O que um celular, uma joia e o seu corpo têm em comum? Ainda que sejam tão diferentes entre si, todos eles usam algum processo eletroquímico para que você possa utilizá-los em seu dia a dia. Seja fornecendo energia para a bateria de seu smartphone, produzindo um brinco de qualidade ou mesmo gerando reações em seu cérebro que permitem que você leia este texto, a eletroquímica é algo que está constantemente presente em nossas vidas, mesmo ela parecendo ser algo tão distante. E, com a indústria, não é diferente.
A eletroquímica é um ramo da ciência que estuda reações químicas que envolvem transferências de elétrons. Soa como um conceito complicado, mas sua aplicação no cotidiano é enorme. É esse processo que acontece quando você conecta seu celular no carregador ou mesmo quando a bateria fornece energia para o aparelho. Ou, de maneira ainda mais simples, quando alguma peça metálica começa a enferrujar, já que essa oxidação nada mais é do que um processo eletroquímico que pode ser evitado, gerando uma economia significativa.
Porém, como explica o pesquisador do Instituto Senai de Inovação (ISI) em Eletroquímica e doutor em Microbiologia Paulo Roberto Dantas Marangoni, essa redução de custos é apenas uma das formas como a eletroquímica pode fortalecer a indústria. Além de ajudar nesse aspecto, ela ainda é uma ferramenta bastante eficaz para a otimização de processos e inovação de produtos.
Foi no que apostou a paranaense Imunova, empresa especializada em análises biológicas em animais de produção que desenvolveu um novo tipo de sensor para uso veterinário capaz de detectar algumas doenças ainda em campo. A ideia é obter um resultado já no momento da medição, agilizando um processo que levava dias para ser feito em laboratório.
O diretor de qualidade da companhia, Celso Fávaro Junior, explica que o objetivo é criar um sensor conceitualmente parecido com os medidores de glicose usados por diabéticos e que, para isso, a eletroquímica é peça fundamental para chegar ao resultado esperado. “Vimos publicações que falavam sobre o processo, mas não tínhamos conhecimento na área, então fomos atrás de especialistas”, conta. Assim, em parceria com o ISI, passaram a trabalhar no projeto, que deve ter sua primeira versão lançada no fim de 2017.
Para saber mais sobre o Instituto Senai de Inovação e como a eletroquímica pode ser aplicada às empresas, acesse a página oficial do ISI e conheça suas diferentes áreas de atuação.
Para o pesquisador-chefe do instituto, Marcos Antonio Coelho Berton, o objetivo do ISI é exatamente fazer essa conexão entre a universidade e a indústria, o que inclui desde propor soluções de eletroquímica até a elaboração de planos de trabalho para a criação de novos projetos. “Há uma lacuna entre o conhecimento acadêmico e o setor produtivo que nós tentamos preencher”, afirma.
Para isso, ele conta com parcerias com diversas universidades, como a UFPR e a UTFPR, além de institutos internacionais de pesquisa, como o sueco Acreo e o Instituto Fraunhofer, da Alemanha. “Buscamos lá fora competências que não encontramos aqui para ajudar nossas empresas”.
Inovar ao invés de remediar
Ainda assim, Berton destaca que o empresariado brasileiro segue encarando inovação como gasto e não como investimento — e isso afeta diretamente o uso da eletroquímica nas indústrias. “A grande maioria das empresas vem até nós para resolver problemas e não para inovar. Há uma preocupação apenas com produção e acham que inovar é caro”, conta. Porém, o pesquisador do Senai revela que esse primeiro contato acaba servindo de ponte para que novas parcerias surjam. “Observamos o potencial de inovação quando elas nos pedem ajuda e, então, passamos a sugerir novos caminhos”.
Essa preocupação com soluções imediatas é algo bastante compreensível, já que a manutenção de peças e equipamentos é algo que consome muitos recursos das companhias, sobretudo por conta da própria degradação natural dos materiais. Dessa forma, os estudos sobre corrosão se tornaram uma das especialidades do ISI em eletroquímica do Paraná. “Estudamos esses processos para podermos desenvolver ligas metálicas mais resistentes ou revestimentos mais eficazes contra esse tipo de problema”, explica. O instituto também se concentra em pesquisas sobre baterias, nanotecnologia e sensores.
Um dos principais entraves relacionados à inovação são os custos de pesquisa, que geralmente tornam todo o processo bastante caro. No caso da Imunova, por exemplo, o desenvolvimento do sensor custou mais de R$ 1,5 milhão — um valor que acaba assustando muitos empresários, principalmente em momentos de crise.
Como explica Berton, o montante realmente pode impressionar, mas há uma série de editais que ajudam a subsidiar o valor, além de ser possível fazer uma espécie de parcelamento ao longo de todo o processo, o que torna todo o custo mais acessível. “É uma inovação à prestação”, brinca. “É fazer um investimento de acordo com o orçamento mensal da empresa”.
Para a Imunova, essa estratégia funcionou. Além de entender a importância de encarar o mercado a médio e longo prazo, a empresa percebeu que apostar em parceiros pode ser uma ótima alternativa para melhorar resultados. “Se fôssemos tentar englobar a eletroquímica em nossas operações, seria algo muito demorado e o investimento muito maior”, aponta Fávaro. “Não é algo que vai nos dar um retorno imediato, mas algo para 20 anos. É um retorno contínuo”.