Faculdades de medicina dos Estados Unidos arriscam suas diretrizes de seleção de estudantes e formação de médicos em nome da introdução de ideias do ativismo progressista interseccional e identitarismo.| Foto: Bigstock / digitalista
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No começo de outubro, a universidade em que me formei fez manchetes depois que decidiu demitir o professor de química dr. Maitland Jones Jr. por causa de um abaixo-assinado de 82 de seus alunos que dizia que a aula de química orgânica dele era “difícil demais”. Os alunos acusaram Jones de tornar a aula difícil de propósito, mencionando que suas notas baixas tinham um impacto negativo sobre o seu “bem estar” e suas chances de entrar no curso de medicina. Em vez de avaliar o rigor e o teor do currículo de Jones, a NYU (Universidade de Nova York) justificou sua ação apressada citando as avaliações desfavoráveis dos estudantes para as aulas. Esse tipo de juízo nunca aconteceria nas áreas da arquitetura, engenharia aeroespacial, ou até na indústria de serviços alimentares; por que é permissível aqui?

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Em resposta à ação disciplinar, a ex-professora de humanidades médicas e bioeticista dra. Alice Dreger fez duras críticas à decisão no Twitter, dizendo que “foi de arrepiar os cabelos”.

“Não vamos ter bons médicos deixando que estudantes de graduação que querem fazer medicina passem em química orgânica porque as universidades querem proteger sua posição no ranking da U.S. News”, disse ela. [A U.S. News é uma revista dedicada a aconselhamento de consumidores. N. do T.]

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A reação é justificada, considerando como cursos para entrar na medicina e até faculdades de medicina mudaram na direção da equidade e da justiça social. Parece que até professores não conseguem manter os padrões de desempenho acadêmico, quando as instituições em que lecionam rebaixam a importância dos padrões para a segunda categoria para acomodar as sensibilidades dos alunos, com base no quão culpados ou vitimizados eles se sentem enquanto são treinados na área muito competitiva e exigente da medicina.

Preocupação premente para a medicina

A ascensão dos esforços para aumentar a diversidade nas faculdades de medicina pode ser enxergada como algo que tem origem em boas intenções: criar um ambiente acadêmico que promove médicos de minorias, especialmente aqueles que vêm de comunidades desamparadas. Ter uma diversificação de profissionais da saúde é benéfico, em especial se tais médicos usarem suas capacidades e talentos para ajudar as comunidades que são carentes de atenção médica, tais como bairros pobres e comunidades rurais remotas.

Defensores de mais políticas de extensão citam estudos como o relatório da AAMC (Associação Americana de Faculdades de Medicina), com título “Alterando o Curso: Homens Negros na Medicina”, que nota a queda no número de candidatos negros de 1.410 em 1978 para 1.337 em 2014. Também poderiam apontar para um estudo de Yale que descobriu que os estudantes parte de minorias são menos propensos a ganhar vaga em programas de residência médica que seus colegas brancos ou de origem asiática.

Esses parecem ser problemas prementes com os quais se deve lidar se as faculdades de medicina querem aumentar a taxa de sucesso dos alunos negros e pardos. Contudo, em vez de trabalhar em expandir programas de tutoria e treinamento e iniciativas de extensão, parece que as universidades e faculdades de medicina querem dar foco estrito aos aspectos interseccionais dessa pesquisa. [Interseccionalidade é uma proposta do progressismo identitário acadêmico segundo a qual a identidade de uma mulher negra, por exemplo, que é uma intersecção entre “mulher” e “negra”, é mais oprimida que cada uma dessas identidades isoladas. N. do T.]

A ascensão da interseccionalidade na medicina

A líder do estudo de Yale citado acima, Mytien Nguyen, afirmou:

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“Nos estudos anteriores, só olhamos de fato para uma dimensão da identidade, mas existe a interseccionalidade e o acúmulo de múltiplas identidades marginalizadas... queremos ver como essas identidades atuaram no processo de matrícula... há um claro efeito de acúmulo de ser estudante pouco representado na medicina e ser de baixa renda... há uma combinação dupla em termos de como a medicina é classista e racializada.”

Nguyen afirma que não está claro o que contribui para a menor inserção dos estudantes marginalizados, mas ainda assim ela falhou em considerar como uma miríade de outros fatores, tais como falta de mentores na medicina, recursos financeiros limitados e percepções culturais diferentes do trabalho médico podem contribuir para esse fenômeno. Voltando ao relatório da AAMC, é importante notar que, enquanto o número de candidatos negros do sexo masculino de fato caiu ao longo das décadas, o relatório também mostra que o número geral de estudantes de medicina negros na verdade subiu de 933 em 1978 para 1.227 em 2014 — um aumento de 32%.

Essa é uma estatística bem-vinda que pode melhorar se as faculdades derem mais acesso a oportunidades durante o ensino médio e o treinamento para o teste admissional para as comunidades marginalizadas.

Infelizmente, instituições como a NYU deram-se a tarefa de nivelar por baixo a admissão através de incentivos interseccionais, em vez de aplicar os padrões acadêmicos — que todos concordamos que são necessários para ter futuros médicos confiáveis e cautelosos.

Uma religião de ressentimentos

A mudança da educação fundada em medicina para uma ênfase na raça e na preocupação social foi destacada pelo ex-reitor da Faculdade de Medicina da Universidade da Pensilvânia Stanley Goldfarb, que declarou:

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“...Hoje, um título de mestre em educação é muitas vezes o suficiente como qualificação para papéis administrativos importantes entre os servidores das faculdades de medicina. O zeitgeist da sociologia e do serviço social se tornou a força motriz da educação médica. A meta dos educadores de hoje é produzir legiões de médicos de atendimento primário que participam do que se convencionou chamar de ‘saúde populacional’.”

As gestões das faculdades de medicina parecem ter sido tomadas por sociólogos e teóricos críticos da raça — se não nos títulos, certamente na prática.

Recentemente, nas notícias, a Faculdade de Medicina da Universidade de Minnesota conduziu uma cerimônia de jalecos para os formandos de 2026 na qual cada aluno teve de recitar um Juramento Hipocrático modificado que — além da promessa de não causar danos e de ajudar os doentes sempre que possível — honraria “todos os modos Indígenas de cura que foram historicamente marginalizados pela medicina ocidental, ...supremacia branca, colonialismo e o binário de gênero”.

A politização da medicina tem consequências maiores que só esse tipo de exibicionismo político. Em vez de enfatizar ou promover o cuidado preventivo e o tratamento baseado em eficácia médica de verdade, o ímpeto por trás das ações dessas faculdades de medicina parece ser completamente fundamentado em raça. Por exemplo, a Universidade de Georgetown está financiado o estudo e formação de cursos para prevenir as “microagressões” na medicina. [“Microagressões” são um termo acadêmico que descreve os sentimentos de ofensa de pessoas de grupos discriminados por deslizes verbais de pessoas mais “privilegiadas” ao seu redor. Uma das “microagressões” mais citadas é perguntar sobre a origem de uma pessoa de aparência estrangeira. N. do T.]

Similarmente, a Associação Americana de Faculdades de Medicina publicou uma nova diretriz para ensino de medicina que exige que os estudantes adquiram “competências” em “privilégio branco”, sob pena de reprovação. Também busca afastar as ideias de gênero e raça, a última descrita pela AAMC como “... uma construção social que é a causa de desigualdades em saúde e tratamento de saúde”. Se esse for o caso, então como é que os médicos vão lidar com a alta frequência da anemia falciforme e do mieloma múltiplo nas comunidades afro-americanas, a prevalência de diabetes nos grupos de origem asiática, ou os efeitos em grande parte desconhecidos das terapias hormonais em menores de idade?

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As consequências práticas dessa estratégia

Essa mudança dramática dos padrões dos cursos para moldar a medicina de acordo com a lente racial é preocupante. Embora os proponentes de tais medidas argumentem que elas são cruciais para melhorar as relações raciais na medicina e para desconstruir os “vieses implícitos” dos alunos, salvar vidas e oferecer tratamento preventivo de excelência é algo que está acima disso.

Uma análise da [revista médica] BMJ descobriu que os erros médicos em unidades de atendimento são espantosamente comuns e podem até ser a terceira maior causa de morte nos Estados Unidos. O erro médico explica cerca de 251 mil mortes por ano — mais que acidentes, derrames cerebrais, Alzheimer e problemas respiratórios:

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O dever mais importante de um(a) médico(a) para com seu paciente é não causar danos — isso inclui impedir a negligência, abster-se de fazer procedimentos supérfluos e assegurar que cada via de tratamento é considerada antes de conduzir cirurgias invasivas. Das condições decrépitas de hospitais às enfermeiras inexperientes e aos maus médicos, o tratamento médico que resulta nos danos ao paciente é uma questão muito mais importante que as alegadas microagressões feitas por médicos residentes durante seus plantões.

A raça e o gênero de um médico em atividade não deveria ser importante se é uma pessoa habilidosa, capacitada e razoável no trabalho. Portanto, é de responsabilidade das universidades e das faculdades de medicina preservar os padrões rigorosos que já tiveram, para assegurar que seus estudantes estejam preparados para — acima de tudo — trabalhar em situações médicas de muito estresse e complicação. Precisamos de médicos capazes e capacitados, ponto final.

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©2022 Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês.

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