7 vezes que cidadãos cansaram de esperar o Estado e decidiram agir sozinhos

Cansados da inércia e ineficiência do poder público, iniciativas de moradores que se uniram para realizar obras de uso comum estão se tornando populares e cada vez mais frequentes. Entre os exemplos, há desde a revitalização de ruas e parques até pavimentação de vias e construção de pontes.

Se por um lado há quem critique as ações porque, em tese, a administração pública não está cumprindo seu papel apesar de cobrar impostos para isso, por outro esse tipo de iniciativa dá poder a indivíduos e comunidades. São cidadãos que não se mostram passivos à espera das benesses do Estado e que buscam solucionar os problemas de sua rua ou bairro por meio da ação da sociedade civil.

Selecionamos 7 interessantes casos em que isso ocorreu.

1. Ponto de ônibus em Cariacica

Em Padre Gabriel, Cariacica (ES), os pontos de ônibus estavam sem abrigos. Eram estruturas precárias que corriam o risco desabar. Mas nada era feito porque a prefeitura do município afirmava que a competência da construção era da Ceturb, concessionária de ônibus da região. O consórcio, porém, dizia que a competência era da prefeitura.

Diante da transferência de responsabilidades e do jogo de empurra protagonizado pelos órgãos, os moradores do bairro se cansaram e, em 2018, decidiram se reunir para solucionar o problema. Em poucos dias, e com menos de R$ 500, eles construíram um abrigo de alvenaria em um ponto de ônibus e também reformaram  quebra-molas ali perto. Os moradores planejavam fazer o mesmo com os outros 13 pontos de ônibus no bairro.

A prefeitura, no entanto, notificou a associação de moradores para que não fizesse outros abrigos sem a devida autorização.

2. Revitalização de parque no Distrito Federal

A infraestrutura precária e a falta de manutenção de um parque infantil no Distrito Federal levaram os moradores próximos a revitalizarem o local em 2016. O parquinho tinha se tornado reduto de usuários de drogas e moradores de rua. Mas o governo do Distrito Federal, responsável pelo local, nada fez a respeito.

Os colaboradores da quadra 304 Norte tiveram de desembolsar R$ 750 cada para a reconstrução do parque. Foram necessárias cerca de 50 doações de moradores e patrocinadores para cobrir o valor da revitalização do local, orçada em R$ 35 mil. Foram construídos brinquedos mais seguros e modernos e realizadas obras de acessibilidade para pessoas com deficiência.

Na época, a Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sinesp) informou que havia um processo licitatório em andamento que incluía a manutenção deste e de outros parques, mas sem data para ser efetuado. O projeto para a compra de novos kits de parquinhos e brinquedos avulsos estava avaliada em R$ 22 milhões.

3. Revitalização de uma rua em Planaltina 

Em junho deste ano, moradores de Planaltina (GO) se reuniram para fazer uma limpeza, tapar buracos, pintar o meio-fio, além de fazer a sinalização asfáltica e a iluminação de uma rua.

Segundo os organizadores, todos os moradores, sem exceção, contribuíram com doações e com mão-de-obra. Com a melhoria de iluminação, a rua também ficou mais segura à noite.

4. Asfalto em avenida em Ribeirão Preto

Cansados das promessas da prefeitura de Ribeirão Preto (SP), moradores criaram um grupo numa rede social para pavimentar uma avenida. 77 pessoas decidiram contribuir com doações. A via não tinha asfalto e estava cheia de buracos que dificultavam o trânsito das pessoas e veículos.

Após arrecadação e trabalho de voluntários, 200 toneladas de rejeito asfáltico foram comprados para o local, que está em obras. O gasto total foi de R$ 4,2 mil.

Enquanto isso, a Secretaria de Obras Públicas informou que o projeto na avenida está sendo elaborado para abertura de licitação e que a prefeitura busca recursos para que a obra seja realizada.

5 Revitalização de rua em Fortaleza

No Bairro Autran Nunes, em Fortaleza (CE), havia um histórico ponto de depósito de lixo em uma rua atrás de uma fábrica. Para pôr fim ao mau cheiro e sujeira, moradores se reuniram e transformaram o local.

Os moradores se uniram para retirar o lixo da rua e revitalizaram o espaço, além de pintarem os muros. Para tanto, eles contaram com a doação da fábrica próxima ao local.

Com a eliminação do um ambiente de desordem pública, as pessoas pararam de jogar lixo no local.

6. Construção de ponte em Barra Mansa

Após duas décadas de espera para que a prefeitura de Barra Mansa (RJ) construísse uma ponte ligando os bairros de Nova Esperança e São Luiz, moradores realizaram um mutirão e fizeram a obra por conta própria. A construção, de 24 metros, foi feita com concreto e ferro. A obra durou um mês e custou R$ 5 mil. Os moradores trabalhavam nela aos sábados e domingos.

Sem a obra, era preciso andar por quase dois quilômetros para ir de um bairro ao outro. A obra orçada pela prefeitura anteriormente custaria R$ 270 mil.

Ouvida, a Susesp (Superintendências de Obras e Serviços Públicos de Barra Mansa) explicou que a ponte construída pelos moradores é “uma iniciativa válida”. No entanto, ela ressaltou que a ponte foi “feita sem o aval da prefeitura” e, dessa forma, não há como “garantir que houve um projeto elaborado com um cálculo estrutural eficiente”, além de não haver “acessibilidade” na construção.

7 Pavimentação de ruas em bairro em Goiânia

Não é de hoje que os moradores se unem contra a ineficiência do Estado. Há quase 20 anos, moradores do Setor Chácaras de Recreio Samambaia, em Goiânia, se uniram para pagar pelo asfalto nas ruas do bairro.

Morador da região há 35 anos e um dos organizadores da iniciativa, o professor aposentado Marco Antônio Sperb Leite conta que a comunidade custeou a pavimentação das ruas por entender que havia outras áreas mais habitadas e carentes de infraestrutura na cidade.

“Aqui a densidade populacional era baixa e, sabendo que a prefeitura tinha outras prioridades, nos unimos e fizemos o asfalto. Na época, o serviço custou cerca de R$ 80 mil reais”, relembra.