“O mundo real necessita de presença. Co-labor-ação é trabalhar juntos na ação, é arregaçar as mangas”.| Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

A Economia Colaborativa é, na minha opinião, toda iniciativa que beneficia o conjunto de pessoas envolvidas, é inclusiva e não excludente. Mesmo antes de chamarmos dessa forma, toda vez que negociamos algo com alguém, ou alguma empresa na famosa relação ganha-ganha estamos fazendo Economia Colaborativa. Sempre que identificamos as necessidades dos nossos parceiros, para que possamos obter o que precisamos e oferecer ao outro o que ele precisa, estamos sendo colaborativos. Pensando dessa forma, muitas negociações podem até não envolver dinheiro, pois estamos nutrindo um ecossistema com o que ele precisa. 

Eu atuo como intraempreendedor (aquele funcionário que empreende dentro de uma empresa) desde 2002 e meu olhar sempre foi voltado para a colaboração. Sugeri e apliquei mudanças nas rotinas de trabalho tendo em vista o benefício de todos, não bastava melhorar a minha atividade. Isso fez com que eu fosse valorizado dentro das empresas e promovido. Em 2012 eu conheci o trabalho da Lala Deheinzelin, na época chamado de Visão 4D (hoje Fluxonomia) que me ajudou muito a sistematizar esse pensamento que, para mim, era natural. Em 2013 fiz a formação em Visão 4D e, desde então, minhas ações são pautadas levando em conta as Dimensões Cultural, Ambiental, Social (de onde nasce a Colaboração) e a Financeira. 

Moda e colaboração 

Desde 2014 co-organizo em Curitiba dois eventos: a Semana de Economia Criativa e Colaborativa e o Fashion Revolution, ambos eventos gratuitos de uma semana, com pelo menos 20 atividades, palestras e workshops sobre empreendedorismo, comunicação, sustentabilidade e inovação. Só conseguimos realizá-los porque existe interesse por parte da sociedade nesse tipo de conteúdo e pela disposição dos agentes, de cada área, em oferecer seu tempo e conhecimento em prol do bem comum. 

Realizamos recentemente o primeiro Hackathon de Moda em Curitiba, com apoio da Prefeitura e do Vale do Pinhão. Nosso objetivo foi fomentar a inovação na cidade, tendo em vista que o setor inova pouco ainda no Brasil. A maior parte de negócios criativos no segmento são cópias do que vemos em São Paulo e Rio ou outros países. Sabemos que 70% dos empregos do futuro ainda não existem e, portanto, os de hoje estão fadados a desaparecer. As academias ensinam com base em conhecimento do passado, o que não faz sentido. Precisamos instigar, não só a Moda, mas todos os segmentos a reinventar o futuro. E a Fluxonomia auxilia no desenvolvimento de ideias éticas e sustentáveis e, sem dúvida, colaborativas. O apoio da Prefeitura, SEBRAE, dos acadêmicos e empresários que colaboraram com a iniciativa, mostra o quanto é importante a interação da população, o poder público e a iniciativa privada igualmente para que a inovação aconteça de fato. 

Atualmente trabalho em parceria com a AAB Design e Moda da Designer Aline Andreazza Bussi. Colaboro com a parte de metodologia de desenvolvimento de negócios. 

Sobre ser colaborativo de fato 

O nosso sistema industrial, capitalista e meritocrata, que se difundiu na nossa sociedade moderna pressupõe que o sucesso é para poucos, que não há lugar para todo mundo, que a competição é algo positivo. O que temos visto é um sistema destrutivo, tanto do ponto de vista moral (veja nossa política) quanto do ponto de vista ambiental, cuja degradação já atingiu níveis insustentáveis. Somente o pensamento colaborativo responsável, oriundo da compreensão de que tudo que eu faço afeta o outro e retorna para mim é capaz de gerar iniciativas, negócios, ações mais benéficas. Mas, não basta querer implementar uma ação colaborativa ao reunir pessoas com o mesmo propósito, isso um “clube de investimentos” também faz. É preciso uma mudança, uma transformação profunda na nossa cultura da competitividade. Onde o outro é parte do jogo, e não meu adversário. 

O maior problema dessas novas visões de futuro que temos promovido, passa pela falta de análise das necessidades individuais. Comunicar um propósito comum é relativamente fácil, quando este faz sentido. A grande dificuldade é saber se essas ações satisfazem os indivíduos igualmente. Quando nos reunimos, por exemplo, para realizar uma compra coletiva, ou uma horta urbana, os que não são beneficiados de imediato poderão criar um sentimento de exclusão, isso não é bom para o coletivo. É preciso pensar em todos os envolvidos, pois só assim mantemos uma colaboração efetiva ao longo do tempo. 

Em Curitiba temos um problema cultural, decorrente da forma que a cidade se desenvolveu, através de colônias de etnias muito diversas, formando o que chamamos hoje de “panela”, grupos que se identificam por algumas semelhanças, se fecham, excluem e morre com o tempo. Não é raro na história da cidade, coletivos dos mais diferentes ramos que não conseguiram sobreviver por mais de dois anos. 

As redes sociais só pioraram este nosso aspecto. Hoje eu curto e compartilho algo do meu colega e acho que estou ajudando, que já fiz minha parte. Mas o mundo real necessita de presença. Co-labor-ação é trabalhar juntos na ação, é arregaçar as mangas. 

Um outro ponto muito importante da colaboração: a diversidade é riquíssima. Ter um grupo fluído (que se expande e se contrai, sem se desfazer) e diverso mantém vivo o movimento. Por isso, “se abrir” é algo muito importante.