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Adoção da logística reversa é instrumento de proteção ao meio ambiente e de fomento à economia social

HAUS
11/08/2022 15:21
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Pontos de entrega voluntária (PEVs) costumam fazer parte de estratégia de logística reversa de empresas, como a Tintas Verginia. | Divulgação

Você já parou para pensar no quanto de material despejamos no lixo todos os dias? Em média, cada brasileiro descarta pouco mais de um quilo de resíduos sólidos diariamente. De uma forma isolada, pode até parecer pouco, mas a geração anual de material descartável no Brasil ultrapassa a marca de 82 milhões de toneladas. Deste total, quase 40% é despejado em locais inadequados.
Os dados, compilados pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), também apontam para um cenário de reciclagem longe de ser positivo. Os resíduos recicláveis representam um total de 27 milhões de toneladas, mas apenas 4% de todo esse material é encaminhado para a reciclagem, deixando o país bem atrás de vizinhos como o Chile e a Argentina, com índices que alcançam uma média de 16%, e de países como a Alemanha, Coreia do Sul e Bélgica, que reaproveitam mais da metade dos resíduos recicláveis gerados.
A construção civil, no geral, também é um grande gerador de resíduos. De acordo com a ABRELPE, foram recolhidos no ano de 2020 um total de 47 milhões de toneladas de resíduos de construção e demolição. Entre esses materiais estão tijolos, azulejos, vidro, gesso, madeira, plástico, tintas, solventes, pincéis, telhas, enfim, tudo aquilo que faz parte de uma obra. E assim como os resíduos sólidos urbanos, muito pouco desse material é destinado para a reciclagem.
Um caminho para um cenário mais próximo do ideal é a adoção da logística reversa, um instrumento que tem como principal objetivo fazer com que os resíduos recicláveis retornem para o ciclo produtivo – ou que, na impossibilidade disso acontecer, eles sejam destinados corretamente.
E quem ganha com isso? “De um modo geral, o meio ambiente e a economia. Veja o trabalho que deu pra tirar esse material da natureza, o petróleo que foi utilizado para a produção de polímeros plásticos, por exemplo. Por que não reaproveitar? E no caso da logística reversa de embalagens, você tem uma gigantesca cadeia de associações e pessoas que ganham a renda delas com o material reciclável”, explicou Rafael Cesar da Costa, coordenador de Projetos do Instituto Paranaense de Reciclagem (InPar), uma entidade sem fins lucrativos que trabalha com sistemas de logística reversa de embalagens pós-consumo.
Para se ter uma ideia, o setor de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos gerou mais de 330 mil postos de trabalho entre 2020 e 2021. “É um impacto ambiental e social”, acrescentou.

Previsto em lei

Desde 2010, com a promulgação do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, empresas de determinados setores passaram a ter a obrigatoriedade de aderir a sistemas de logística reversa. “A Política Nacional de Resíduos, no artigo 33, determinou a obrigatoriedade para alguns setores específicos, como de embalagens de agroquímicos, que já possuíam leis anteriores, além de pneus, embalagens de óleos lubrificantes, lâmpadas, pilhas, baterias e eletroeletrônicos”, detalhou Rafael.
Existem diferentes formas de promover a logística reversa. A mais conhecida do público é através da instalação de pontos de coleta voluntários, que podem ser implantados nos pontos de venda ou até mesmo em outros locais em que a população tenha acesso. Como é possível perceber, o consumidor também tem sua parcela de responsabilidade para que a cadeia de reciclagem seja de fato completa.
Quando há dificuldade de recuperar o material reciclável, há outras alternativas que permitem o investimento nessa cadeia, como a compensação ambiental. A empresa ou indústria que aderiu a um sistema de gestão de resíduos e logística reversa informa a quantidade de material colocado no mercado. A partir disso é feito um cálculo que define uma cota a ser paga e investida nesse sistema, através do fortalecimento de associações de catadores por meio da compra de equipamentos e investimento na infraestrutura ou em ações de educação ambiental. A forma como esse processo acontece muda de setor para setor.

Case

Tintas, pincéis e rolos entregues pelos clientes da Tintas Vergínia são reaproveitados em ações sociais da marca.
Tintas, pincéis e rolos entregues pelos clientes da Tintas Vergínia são reaproveitados em ações sociais da marca.
As empresas, mesmo aquelas que não possuem obrigatoriedade, aos poucos têm se conscientizado da necessidade de levarem em consideração a pauta em seus planejamentos. Um exemplo local é a Tintas Verginia, que desde 2019 promove o Coleta Colorida, um programa de logística reversa com latas de tinta vendidas nas lojas da marca. A iniciativa foi pioneira entre as empresas do setor de tintas. “Os lojistas e os próprios fabricantes sempre tiveram medo de encarar essa questão pela crença de que era complexo. Mas decidimos testar e ver no que ia dar”, conta Eduardo Bathke, gerente de Estratégia e Projetos da Tintas Verginia.
Após um bem-sucedido teste em uma das unidades, o projeto foi expandido e, atualmente, existem onze pontos de coleta de latas de tintas e outros materiais relativos ao processo de pintura, como rolos e pincéis. Além disso, há toda uma estratégia de comunicação para informar os clientes sobre o descarte consciente. A intenção é mostrar que se o consumidor não pode doar o resto de tinta que sobrou ou não tem um local para o correto descarte das latas vazias, ele pode levar o material até uma das unidades da empresa curitibana, que por sua vez fará a devida destinação desse resíduo.
Cada item passa por um determinado processo de destinação. Restos de tinta que ainda podem ser aproveitados, por exemplo, são reciclados na produção de novas tintas, usadas em manutenções e em iniciativas sociais. As latas são enviadas a uma unidade de tratamento parceira para novamente serem transformadas em insumos.
Em cinco anos, a expectativa da empresa é de que cerca de 20% de tudo que é vendido pela marca seja reciclado através do Coleta Colorida. O projeto consegue, inclusive, atrair o descarte de materiais que não são vendidos pela loja. “A gente viu que muita gente deposita latas de marcas que a gente nem vende. Ou seja, compraram em outro lugar mas vieram depositar conosco”, destaca Eduardo.
A marca disponibiliza mais informações sobre o projeto no site .

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