Diante da baixa lucratividade por conta da crise, a paranaense Eletrolack apostou em uma reformulação interna para melhorar seus resultados. Especializada em pinturas industriais, a empresa aliou a otimização de processos com redução de desperdício no chamado lean manufacturing para garantir um retorno ao crescimento. E, com menos tempo perdido em movimentação de peças e de funcionários, sua produtividade subiu 38% em apenas dois meses.
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Apesar do nome complicado, a ideia por trás do lean manufacturing é simples e se encaixa dentro daquilo que se espera para o Dia Nacional da Inovação, comemorado nesta quarta-feira (19). Como o termo em inglês revela, é tornar o processo produtivo mais enxuto, removendo seus excedentes para diminuir custos. “É uma ferramenta que trabalha para evitar desperdícios, seja com superprodução ou excesso de movimentação, o que diminui os custos e aumenta a produtividade”, explica o responsável pela área de consultoria do Senai no Paraná, Ermisson da Silva Rodrigues. Para ele, trata-se de um método anticrise bastante eficiente, visto que não depende de altos investimentos.
No caso da Eletrolack, por exemplo, os gastos com a compra de novos materiais ficaram em torno dos R$ 1 mil, como revela a sócia-proprietária Karin Schröder. “Todas as mudanças foram feitas com base naquilo que já tínhamos dentro da empresa. Foi preciso adquirir apenas algumas poucas peças”, conta. Para isso, a companhia apostou em mudança de layout e outras alterações nos processos, o que resultou em uma queda no custo geral de produção. “Esperamos uma redução de algo próximo a R$ 30 mil por ano”.
Graças a esse baixo valor investido, o retorno acaba sendo bastante vantajoso. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), os ganhos com o lean podem ser entre 8 e 108 vezes maiores do que o valor investido inicialmente. Não por acaso, em 2014, metade das empresas paranaenses apostaram em melhorias de processos e observaram resultados positivos oriundos disso.
Rodrigues aponta essa independência de novas aquisições como um dos diferenciais do lean manufacturing. “Neste primeiro momento, a gente não fala em compra ou em novos investimentos. Para pensar em automação, indústria 4.0 e coisas do tipo, é preciso primeiro se organizar internamente e rever seus índices de produtividade. As melhorias são feitas com o ferramental que a indústria já tem disponível”.
Como funciona
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o valor investido foi o retorno de algumas empresas participantes do Brasil Mais Produtivo em 2015
Todo o processo de lean manufacturing se baseia na observação dos procedimentos adotados por uma empresa e em mudanças pontuais no que é considerado crítico. Com a ajuda de um consultor do Senai, a companhia tem todos os seus processos mapeados para identificar o que é possível melhorar. “A gente chega na fábrica e faz um diagnóstico, elencando alguns indicadores. Mapeamos toda a operação, desde o fornecedor até a entrega para o cliente final, identificando onde estão os desperdícios na linha de produção”, detalha Rodrigues.
O tempo para realizar todas essas mudanças depende do tamanho da empresa, mas o especialista do Senai conta que as consultorias variam entre períodos de 100 a 250 horas. E todo o trabalho é feito em parceria com os donos e gerentes das empresas, além de outros funcionários, que vão ajudar a apontar os gargalos existentes.
Entre os problemas mais comuns identificados, o excesso de movimentação e a produção desbalanceada são os mais comuns. “O empresário muitas vezes não sabe qual seu pico de demanda. Não sabendo o quanto tem que produzir, acaba pagando um preço muito alto quando precisa aumentar essa produção, fazendo o custo estourar”.
Apoio federal
Ministro em Curitiba
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) Marcos Pereira estará em Curitiba no próximo dia 26 de outubro para divulgar o programa Brasil Mais Produtivo. O encontro será realizado a partir das 10h no Campus da Indústria, na Avenida Comendador Franco, 1341.
Para popularizar a metodologia do lean manufacturing, o governo federal criou o Brasil Mais Produtivo, programa que oferece consultoria a empresas de diferentes setores para ajudar nesse crescimento em meio à crise. Em parceria com especialistas do Senai, a expectativa é atender 3 mil indústrias de pequeno e médio porte até o fim de 2017, oferecendo um crescimento de, pelo menos, 20% na produtividade. No entanto, os resultados de 2015 mostraram um aumento de 33% a 66% entre os participantes.
De acordo com as regras estabelecidas pelo MDIC, cada estado possui algumas áreas contempladas com base naquilo que o ministério determina como estratégico para cada região. No caso do Paraná, as empresas dos setores alimentício, moveleiro e metalmecânico podem se inscrever para contar com benefício, como foi o caso da própria Eletrolack. “É um tipo de consultoria com valores bem mais acessíveis”, afirma Schröder.
De acordo com Ermisson da Silva Rodrigues, os resultados paranaenses vêm sendo bastante positivos. Segundo ele, nos últimos dois anos, as 40 empresas participantes tiveram um aumento de produtividade entre 20% e 51%. A estimativa é que, até setembro de 2017, o Senai atenda 200 empresas no estado pelo Brasil Mais Produtivo.
Bússolas apontam o caminho certo para a inovação
Iniciativa do Senai realiza diagnóstico gratuito que aponta soluções para inovação nas empresas
O programa do MDIC não é o único caminho para quem quer adotar o lean manufacturing em sua empresa. Paralelo ao projeto federal, o Senai conta ainda com outras ações para a redução de desperdícios e o aumento de produtividade. É o caso das chamadas Bússolas da Inovação e da Sustentabilidade, iniciativas gratuitas que ajudam a diagnosticar problemas e a apontar soluções dentro das corporações.
De acordo com Augusto Machado, responsável pelas pesquisas, a ideia é apresentar caminhos que ajudem a empresa a inovar, além de trazer ações com retorno imediato. “Em um cenário de dificuldade e de crise, investir um tempo para entender o que faz e receber um diagnóstico que ajude no crescimento é algo muito produtivo”, explica. Para ele, as Bússolas servem para complementar o que já é feito no lean, visto que ambas as ferramentas convergem para o mesmo objetivo.
A diferença, contudo, é que tanto a Bússola da Inovação quanto a da Sustentabilidade atendem a todos os setores, ou seja, sem distinção como acontece no Brasil Mais Produtivo. “Esse é uma ideia pioneira desenvolvida pelo Senai no Paraná e que estamos exportando para outros estados”, conta. “Todas as informações fornecidas são confidenciais. O que queremos é entender a realidade da indústria para oferecer soluções”.
Os interessados têm até o dia 31 de outubro para responderem aos questionários.