| Foto:

Tanto pelo custo da terra, quanto pela limitação de espaços disponíveis para a expansão do plantio, como é o caso do Paraná, a verticalização da produção torna o feijão uma cultura estratégica e garante mais lucro por hectare para o produtor ao longo do ano. Prova disso é o resultado da produção paranaense do feijão 2ª safra, que deve ser recorde se totalizar 417,5 mil toneladas segundo o último levantamento de safra (2018/2019) divulgado pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) no último dia 20 de maio. O volume significa mais que o dobro (56,4%) do registrado na safra de feijão anterior (2017/2018) e é o maior volume desde o início da série da companhia, em 1976. 

Apesar da diversificação de culturas ser uma prática historicamente recomendada, entender a terra como um espaço produtivo ao longo dos 365 dias do ano olhando cada ciclo sem abrir mão do manejo para não esgotar o solo é uma forma inovadora de produção. Essa é a proposta da verticalização do espaço para o plantio. E pode ser aplicada em pequenas, médias e grandes áreas. 

 Os principais envolvidos (produtores, cooperativas, sindicatos, autarquias, órgãos do estado e indústrias de sementes e defensivos) concordam que a sustentabilidade da cadeia produtiva do feijão está diretamente ligada à diversificação da propriedade e a verticalização ajuda a preservar o espaço para o plantio do grão. Porém, isso demanda a necessidade de capacitação continuada do produtor. Esses foram os principais assuntos debatidos no evento Do Campo à Mesa, realizado pela Syngenta em parceria com a Frísia Cooperativa Agroindustrial e a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP) em Carambeí – PR, na última semana. 

Cultivo sustentável do feijão e vantagens da verticalização da propriedade foram alguns dos assuntos debatidos durante o evento Do Campo à Mesa, que aconteceu no último dia 20 de maio em Carambeí, PR. 

 Preferência por duas safras 

O produtor de grãos e presidente do Sindicato Rural de Carambeí, Ricardo Wolter, confirma que a verticalização requer preparo para fazer a gestão de mais de uma atividade no mesmo espaço para garantir o bom manejo e o cumprimento das janelas de plantio. A maneira como Wolter planeja as atividades em seus 800 hectares ilustra uma forma de garantir a sustentabilidade da cadeia produtiva do feijão bem como da rentabilidade da propriedade. “Planto feijão, soja, milho, aveia cevada e trigo, culturas de inverno e verão. Dentro do meu planejamento, reservo 150 hectares do cultivo das safras das águas (1ª safra, entre agosto e outubro) e da seca (2ª safra, entre janeiro e março) para a produção do feijão, respeitando a janela”, revela. “Assim como outros produtores dos Campos Gerais, não tenho mais nada da 2ª safra de feijão na lavoura, já está tudo no barracão ensacado (veja a foto)”, acrescenta. 

 De acordo com o monitoramento da cadeia produtiva do feijão feito pelo Sistema Faep com dados do Deral/Seab (Departamento de Economia Rural da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento) e IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a decisão de priorizar duas das três safras é o caminho escolhido por boa parte dos produtores paranaenses. Dos 328 municípios que cultivam o feijão, 224 plantam duas safras, 68 plantam uma e 36 plantam as três. A safra de Inverno (3ª safra, que acontece entre maio e junho), acaba deixando de ser interessante na comparação com outras culturas mais rentáveis. 

 O produtor rural Geraldo Slob, que já aderiu à verticalização em seus 2 mil hectares de área, destaca que aliar o cultivo do feijão a outras atividades garante sustentabilidade financeira a uma cultura que alimenta a família. “Além de não ser uma commodity, o feijão é um produto de mesa, que o produtor trata como uma horta, mas que apresenta um risco muito grande por conta da instabilidade de preços que, por vezes, não cobrem os custos. Quem planta feijão é porque gosta da cultura”, afirma o produtor que recomenda a verticalização da propriedade de cultivo de feijão como uma alternativa altamente rentável. 

Produtores da região dos Campos Gerais que optaram pela verticalização já estão com a 2ª safra ensacada. 

 Sustentabilidade aplicada ao cultivo 

A inclusão de novas atividades para aumentar a rentabilidade do produtor rural é interessante tanto para as cooperativas quanto para o produtor que busca manter a propriedade produtiva para as próximas gerações. Algumas cooperativas possuem programas de orientação aos cooperados com o propósito de melhorar e incrementar a gestão das fazendas e a sucessão das propriedades. “A sustentabilidade da cadeia também passa pelo entendimento de como iremos entregar a terra para as gerações futuras e isso inclui tanto a preservação dos recursos naturais quanto a remuneração da atividade para que ela seja interessante”, defende o presidente da Frísia Cooperativa Agroindustrial, Renato Greinadus. 

 A pesquisa com foco em aumento substancial de produtividade também é um pilar da sustentabilidade da cadeia produtiva do feijão, bem como o uso racional de defensivos. Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Iapar (Instituto Agronômico do Paraná) e Syngenta têm investido em desenvolver cultivares com ciclos mais curtos, mais resistentes às pragas, e até tipo exportação, visando novos mercados. Para o gerente de marketing das culturas de trigo, arroz e feijão da Syngenta do Brasil, Marcelo Alves de Souza, não há como abrir mão da agricultura tradicional quando o assunto é ganho de escala na produção de alimentos. “Ainda mais em países tropicais onde a proliferação e mutação de pragas é um desafio que o produtor de climas temperados não enfrenta. O que vale é o uso racional e eficiente dos defensivos e o desenvolvimento de sementes mais resistentes”, pondera. 

 

Marcelo Alves de Souza, gerente de marketing das culturas de trigo, arroz e feijão da Syngenta do Brasil, defende agricultura tradicional atrelada à questão ambiental e à sustentabilidade 

Com o objetivo de promover uma agricultura tradicional sustentável, o projeto Centro-Sul de Feijão e Milho foi criado em 1989. Fruto da parceria entre Syngenta, Emater (Empresa de Assistência e Técnica e Extensão Rural), Iapar e Embrapa, o projeto capacita e difunde tecnologias e boas práticas agrícolas que proporcionam ganhos de produtividade, qualidade de renda a pequenos produtores de feijão e milho em 66 municípios do Paraná e cerca de 130 mil produtores. “O objetivo é capacitar o agricultor da melhor forma possível para que ele possa extrair o máximo da cultura do feijão e do milho atentado para o manejo adequado do solo”, comenta Souza. No feijão, a produtividade média das áreas que participaram do projeto na safra 2017/2018, aumentou em 1,5 vezes no Paraná.