A produção de lixo per capita no Brasil saltou de 348 para 379 quilos por ano entre 2010 e 2019, o equivalente a 9%, de acordo com o Panorama 2020, produzido pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Na prática, é como se cada brasileiro produzisse mais de 1 quilo de resíduos por dia, entre materiais orgânicos e recicláveis. No total, a geração de resíduos sólidos urbanos saiu de 67 milhões para 79 milhões de toneladas por ano no mesmo período.
O estudo também indica que a atual coleta de resíduos passou de 88% para 92% entre 2010 e 2019. Apesar de menos de 10% do lixo não ser recolhido, a Abrelpe indica que, em 2019, apenas 59,5% dos resíduos tinham destinação adequada em aterros sanitários – o restante era direcionado para aterros controlados e lixões.
Cidadão é parte integrante do processo de reciclagem
Embora o poder público seja responsável pela destinação final dos resíduos, o cidadão é parte integrante deste processo e deve iniciar esse cuidado em sua casa.
“Cada pessoa é um ator muito importante neste ciclo. Hoje, a maioria das pessoas na sociedade tem uma postura muito confortável. É preciso que, cada vez mais, tenham noção de seu papel e como a sua atitude vai refletir no reaproveitamento destes materiais”, explica a professora de Engenharia Ambiental da UFPR, Ana Flavia Locatelli Godoi.
O presidente do Isae, Norman de Paula Arruda Filho, afirma que essa atitude precisa ser inspirada por lideranças, sejam elas públicas ou privadas. “Essas questões brotam naturalmente e fazem parte de um processo natural de evolução, da cidadania urbana. É uma questão de referência”, diz. “As pessoas precisam ser ensinadas sobre a importância de destinar os resíduos para as cooperativas. Há necessidade de conhecimento e orientação para mudar esse padrão de comportamento”, acrescenta.
Na avaliação de Ana Flavia, a sociedade brasileira já tem o conhecimento necessário para contribuir com o processo de reciclagem. Há, porém, falta de empatia de muitas pessoas. “Não falta informação, mas empatia para se enxergar como parte da sociedade como um todo”, analisa.
Cobrança pela geração de lixo no horizonte
A exemplo do que ocorre em países desenvolvidos, como Suécia ou Holanda, o Marco Legal do Saneamento prevê que, até 15 de julho, os municípios apresentem uma proposta que garanta a sustentabilidade econômico-financeira dos serviços de coleta e tratamento de resíduos. Segundo o Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento, apenas 47% das cidades cobram pela prestação desse serviço, mas as receitas não arcam nem com a metade dos custos.
Em um material de apoio para gestores implantarem terem processos sustentáveis no manejo de resíduos urbanos, o governo federal afirma que o “Serviço Público de Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos deve ser custeado mediante cobrança individualizada de taxas específicas ou de tarifas dos seus usuários”, diz. Portanto, é provável que, em breve, os municípios instituam taxa específica para garantir o recolhimento e destinação adequada dos resíduos coletados.
Para a professora da UFPR, a cobrança de uma taxa é fundamental para que as pessoas possam se conscientizar. “Nas experiências que tive fora do país, percebi que a fiscalização e o controle auxiliam demais nesse sentido. Precisamos começar, e o poder público precisa fazer valer seu papel, com exemplo e com incentivos para que se desenvolvam atitudes diferentes”, diz. Ela reforça, no entanto, a necessidade de o poder público investir em conscientização para que essa mudança seja bem-sucedida.
Dicas para cuidar melhor dos seus resíduos
Visite um aterro sanitário ou um barracão de separação de resíduos – É interessante conhecer para onde são levados os nossos resíduos ou como funciona o trabalho de um barracão de separação de resíduos. “Precisamos pensar para onde as embalagens vão depois. Falta esse tipo de consciência em nossa sociedade”, diz a professora Ana Flavia.
Tenha duas lixeiras em casa – Use uma para resíduos orgânicos (restos de alimentos ou úmidos) e a outra para os recicláveis (embalagens ou secos). Se possível, separe os materiais nobres – como latinhas ou vidro –, pois há cooperativas ou condomínios que já fazem o aproveitamento destes materiais.
Separe o lixo. Tem dúvida? Considere como reciclável – Para muitas pessoas, é muito difícil saber entre o que pode ou não ser reciclado. A dica da professora é: ficou com dúvida se o reaproveitamento é possível? Considere como reciclável. Caso seja direcionado ao aterro sanitário, dificilmente será reaproveitado.
Retire possíveis sobras e lave ou limpe as embalagens – A professora orienta a deixar embalagens de molho, iogurte, entre outras, dentro da pia quando for lavar a louça. “Não estou usando a água exclusivamente para isso, mas facilito o trabalho daqui para frente”, diz.
Composteira – Tem um jardim? Os resíduos orgânicos podem se tornar adubo. Há diversos tutoriais ensinando como reaproveitar os resíduos para esse fim.
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