Sem pudor, o então presidente dos Estados Unidos Harry Truman autorizou que duas bombas atômicas fossem arremessadas sobre o já devastado território japonês. Esse foi o último ato bélico da 2.ª Guerra Mundial e a única vez que o mundo assistiu ao uso de armamento nuclear para exterminar vidas de milhares de civis. Cerca de 300 mil pessoas morreram em decorrência dos ataques às cidades de Hiroshima (dia 6 de agosto) e Nagasaki (dia 9).
A decisão foi o primeiro passo para que o Japão tivesse parte de sua vida social e política ocidentalizada pelos Estados Unidos. O arremesso das bombas também significou uma espécie de ‘cala boca’ do governo norte-americano à União Soviética – Estados que após a 2.ª Guerra rivalizaram na chamada Guerra Fria.
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A primeira
6 de agosto: os EUA lançam a primeira bomba atômica em território japonês, na cidade de Hiroshima. Estima-se que morreram até 135 mil pessoas em decorrência da “Little Boy” – 70 mil na hora da explosão e as demais por causa de ferimentos e radiação.
A historiadora Sylvia Lenz, professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL), explica que a decisão dos Estados Unidos foi um ato covarde que visou, sobretudo, economizar vidas de soldados norte-americanos e dinheiro.
“As bombas foram usadas para que a guerra terminasse de uma vez. Não havia necessidade. O povo japonês estava faminto e as forças armadas japonesas estavam exauridas, era o fim não declarado do conflito. O Japão foi usado como teste para o lançamento das duas bombas atômicas”, afirma.
A segunda
9 de agosto: a segunda bomba atômica foi lançada sobre Nagasaki. Estima-se que com a “Fat Boy” o número de mortes passou dos 40 mil na hora, chegando a cerca de 70 mil no total, somando as vítimas posteriores.
No dia 8 de maio, a 2.ª Guerra já havia terminado na Europa, com a derrota das forças nazistas e fascistas, da Alemanha e Itália, respectivamente. Os japoneses, no entanto, continuavam a resistir. Embora o número de soldados fosse bem reduzido e os armamentos, obsoletos.
Um exemplo da situação em que estavam as forças bélicas japoneses foi a adoção dos kamikazes – pilotos de aviões carregados de explosivos cuja missão era realizar ataques suicidas contra navios dos Estados Unidos já nos momentos finais da guerra.
Os dias 6 e 9, no entanto, não só anteciparam a rendição japonesa como subjugaram um povo com tradição milenar. “A política do Japão foi aculturada. Passou-se a ter um Parlamento, o que antes não tinha, e marcou o fim da era dos imperadores”, afirma Sylvia.
Segundo a pesquisadora, quando as forças militares norte-americanas ocuparam o território japonês, o povo foi violentado. “Quando há uma ocupação, você acaba seguindo as ordens do patrão. O povo japonês teve de trabalhar para os vencedores. Sem falar do abuso que as mulheres japonesas sofreram”, afirma.
Como consequência à rendição japonesa no dia 14 de agosto de 1945 e à assinatura da capitulação no dia 2 do mês seguinte, as forças militares do Japão foram suprimidas e pela primeira vez na história a nação se viu ocupada, até 1952, por forças externas.
Sylvia acredita que parte da própria cultura japonesa foi influenciada pela presença dos Estados Unidos. “As roupa, os gostos musicais e estilos de vida passaram a ser alterados. Uma cultura milenar acabou sendo ocidentalizada” diz.
Armas
Estima-se que existam 17 mil armas nucleares no mundo, basicamente nas mãos de Estados Unidos e Rússia (estes países têm de 7 a 8 mil armas cada). Mas outras potências também detêm armamentos deste tipo: Reino Unido tem cerca de 200; França, 350; Israel, 180 (embora não admitam oficialmente); Paquistão, de 80 a 90; e Índia, cerca de 80.
Nazismo
Em 1936, o Japão se aliou à Alemanha de Hitler para combater o comunismo – na prática, a União Soviética. O interesse japonês, que vivia um regime autoritário e expansionista, era dominar territórios chineses e soviéticos; os alemães tinham pretensões semelhantes para boa parte da Europa.
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Novo posicionamento no xadrez mundial
Cinco anos depois de devastar o Japão com o ataque nuclear – primeiro sobre Hiroshima e em seguida sobre Nagasaki –, os Estados Unidos permaneciam ocupando o território nipônico e o Japão estava proibido de realizar qualquer intervenção mundial. Diante deste contexto e inserida na realidade da Guerra Fria, estoura, em 1950, a Guerra da Coreia.
Travado até 1953, o conflito uniu a Coreia do Sul, os Estados Unidos e o Reino Unido contra a Coreia do Norte, esta apoiada pela China e pela União Soviética. O resultado foi a manutenção da divisão da península da Coreia em dois países. Uma divisão que segue acirrada até hoje por causa das manifestações bélicas da Coreia do Norte.
Daniel Medeiros, professor de História e pesquisador do tema, conta que os Estados Unidos fizeram do Japão um ‘porto seguro’. “Para poder intervir no conflito das Coreias, o governo norte-americano fez do Japão seu aliado. Construiu ali bases áreas e navais. A presença dos americanos ali era constante”, explica.
Era uma forma de impedir que a política soviética se expandisse para outras nações do Oceano Pacífico. “O jogo de xadrez se desviou para essa região. As batalhas foram travadas e intensificadas ali”, relata Medeiros.
Fim do conflito deu início à Guerra Fria
Uma corrente da História aponta que a Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética intensificou-se a partir de 1947, com a implantação do Plano Marshall por parte do governo norte-americano. A estratégia era ajudar financeiramente os países europeus que estavam destruídos após a 2.ª Guerra Mundial. O plano destinou cerca de US$ 13 bilhões ao longo de quatro anos. Essa tática foi uma forma de intensificar a presença dos Estados Unidos na região e deixar a União Soviética de lado.
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No entanto, já no fim da guerra, Estados Unidos e União Soviética, com políticas distintas, uma capitalista e outra tida como comunista, rivalizavam e almejavam consolidar-se como principal potência mundial. “Para dar mostras de que tinha poder, Washington usou as bombas atômicas. Foi um recado direto a Moscou”, afirma a historiadora Sylvia Lenz.
O professor de História Daniel Medeiros corrobora com esse ponto de vista. “Não sabemos o que se passou na cabeça de Truman, mas muito provavelmente ele viu os Estados Unidos como potência global e, com o uso das bombas, mostrou o poderio militar à União Soviética”, afirma
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