Estima-se que algo em torno de 25% a 33% dos alimentos produzidos anualmente se perdem por motivos diversos (produção, pós-colheita, armazenamento e logística) ou são desperdiçados. Em números brutos, trata-se de 1,3 bilhão de toneladas – 30% de cereais, entre 40 e 50% de raízes, frutas, hortaliças e sementes oleaginosas, 20% de carnes e produtos lácteos e 35% de peixes. Os dados são da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
O relatório “Índice de Desperdício de Alimentos 2021” indicou que 17% da produção total de alimentos do mundo foi para o lixo. As informações foram levantadas pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e pela ONG britânica, WRAP, reconhecida pela atuação em sustentabilidade. Segundo o estudo, as famílias lideram esse desperdício de alimentos, com 61% do total.
E há um paradoxo a ser solucionado: enquanto os alimentos são perdidos nas residências, existe uma margem de pessoas que vivem em situação em insegurança alimentar: somente no Brasil, 19 milhões de pessoas viviam em condição de fome no ano passado, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil, elaborado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Pensann). Conforme a FAO, o aproveitamento desses alimentos permitiria ao país reduzir a fome para 95% das pessoas nesse quadro.
Organização e planejamento
Na avaliação da nutricionista Aline Quissak, pesquisadora científica e professora do Centro Europeu, o primeiro passo para aproveitar melhor os alimentos em casa é se organizar. “Além da questão do desperdício, trata-se de um aspecto financeiro e também do equilíbrio entre saúde e meio ambiente. As palavras-chave são planejamento e organização”, diz a nutricionista, citando a necessidade de adaptar esse cuidado à rotina.
A sugestão de Aline está em comprar alimentos não perecíveis uma vez por mês ou a cada dois meses e os perecíveis uma vez por semana. “Dessa forma, compramos na quantidade necessária e os alimentos estão sempre fresquinhos. Se for possível comprar dos produtores locais, diminuímos os aspectos logísticos e estamos contribuindo para o meio ambiente”, diz.
A escolha por ser mais saudável também se reflete em ser mais sustentável. “Se eu me alimento bem e estou mais saudável, necessito de menos remédios, consequentemente, diminuem as embalagens de papel e alumínio. Além disso, se os hormônios estão equilibrados, a ansiedade é reduzida, fazendo com que não haja necessidade de descontar em alimentação fast food, reconhecidamente cadeias que não são sustentáveis”, avalia a nutricionista.
Dicas para evitar o desperdício de alimentos em casa:
Organize sua rotina – Ao ter uma rotina mais planejada e constante, torna-se mais simples aproveitar todos os alimentos comprados e evitar o desperdício.
Não compre alimentos já picados – Muitos supermercados vendem frutas já cortadas. Apesar da facilidade, não é uma prática sustentável. Além de estarem em embalagens com isopor e plástico, as frutas já cortadas envelhecem mais rápido: “Vão oxidando e perdendo os nutrientes”, explica Aline.
Aposte nas frutas e verduras da estação – Procure descobrir quais são os vegetais da estação. Caso desconheça, basta prestar atenção nos orgânicos. “Eles prezam pela sazonalidade”, esclarece a nutricionista. “As frutas e verduras em grande escala imitam condições ideais para que ela cresça ao longo do ano”, ressalta.
Congele os alimentos – Caso algum alimento esteja começando a passar do ponto, é possível congelá-los. Segundo a nutricionista, se forem congelados crus, os vegetais e frutas duram até 6 meses. Os já cozidos podem ser mantidos entre 6 e 10 meses. Alimentos já prontos – como marmitas caseiras – podem ser reservados por até três meses.
Aproveite as cascas – Verduras e frutas com cascas mais ralas – como cenoura e batata – não precisam ser descascadas. As cascas mais grossas – como da laranja ou limão – podem ser secas ao ar livre ou ao forno e se tornarem chás. No caso dos ovos, é possível fazer compostagem e até mesmo aplicar nas plantas de sua residência, inclusive nos temperos.
Invista em temperos caseiros – Mesmo em apartamentos pequenos, é possível ter vasos com os temperos mais usados na cozinha. “É super bem-vindo, pois evita o desperdício ao usarmos apenas o necessário”, diz Aline.
Aproveite os talos e as ramas – Não abra mão das ramas – é mais fácil de encontrá-las nas feiras do que em supermercados. A da cenoura, por exemplo, têm mais ferro do que outros alimentos que conhecemos para a anemia, além de conter selênio e vitamina A, que têm propriedades anti-inflamatórias. No caso de brócolis e couve-flor, o talo em cubos pode ser usado em sopas, refogado de legumes ou em uma torta.
Aprenda a higienizar os alimentos
- Retire partes estragadas e folhas amareladas;
- Passe sob água corrente para remover sujeiras visíveis;
- Deixe 15 minutos de molho em solução com 2 colheres de sopa de vinagre de álcool ou de maçã para 1 litro de água;
- Enxágue em água corrente;
- Seque bem antes de guardar, especialmente as folhas e frutas vermelhas. Apenas não faça isso com cogumelos.
Saiba como armazená-los
Legumes – Depois de lavados e secos, basta mantê-los na gaveta da geladeira. No caso de batatas, cebola e alho, eles devem ficar em temperatura ambiente.
Folhas – Intercale as folhas com papel-toalha ou materiais absorventes para remover a umidade. O ideal é guardá-los em um recipiente que possa ser tampado e consumir em até 10 dias para manter as folhas crocantes e verdes.
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