Esqueça a rebelião das máquinas: a indústria 4.0 não é o bicho-papão que muita gente acredita| Foto: ThyssenKrupp/Divulgação

À primeira vista, a Indústria 4.0 realmente parece coisa de cinema. A ideia de processos inteligentes, altamente conectados e ao alcance de seu smartphone soa mesmo como algo vindo de uma ficção científica. E, exatamente por isso, ela ainda desperta muitas incertezas e desconfianças — sobretudo sobre o futuro dos empregos. Há uma crença de que o avançar dessa indústria vai fazer com que muitos postos de trabalho sejam ocupados por robôs. Porém, essa rebelião das máquinas vai continuar sendo exclusiva dos filmes.

Estudo mostra como as empresas estão aplicando a Indústria 4.0

VÍDEO: Parcerias ajudam a tornar a indústria mais inovadora e competitiva

De acordo com o gerente do Centro Internacional de Inovação do Sistema Fiep, Filipe Cassapo, essa noção equivocada é muito mais um mito criado pelo próprio desconhecimento das pessoas sobre o tema do que uma realidade. A começar pelo fato de que a Indústria 4.0 não se resume apenas à automação, mas de algo muito mais abrangente. Trata-se de usar a tecnologia para otimizar os processos, tornando o negócio mais competitivo e rentável.

Para isso, conceitos como a Internet das Coisas, inteligência artificial e o monitoramento de dados em tempo real deixam de ser um cenário futurista para fazer parte do dia a dia de uma empresa. “As tecnologias são múltiplas e permitem a uma organização fazer coisas que antes não eram possíveis”, aponta Cassapo. Segundo ele, a própria ideia de manutenção preditiva, no qual um equipamento alerta sobre possíveis problemas, já está ligada à Indústria 4.0 e capaz de reduzir custos significativos em um negócio.

De nada adianta a tecnologia se não houver a evolução de competências para absorver esses novos processos.

Filipe Cassapo gerente do Centro Internacional de inovação do Sistema Fiep

É claro que esse avançar tecnológico tem seus impactos sobre os empregos. Uma pesquisa feita pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, mostrou que muitos trabalhadores de nível médio já foram afetados, principalmente em atividades de rotina. Porém, isso não faz da Indústria 4.0 o bicho-papão que muitos imaginam, uma vez que ela força uma mudança no perfil no trabalhador. “De nada adianta a tecnologia se não houver a evolução de competências para absorver esses novos processos”, destaca o gerente do Senai no Paraná. “A digitalização é a oportunidade de fazer com que as pessoas que trabalham nessas empresas se desenvolvam. É um crescimento que se retroalimenta”.

Essa foi uma preocupação tomada pela Bosch na hora de implementar algumas soluções especificas da Indústria 4.0 em suas operações. “O uso destas novas soluções sempre ocorre de forma gradual, aproveitando a expertise atual da pessoa”, explica o responsável pela tecnologia de manufatura da empresa em Curitiba, Mozarte Reck. “O colaborador deverá entender seu papel nesta nova forma de produzir para poder interagir e trazer os resultados esperados”.

Entre as tecnologias adotadas pela companhia está o uso de um sistema que faz todo o controle de suprimentos, agilizando o acompanhamento de inventário, além de realizar o monitoramento de seu maquinário com o auxílio de um software dedicado. Essas medidas ajudaram, segundo Reck, a aumentar a produtividade da empresa em algo próximo a 10%.

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O poder das startups

Outro mito relacionado à Indústria 4.0 é o de que a sua adoção é cara para as empresas. Para Cassapo, porém, essa é uma visão que está muito mais ligada à ideia de que as soluções devem ser importadas ao invés de desenvolvidas aqui. E é nesse contexto que as startups se revelam importantes aliadas para a incorporação de novas tecnologias em velhos processos.

Segundo o gerente do Senai, já há várias companhias que estão trabalhando para impulsionar soluções voltadas à Indústria 4.0 aqui mesmo no estado. É o caso da GoEpik, uma startup que leva tecnologias que parecem ter sido retiradas de Hollywood diretamente para as linhas de produção das indústrias, principalmente no que diz respeito à capacitação de funcionários.

Realidade aumentada é utilizada para ajudar na manutenção de equipamentos 

Um exemplo disso foi a criação de um software que une realidade virtual e inteligência artificial para simular diferentes tipos de operação para indicar se o trabalhador está apto ou não para realizar determinada tarefa, recriando desde situações do dia a dia até acidente. “Com isso, a companhia consegue medir a eficácia de um processo de treinamento. É quase como se o indivíduo estivesse na Matrix”, brinca o CEO da GoEpik, Wellington Moscon, em referência ao filme de 1999 que usa um conceito parecido.

A realidade aumentada também é outra grande aliada em termos de soluções inteligentes, desta vez na área de manutenção. “É como os óculos que aparecem no filme Homem de Ferro, em que as informações surgem no campo de visão da pessoa”, compara o Moscon. “Ela para na frente do equipamento, faz a leitura do QR Code e os óculos já mostram tudo o que precisa saber para realizar essa manutenção”.

Os resultados dessas novidades foram bastante positivos, como aponta o executivo. De acordo com ele, as empresas parceiras que adotaram as soluções perceberam não só ganho na produtividade, como também redução no custo dos treinamentos, aumento da perícia de seus funcionários e redução nos gastos relacionados à manutenção de equipamentos.

Isso mostra como o trabalho com startups é, nas palavras de Filipe Cassapo, vital para o avançar da Indústria 4.0. Para o gerente, sem a necessidade de importar tecnologias e soluções, o custo de adoção se torna bem mais acessível — o que revela a necessidade de estimular não só startups, mas também centros de pesquisa e universidades. “Se não incentivarmos nossos ecossistemas de startups, vamos perder a oportunidade de criar essa cadeia de desenvolvimento tecnológico aqui, no Brasil ou no Paraná”, conclui.

Indústria 4.0 é tema de evento internacional no Paraná

O Paraná recebe, entre os dias 28 de novembro e 2 de dezembro, um evento dedicado à Indústria 4.0 e suas possibilidades. Organizado pela Fiep em parceria com o Ministério das Finanças e Economia de Baden-Württemberg, na Alemanha, o Simpósio Internacional: Indústria 4.0 - Paraná e Baden-Württemberg trará especialistas europeus para conversar e compartilhar experiências com os empresários locais sobre o uso dessas soluções tecnológicas em seus processos.

A entrada é gratuita, com vagas limitadas. As inscrições podem ser feitas pelo site do Senai: http://www.senaipr.org.br/simposio-industria40/

Confira a agenda do simpósio:

Curitiba – 28/11/2016

Campus da Indústria (Sala de Convenções). Avenida Comendador Franco, 1341 – Jardim Botânico

Maringá – 30/11/2016

Instituto Senai de Tecnologia em Metalmecânica. Rua José Correia de Aguiar, 361 – Jardim Leblon

Londrina – 02/12/2016

Sistema Fiep em Londrina - Rua Deputado Fernando Ferrari, 160 – Jardim Bancários