As marcas da crise ainda estão presentes. Porém, mesmo com a redução de 4,26% nas vendas registrada pela indústria paranaense entre os meses de janeiro e julho de 2016 em relação ao mesmo período do ano passado, o cenário não é de completo pessimismo. Os números apresentados pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) preocupam, mas há quem veja o atual momento como oportunidade para realizar mudanças e aumentar a produtividade.
VEJA INFOGRÁFICO: Segurança e inovação na indústria
E não se tratam de medidas drásticas, mas de investimentos em inovação e cuidados com a segurança e saúde de funcionários que fazem com que a companhia renda mais. Como explica o superintendente do Sesi e IEL no Paraná e diretor regional do Senai, José Antonio Fares, são práticas de melhoria e otimização de processos que podem ajudar os resultados das empresas de maneira significativa. “É enxergar onde é possível fazer mais com menos”, aponta.
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A preocupação com a produtividade é óbvia. Dos 18 setores da indústria que atuam no estado, apenas três cresceram nos sete primeiros meses de 2016 em comparação ao mesmo recorte de 2015. E somente um deles — alimentos e bebidas — corresponde a um dos gêneros de maior participação na economia paranaense.
Para o gerente de inovação e Alianças Estratégicas do Senai, Luiz Carlos Ferracin, otimizar os processos é um dos caminhos mais eficientes e acessíveis para essa retomada, visto que isso nem sempre exige grandes gastos. “Não é preciso comprar uma nova máquina para ganhar em produtividade. Às vezes, é treinar melhor seu funcionário, diminuir o tempo de produção ou mudar o layout da fábrica. Tudo está ligado à inovação”, explica.
Foi nessa ideia que a Cisco Skate apostou. Especializada em peças para skates, a empresa construiu uma pista nos fundos da sua fábrica para testar seus produtos. E os resultados foram imediatos. “Antes, era preciso cerca de 15 dias para termos um retorno sobre o que produzimos. Com a pista, esse tempo foi reduzido para, no máximo, dois dias”, explica o sócio-diretor Antônio Portes. Para ele, o ambiente controlado deu à Cisco muito mais eficiência na hora de identificar e corrigir problemas.
Segundo Portes, a preocupação com inovar e encontrar novas soluções é algo que está no DNA da empresa, pois ela já nasceu trabalhando em parceria com institutos de tecnologia, como o próprio Senai. E a pista é apenas uma das ações voltadas para essas melhorias. Além dela, a Cisco ainda trabalha no desenvolvimento de peças que sejam, ao mesmo tempo, mais resistentes e baratas.
“São essas inovações que nos mantêm em pé, além de oferecer um grande diferencial”, conta o diretor, que não vê na crise uma razão para cortar investimentos em pesquisa e desenvolvimento. “A gente nasceu com essa preocupação em inovar, então nunca pensamos nisso como um gasto. É uma rotina a se exercitar”.
Cuidando dos seus
A atenção à segurança e saúde é outro ponto que pode ajudar no aumento da produtividade. São cuidados simples e que evitam gastos desnecessários ou perda de eficiência. Para José Antonio Fares, o descuido com essas questões alimenta um ciclo vicioso no qual a empresa pode se ver refém. “Algumas pequenas indústrias chegam a ficar inadimplentes por conta das más condições de trabalho. São situações que geram acidentes, afastamento, absenteísmo e reclamatórias trabalhistas. No fim, o impacto é muito grande”.
Algumas pequenas indústrias chegam a ficar inadimplentes por conta das más condições de trabalho
Esse absenteísmo é um dos principais vilões do desempenho, pois aponta o percentual de horas de trabalho perdidas por faltas e afastamentos causados por doenças e acidentes de trabalho. Segundo a Associação Brasileira de Recursos Humanos, o absenteísmo custou 1% do tempo trabalhado pela indústria paranaense em 2014.
A negligência com segurança e saúde colocou ainda o Brasil na 4ª posição do ranking mundial de acidentes elencado pela Organização Internacional do Trabalho, atrás apenas de China, Índia e Indonésia. Mais do que isso, o anuário estatístico da Previdência Social mostrou que, em 2014, o país registrou 704 mil ocorrências, sendo 52,4 mil apenas no Paraná.
De acordo com o superintendente, o maior erro cometido pelas empresas é não valorizar a informação sobre o assunto junto a seus colaboradores. E foi exatamente essa a estratégia adotada pela Kuhn Montana para reverter seus índices. De acordo com a gerente de Recursos Humanos e segurança no trabalho, Isabel Bastos, foi realizada uma grande campanha de comunicação e de treinamento que resultou na queda drástica dos acidentes registrados.
Segundo a gerente, os afastamentos caíram pela metade nos últimos dois anos. “Ainda que seja difícil medir o retorno desses investimentos por causa da crise, não há dúvidas de que o ganho foi grande em termos de produtividade e na redução de gastos desnecessários”, explica.
Além de tornar mais clara a comunicação sobre o assunto e investir em ações preventivas, os gestores precisam atentar-se ao cumprimentos da legislação, responsável por adequar os postos de trabalho de forma segura. “As normas brasileiras nesse segmento, quando não cumpridas, podem resultar em ambientes menos seguros e, consequentemente, trabalhadores menos saudáveis”, explica José Antonio Fares. “Elas também têm forte impacto no faturamento das empresas, pois as multas podem ser bastante altas. Por todos esses fatores, investir nesse segmento é bastante estratégico”, finaliza.