A forma de socialização entre os jovens mudou muito nas últimas décadas. Se antes os encontros e conversas aconteciam nas escolas, depois da aula e nos fins de semana, hoje eles estão em contato o tempo todo pelos aplicativos de bate-papo e por meio das redes sociais.
Além da maneira de se relacionar, o ambiente social e de entretenimento das gerações que já nasceram conectadas também mudou: tudo é digital. A forma de consumir música, arte e lazer não é a mesma. A televisão – principal forma de entretenimento das últimas gerações de jovens – vem perdendo espaço para os canais de streaming. Outra grande mudança são os ídolos: músicos e atores perderam espaço para youtubers, instagrammers e influencers. A vida hoje acontece pela internet.
Nesse novo cenário – totalmente globalizado e conectado – a barreira da língua atingiu um novo patamar: dominar o inglês passou a ser imprescindível não apenas para alcançar uma boa colocação no mercado de trabalho, mas para os jovens a língua significa também conseguir socializar e acompanhar as tendências.
Se antes para saber mais sobre um ator gringo, por exemplo, era preciso um certo trabalho e tempo: comprar revistas, ir ao cinema, trocar informações com os amigos –, agora os jovens têm a sua disposição todo o tipo de informação que buscam e podem, inclusive, acompanhar passo a passo das vidas de seus ídolos, muitas vezes em tempo real.
Para Karina A. R. Fernandes c. de Moraes, que é doutoranda em estudos linguísticos pela UFPR e professora no curso de letras na PUC-PR, é seguro afirmar que dominar a língua inglesa é sim um requisito para a socialização da atual geração de crianças e jovens. “Muito do mercado de entretenimento ainda não possui traduções em diversas línguas, o que é mais atual, de última geração, geralmente está em inglês, e saber das últimas novidades tecnológicas, musicais, notícias, pesquisas faz parte da inserção social”, observa.
A infância e a adolescência são as melhores fases para quem quer aprender um novo idioma. Como as habilidades de aquisição de conhecimento estão em desenvolvimento, a absorção do aprendizado é muito mais efetiva. Outra grande vantagem é que o inglês faz parte da vida dos jovens e, com isso, vão entrar em contato com um vocabulário que já estão familiarizados e que tem interesse em aprender mais.
“Eles com certeza aprendem diferente de gerações passadas em que o acesso à língua era mais escasso e acontecia por livros didáticos, CDs, fitas e uma ou outra transmissão televisiva. Os assuntos não eram tão motivadores, então a aprendizagem era mais pela necessidade do que pelo interesse”, reforça Karina.
Hoje, o que se vê é outro cenário: o acesso rápido e fácil aos conteúdos em inglês auxilia muito na aprendizagem dos jovens. “Eles primeiramente são motivados pelos assuntos, temas, jogos e afins. Essas motivações fazem com que eles queiram poder acompanhar o que está acontecendo, então a vontade de aprender é muito grande, fazendo com que eles mesmos busquem entender a língua”.
Esse foi o caso da estudante Lorena Mingoti Oliveira, de 15 anos, que conta que aprendeu Inglês “na marra”. Ela teve acesso apenas às aulas da grade curricular do seu colégio, e nunca fiz aulas particulares. “Aprendi muito com jogos, navegando nas redes sociais e assistindo vídeos com legenda. Meu nível de inglês pode ser considerado bom, eu entendo, na maioria das vezes, 100% do que escuto e leio.
É na internet que a Lorena passa grande parte do seu tempo de lazer e, por isso, dominar a língua era questão de “sobrevivência”. “Uma imensa parcela do conteúdo na internet é em inglês, e a maior parte das pessoas, mesmo de países diferentes com línguas diferentes, adotam o inglês como língua padrão de comunicação nas redes”, explica a jovem, que conta que acompanha muitos artistas pela internet, como a Cyarine e o Ross Draws e também youtubers como Pewdiepie, The Try Guys, Jenna Marbles e Drew Gooden. “Alguns desses não são de países com a língua padrão sendo inglês, mas o conteúdo inteiro deles é em inglês.”
Estrangeirismos e neologismos
Karina explica que tanto o estrangeirismo – adotar palavras de outras línguas – quanto o neologismo – criar novos verbetes – são fenômenos que acontecem devido a inserção não somente da língua em si, mas também da cultura que a envolve. “Cada vez mais a cultura norte-americana e europeia está presente na vida dos brasileiros. Com isso, muitos termos passam a entrar automaticamente nas falas diárias. Acredito que isso só tende a aumentar.”
Conversando com qualquer adolescente é fácil comprovar essa tendência. Beatriz Cortazio Hummel, que tem 20 anos, conta que onde mais usa o inglês é na internet. “Acompanho também bastante youtubers estrangeiros e várias páginas gringas, então uso bastante o inglês no dia a dia.” Fazem parte da sua linguagem com os amigos palavras e expressões que, para eles, é quase como se fizessem parte da nossa língua, tamanha a naturalidade que usam. Entre elas, a menina destaca sorry, match, oh my god e thanks.