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2020 foi bastante parecido com 1968. Suas consequências para o futuro, contudo ainda são motivo de debate entre historiadores.
2020 foi bastante parecido com 1968. Suas consequências para o futuro, contudo ainda são motivo de debate entre historiadores.| Foto: Pixabay

O ano de 2020 foi chamado de “annus horribilis” —“o ano horrível". Os últimos dez meses certamente foram péssimos.

Mas também foi assim em 1968, quanto Martin Luther King Jr. e Bobby Kennedy foram assassinados. A Ofensiva Tet ganhou força na Guerra do Vietnã e dividiu os Estados Unidos. Protestos raciais e pacifistas tomaram conta das grandes cidades. Os manifestantes enfrentaram a polícia na Convenção Nacional Democrata em Chicago. Um novo vírus, o H3N2 (a “gripe de Hong Kong”) matou cerca de 100 mil norte-americanos.

Mas um 2020 ainda pior testemunhou a epidemia de Covid-19 alcançar proporções pandêmicas em março. Autoridades chinesas enganaram o mundo quanto à origem da doença – sem pedi desculpas.

As autoridades norte-americanas às vezes foram contraditórias ao declarar as quarentenas com algo eficiente ou dispensável. O uso de máscaras foi desestimulado e depois tornado obrigatório. Os pesquisadores não sabiam como o vírus se espalhava, somente que ele podia ser mortal para pessoas com mais de 65 anos e com comorbidades.

As previsões iniciais de que de 1 a 2 milhões de norte-americanos morreriam de Covid-19 levou pânico à população. Mas informações de que a mortalidade não chegaria a 100 mil pessoas a deixou falsamente tranquilizada.

Em abril, uma economia historicamente próspera entrou abruptamente em recessão. Boa parte do país entrou em quarentena com a teoria de se “achatar a curva” de infecção por três ou quatro semanas.

Mas em vez disso as semanas viraram meses. Em pouco tempo, muitas pessoas passaram a acreditar que a destruição econômica e o dano emocional dos lockdowns acabariam por se revelar piores do que o vírus.

Em junho, protestos inicialmente pacíficos pela morte de George Floyd nas mãos da política de Minneapolis se tornaram violentos em algumas cidades. Durante parte do verão e outono, algumas importantes cidades testemunhariam protestos, saques e incêndios diários, enquanto antifas e manifestantes do grupo Black Lives Matter sequestravam a revolta nacional contra a morte de Floyd.

O medo de se infectar, a preocupação com a situação financeira, a ansiedade quanto a sair de casa à noite, a frustação com as semanas de isolamento forçado e o cansaço de uma campanha eleitoral pesada – tudo isso fez com que os norte-americanos ficassem mal-humorados às vésperas de uma eleição essencial.

A eleição presidencial de 2020 provou ser tão revolucionária quanto as quarentenas. A transição nacional para níveis inéditos de voto pelo correio pôs em xeque a capacidade dos estados de contabilizar eficiente os votos, que não mais se enquadrava nos padrões de verificação das eleições anteriores.

A votação em massa, motivada em parte pela quantidade de votos pelo correio, entusiasmou os democratas, mas ajudou a convencer os republicanos de que havia fraude.

Depois de semanas de discussão, Donald Trump perdeu no Colégio Eleitoral. Mas os republicanos desafiaram as previsões dos especialistas e venceram disputas fundamentais na Câmara e Senado. Analistas políticas se perguntam se a esquerda ganhou ao eleger Joe Biden ou perdeu com um resultado decepcionante nas eleições legislativas.

A imprensa, os institutos de pesquisa e as autoridades do governo ficaram, em geral, felizes com a derrota de Trump, mesmo que seu partidarismo e tendenciosidade arruinassem suas reputações.

Pela primeira vez na história norte-americana, por causa dos lockdowns e da ressurgência invernal do vírus, muitas pessoas ficaram sem as festas tradicionais de Thanksgiving ou Natal.

Em meio à morte, destruição e brigas, a história mostrará que os Estados Unidos não foram arruinados.

De uma forma notável, pesquisadores criaram uma vacina segura contra a Covid-19 em menos de um ano – um feito antes considerado impossível por especialistas.

O país entrou em recessão, mas evitou uma depressão. Isso se deu, em parte, porque os Estados Unidos do começo de 2020 estava próspero e em parte porque a administração Trump e o Congresso injetaram US$4 trilhões de liquidez na economia inerte.

Apesar de todas as acusações e contra-acusações de fraude e apesar de Trump ser um mau perdedor, o ex-vice-presidente Joe Biden acabará por assumir o cargo. E Donald Trump o deixará.

Ninguém discute que a campanha e as eleições de 2020 foram anormais. Se elas foram justas e legítimas é algo que será provavelmente avaliado novamente nas eleições legislativas de 2022 e nas eleições gerais de 2024.

Até lá, as pessoas terão tempo de digerir os acontecimentos bizarros deste annus horribilis — e fazer as compensações devidas por meio do voto.

Apesar de todos os problemas nos Estados Unidos, o mundo como um todo esteve em situação pior. A China se orgulha de dizer que reagiu da melhor forma a seu próprio vírus – mesmo diante do efeito dela para a população mundial. A Europa não conseguiu combater a pandemia e viu sua economia piorar.

Mais importante, à medida que o ano termina, há um trecho de céu azul em meio às nuvens carregadas.

O Oriente Médio está prestes a alcançar uma paz histórica. O mundo agora se volta contra o mercantilismo chinês. A fronteira sul dos EUA está mais segura. A entrada de imigrantes ilegais caiu para níveis insignificantes. As estratégias que deram origem a um boom econômico de três anos só precisam ser usadas novamente em 2021.

Em meio à morte e destruição, talvez um dia os historiadores concluirão que o que não matou os Estados Unidos em 2020 só os tornou mais fortes.

Victor Davis Hanson é classicista e historiador do Hoover Institution em Stanford.

© 2020 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês
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