da mão de obra não qualificada, que infelizmente ainda existe em grande parte do Brasil. Por outro lado, isso ajuda a aumentar o poder aquisitivo e os rendimentos desses profissionais, demonstrando o fator social da construção civil”,

“Estamos conseguindo manter a atividade e contribuindo para o país. Para cada R$ 1 milhão de investimento na construção civil temos a geração de 7,6 empregos diretos, 3,8 indiretos e 12,10 induzidos.”

Ieda Vasconcellos, economista da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção).

Uma pauta de infraestrutura e produção

Agronegócio e construção civil apresentam um ponto em comum para ocuparem esse protagonismo na retomada econômica do Brasil. “As engenharias e a agronomia são consideradas serviços essenciais para a sociedade e estão diretamente atreladas ao desenvolvimento, à geração de empregos, sem mencionar a prioridade nacional e urgente: o saneamento básico”, explica Barros Júnior.

“As engenharias e a agronomia são consideradas serviços essenciais para a sociedade e estão diretamente atreladas ao desenvolvimento, à geração de empregos.”

Osmar Barros Júnior, presidente em exercício do Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia).

Nesse sentido, Ieda Vasconcelos destaca como ponto de atenção que está para aprovação no Congresso Nacional o Marco Regulatório do Saneamento, que mantém o setor da construção civil com boas expectativas para os próximos anos. “A construção civil na última década respondeu por mais de 50% dos investimentos realizados no país e precisamos que esse número cresça. Nós temos 35 milhões de pessoas no país que não tem acesso a água tratada e 100 milhões que não tem acesso a rede de esgoto”, continuou a economista.

O conselheiro Pimenta também avaliou como fundamental a aprovação do Marco Regulatório do Saneamento. Ele resgata uma projeção da OMS, que para cada dólar investido em saneamento básico outros cinco dólares são economizados na saúde, para concluir que os gastos nesse setor não podem ser encarados como despesa, mas como investimento. Pimenta lembra que um grande percentual da sociedade ainda vive sem abastecimento regular de água e sem coleta e tratamento de esgoto. “Como negócio, aplicar em saneamento básico é um ganho”, sentencia.

Em relação à produção de alimentos, outro setor fundamental no contexto da pandemia, seja do ponto de vista econômico ou então de abastecimento e segurança alimentar, é a Agronomia. Conforme dados do Ministério da Agricultura, o país não só é autossuficiente na produção de comida como tem contribuição decisiva no comércio internacional de proteínas animal e vegetal com sanidade e sustentabilidade. “Hoje o Brasil tem uma defesa agropecuária que preza pela qualidade dos seus produtos. Com isso, o país assume o papel de grande produtor de alimentos, abastecendo a população mundial, com preços acessíveis no mercado”, analisou o presidente da Confaeab (Confederação dos Engenheiros Agrônomos do Brasil), Kléber Santos.

“O Brasil na década de 50 era um importador de alimentos, enquanto hoje é um grande exportador e tem um papel muito importante no abastecimento da população mundial.”

Kléber Santos, presidente da Confaeab (Confederação dos Engenheiros Agrônomos do Brasil).

Prova dessa qualidade é que o Brasil tem notado nos últimos anos maior diversificação nas regiões produtoras. O Arco Norte – região que contempla os estados do Amapá, Amazonas, Bahia, Maranhão, Pará, Rondônia e Sergipe, tem apresentado bons índices na produção e escoamento de grãos. “O Arco Norte aumentou e 50% sua produção de grãos, respondendo por 52% do escoamento nacional, subindo de Porto de Itacoatiara, tirando o fluxo intenso que temos nas Regiões Sul e Sudeste”, completou o coordenador nacional das CCEAGRO (Câmaras Especializadas de Agronomia), Thiago Castro de Oliveira.

“O próximo passo da agricultura é intensificar a industrialização do campo, passando pela melhoria na logística para conseguirmos baixar o preço dos produtos, tornando o país mais competitivo.”

Thiago Castro de Oliveira, coordenador nacional das CCEAGRO (Câmaras Especializadas de Agronomia do Sistema Confea-Crea.

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