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13 vezes em que o PT resolveu se mudar para o mundo invertido

Oposicionistas enfrentam forças do governo em Caracas: para o PT, são “informações distorcidas pela mídia”. | Federico Parra/AFP
Oposicionistas enfrentam forças do governo em Caracas: para o PT, são “informações distorcidas pela mídia”. (Foto: Federico Parra/AFP)

“É visível que o governo golpista decidiu encabeçar uma campanha da direita contra a esquerda no continente e assumiu uma postura belicista, particularmente contra a República Bolivariana da Venezuela”, diz o documento assinado pelo presidente nacional do PT, Rui Falcão, e pela secretária de Relações Exteriores, Mônica Valente.

O PT, como era esperado, afirma que não há uma ditadura imposta por Nicolas Maduro e diz que o governo Temer “aproveita-se de informações distorcidas disseminadas pela mídia para tentar justificar as medidas contra o país vizinho, inicialmente, suspendendo-o do Mercosul”.

Negar o óbvio não é algo inédito para a legenda. Por isso, além do (1) apoio à Venezuela, listamos mais 12 vezes em que o Partido dos Trabalhadores simplesmente preferiu deixar de lado qualquer conexão com a realidade.

(2) A Constituição de 1988

O posicionamento do PT em relação à Constituição de 1988 é sempre lembrado por opositores para citar uma suposta irresponsabilidade da legenda. Lula, na época deputado constituinte, justificou porque o partido votou contra o projeto do relator Bernardo Cabral. “Queríamos uma (Constituição) mais forte, mas não foi possível”, afirmou o ex-presidente que, anos depois, elogiou o texto: captava “a alma daquilo que os brasileiros queriam construir”.

A argumentação de que o partido não assinou a Carta, como recorrentemente acusam opositores, é inverídica. Em 2010, aliás, o ex-deputado José Genoíno chegou a bradar durante uma sessão na Câmara: “Não podemos mais aceitar essa mentira recorrente da oposição de que o PT não assinou a Constituição de 88”.

De fato, os parlamentares petistas a assinaram, mas tudo não passava de formalismo, de uma exigência legal. Eles, porém, se recusaram a participar da homologação coletiva da Constituição. Ou seja, quando lhes foi dada a oportunidade de reconhecê-la, escolheram negá-la.

(3) Contrários ao Plano Real

Em sua concepção o “Plano Real” não foi uma unanimidade: o Brasil recém passara por uma infinidade de planos econômicos mal sucedidos e havia um clima de desconfiança quanto a uma nova investida econômica.

Neste cenário, tanto o PT como centrais sindicais eram as principais frentes de oposição, mas houve resistência também dentro da própria base governista, tanto que foram precisos mais de dois meses de negociações para que a medida que criou a URV (unidade real de valor) fosse aprovada, poucas semanas antes do prazo final estipulado para a troca de moeda.

Um ano após a implantação, a inflação beirava 14% - número insignificante perto do índice de 1093,8% de 1994. De qualquer forma, na época, a alternativa era aceitar o plano ou morrer abraçado na hiperinflação.

(4) A Lei de Responsabilidade Fiscal

Se há um benefício que o brasileiro confere aos políticos é sua curta memória. Porém, em maio de 2010, durante evento que comemorava os 10 anos da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), o então ministro da Defesa do governo Lula, Nelson Jobim, relembrou o posicionamento do partido na época da aprovação da LRF. “O PT foi contra o texto, Palocci (ex-ministro da Fazenda) também foi. Está vendo como é bom ter memória?”, questionou.

Jobim lembrou ainda que o PT e outros partidos entraram com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) no Supremo Tribunal Federal (STF): “Entendiam que teria havido alteração no Senado e que o projeto deveria ter voltado à Câmara”.

(5) Rejeitando o Bolsa Escola (para depois criar o Bolsa Família)

Criado em meados de 2001, o programa objetivava a transferência de recursos para a manutenção de crianças nas escolas; dessa forma, elas não precisariam trabalhar, já que para ter acesso ao benefício era preciso apresentar uma frequência mínima de 85% e estar dentro de limites de renda pré-estabelecidos.

A origem do programa ainda gera controvérsias: em 1986, quando era reitor da Universidade de Brasília, Cristovam Buarque, então filiado ao PT, o idealizou. Já em 1995, como governador do Distrito Federal, ele foi implantado com o nome “Bolsa-Educação”. No mesmo ano, José Roberto Magalhães Teixeira (PSDB), prefeito de Campinas, também instituiu o “Bolsa Escola” com o nome de “Programa de Garantia de Renda Familiar Mínima” (PGRFM) na cidade paulista.

De qualquer forma, nacionalmente, o PT sempre se posicionou contrário ao programa. Marta Suplicy, prefeita de São Paulo, criou inúmeras dificuldades à implantação da iniciativa na capital paulista, a Prefeitura de Pelotas (RS), chegou a afirmar não se interessar pelo Bolsa Escola e o presidente interino do partido, José Genoíno, o chamou de “Bolsa Esmola” – nomenclatura reaproveitada pelo PSDB nos anos seguintes para se referir ao “Bolsa Família”.

(6) Elegendo “postes”

“Se eu quiser, meu filho, elejo até um poste”. O criador da célebre frase foi Antônio Carlos Magalhães, no auge de seu poder, ainda na década de 80.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a incorporou ao seu vocabulário e, por muito tempo, ninguém duvidou de sua capacidade em transferir sua popularidade e transformá-la em votos.

Mas em determinado momento esse suposto poder perdeu força. O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) chegou a brincar com a situação em meados de 2009 e profetizou: “Dizem que Lula elege até poste. Mas será que elege poste apagado?”.

Dilma, Haddad e Padilha, os “postes” sem experiência política ungidos por Lula para vencer eleições importantes, dariam continuidade a permanência do PT no poder. No Paraná, ele chegou a apostar (e insistir) em Gleisi Hoffmann.

Tudo caminhava conforme o roteiro previsto até junho de 2013, quando multidões tomaram as ruas em protestos contra os políticos – entre eles, Dilma e Haddad. No fim, pouco ou nada deu certo, Padilha não fez frente ao PSDB na disputa pelo governo de São Paulo, Haddad perdeu a Prefeitura da principal cidade do país ainda no primeiro turno e Dilma sofreu impeachment.

(7) O bom filho à casa torna

Expulso do PT em 2005 devido ao envolvimento no escândalo do mensalão, o ex-tesoureiro Delúbio Soares teve a sua refiliação à legenda aprovada em abril de 2011 pelo Diretório Nacional do partido.

Para autorizar o retorno do ex-tesoureiro, o Diretório Nacional analisou uma carta apresentada por Delúbio onde ele argumentava que nunca procurou outra legenda e que se manteve fiel ao PT.

Rui Falcão defendeu o direito de Delúbio retornar, já que no Brasil “não existe prisão perpétua”. Humberto Costa (PT-PE), também se posicionou favorável a Delúbio: “Do meu ponto de vista, até o presente momento, não houve nenhuma condenação formal e o partido não pode dessa forma manter uma pena.”

(8) Amigos, amigos, negócios à parte

Em 2012, por 1 minuto e 30 segundos a mais de propaganda eleitoral, o PT se aliou a Paulo Maluf (PP). Acompanhado por Fernando Haddad, Maluf justificou a parceria.

“Política é como futebol. Quem é palmeirense não gosta do Corinthians, quem é corintiano não gosta do Palmeiras e pode alguém não gostar de mim. Mas ninguém pode dizer que Paulo Maluf como ex-governador e ex-prefeito não conhece como ninguém os problemas da cidade de São Paulo”, disse, afirmando que a parceria estratégica do PP com o PT se devia à participação de seu partido no Ministério das Cidades, desde 2004.

Opinião corroborada por Haddad: “Há 20, 24 anos tínhamos um contexto em que as coisas se comportavam de uma determinada maneira. Hoje temos um projeto político no país que está dando certo que, em um terceiro mandato, conta com apoio do PP”.

(9) Festa da democracia e do desagravo

Anos antes do julgamento do mensalão, o PT realizou inúmeros atos de desagravo. E então pipocavam eventos em defesa de gente como José Genoíno, José Dirceu e João Paulo Cunha.

Depois das condenações, seria óbvio que todo o processo se tornasse uma oportunidade de reflexão e autocrítica para o partido. No entanto, o caminho seguido foi questionar a decisão do STF, colocando-se na posição de perseguidos. E, embora vários membros do PT tenham reconhecido que companheiros da sigla cometeram erros e estavam sendo punidos justamente, a direção da legenda preferiu continuar negando o óbvio.

(10) Não era só pelos R$0,20

A forma como o partido interpretou os protestos de 2013 parece amadora. A quantidade de manifestações, emergidas repentinamente, expressava uma insatisfação significativa com os serviços públicos – ironicamente, claro, esferas municipais e estaduais, que também tinham sua parcela de responsabilidade, não foram atingidas da mesma forma.

O “porém” é que a grande essência delas também trazia à tona uma crise de representatividade política – o que o PT tentou contornar olhando para aquilo que consolidou seu projeto de poder: já temos o eleitorado do “Bolsa Família”, a classe média é historicamente volátil e, invariavelmente, uma parte dela acabaria votando no partido. Já ao empresariado seriam oferecidas isenções para mantê-lo próximo.

No fundo, o PT não percebeu o esgotamento natural de um discurso já batido de retórica triunfalista baseado em “nunca antes na história desse país” ou no “espetáculo do crescimento”.

(11) Lula “primeiro-ministro”

Um dia após a divulgação de conversas envolvendo Lula e Dilma, o ex-presidente tomou posse como ministro-chefe da Casa Civil. Cerca de uma hora depois, o juiz federal Itagiba Catta Preta Neto, da 4ª Vara do Distrito Federal, suspendeu a posse por meio de uma decisão liminar.

Outras decisões semelhantes, em outras Varas de Justiça, também foram proferidas e cassadas por Tribunais Federais, até que, dois dias depois, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes suspendeu definitivamente a nomeação.

“O objetivo da falsidade é claro: impedir o cumprimento de ordem de prisão de juiz de primeira instância. Uma espécie de salvo conduto emitida pela Presidente da República”, afirmou Gilmar na decisão.

Na época, Rui Falcão chegou a chamar Lula de “Ministro da Esperança”. Uma esperança que durou pouco mais que 24 horas.

(12) Dilma e Cabral, a amizade nem mesmo a força do tempo irá destruir, amor verdadeiro

Graças a aliança com o PMDB carioca, Dilma obteve expressiva votação no estado. Durante a campanha, ela circulava ao lado de Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão sem pudor algum. Mas bastou o ex-governador ser preso para que o PT o abandonasse e negasse qualquer envolvimento.

“Sérgio Cabral Filho jamais foi aliado da ex-presidenta da República. Tanto é verdade que, nas eleições presidenciais, ele fez campanha para o principal adversário de Dilma nas eleições de 2014”, tentou justificar a assessoria da ex-presidente, ignorando inúmeros registros fotográficos.

(13) “Caixa dois” não é crime

O relator da proposta de reforma política na Câmara, Vicente Cândido (PT-SP), após reunião com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), desistiu de incluir em seu parecer a tipificação do crime de “caixa 2” (dinheiro não declarado à Justiça Eleitoral).

A tipificação deste tipo de crime já é tratada no pacote anticorrupção aprovado pela Câmara no ano passado. No entanto, o texto ainda aguarda a apreciação dos senadores.

De acordo com Cândido, líderes partidários pediram para que o tema não fosse tratado no projeto. Hoje, partidos ou candidatos que cometam esse tipo de prática só podem ser condenados por outros crimes, como prestação falsa de contas e lavagem de dinheiro.

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