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Uma iniciativa para transformar radicalmente a organização de grandes e pequenas cidades está atravessando o mundo de Paris a Melbourne, mas a mídia pouco fala sobre isso. O projeto, apelidado de “cidade de 15 minutos” pela prefeita de Paris, Anne Hidalgo, visa redesenhar os bairros e aproximar dos moradores os serviços essenciais, para que possam ser acessados a pé ou de bicicleta em cerca de 15 minutos, com o objetivo de melhorar o ar e a qualidade de vida e, sobretudo, salvar o planeta do “terrível” CO2.
Visto dessa forma, parece um projeto sem nenhuma controvérsia. Em vez disso, ele gerou protestos, especialmente no Reino Unido, onde os manifestantes contra a “Cidade de 15 Minutos” se juntaram aos protestos contra a Ulez [Ultra Low Emission Zone (Zona de Emissões Ultra Baixas)] de Londres, que bloqueia o tráfego para veículos que não atendem a determinados padrões.
Definida pelo político Nigel Farage como um sistema “que faria inveja a Pyongyang”, a “cidade de 15 minutos” prevê de fato que os residentes de um determinado bairro devam ter autorização para poder sair do seu perímetro de carro. Para Oxford, a cidade onde o projeto está mais avançado estão previstas, por exemplo, 100 licenças por ano, após as quais os carros serão multados pesadamente (fala-se de 100 libras por infração, N.t. aproximadamente 612 reais).
Em Roma, onde criar a “cidade de 15 minutos” é um dos principais objetivos traçados pelo prefeito Roberto Gualtieri, o protesto pegou fogo, e chegou até debaixo de suas janelas, devido à criação de uma imensa zona verde dotada de 51 passadiços, a partir do qual se prevê excluir progressivamente -- a partir de outubro, com sanções aplicadas a partir de novembro -- todos os veículos que não correspondam a determinados parâmetros ecológicos.
Perante intensos protestos, a Câmara Municipal de Oxford emitiu um comunicado em que esclarece que não estão previstas barreiras físicas à saída de automóveis (apesar de já existirem em algumas ruas postes móveis -- bollards -- não por acaso objeto de sabotagens noturnas), mas apenas câmeras capazes de ler placas de veículos para aplicar multas. Aqueles que esgotassem as licenças, asseguram, poderão sempre sair do perímetro designado seguindo um determinado percurso mais longo.
No entanto, essas garantias ainda não acalmaram os ânimos daqueles que rejeitam a própria ideia de ter que pedir permissão para circular livremente de carro, principalmente ao ler as metas declaradas pelo Consórcio de Prefeitos C40, baseado nas metas da Agenda 2030 da ONU. Conforme ilustrado pelo sociólogo canadense Jordan Peterson, o objetivo é: de reduzir a ingestão calórica per capita para 2.500 calorias por dia nos próximos 15 anos, a garantir que as classes mais baixas, que incluem todos, exceto a elite, não possam pegar o avião mais de uma vez a cada três anos, a eliminar 90% dos carros particulares para obrigar as pessoas a usarem o transporte público, quando disponível e invariavelmente custoso em termos de tempo, até limitar a quantidade de viagens possíveis fora de seu próprio bairro.
A experiência dos lockdowns durante a pandemia, sem dúvida, deixou muitos cidadãos desconfiados em relação às autoridades e que antes estariam mais confiantes em soluções de cima para baixo para problemas globais. Por exemplo, já há quem ironize que para Paris, que fechará 185 quilômetros de estradas para os Jogos Olímpicos de 2024 e instalará as necessárias câmeras de vigilância, seria absurdo, passado o evento, restaurar a situação inicial em vez de deixar zonas de exclusão úteis para separar a plebe dos vários “autorizados”.
Além disso, as campanhas mediáticas que, em nome de uma ciência oficial, durante a pandemia, censuraram opiniões discordantes, mesmo as autorizadas, rotulando-as de “desinformação”, induziram muitos a ouvir pela primeira vez a voz de quem explica que o CO2 não é ruim, mas vital para a vegetação, o que invalidaria a própria base de qualquer restrição à liberdade de circulação das pessoas.
Mas a cidade de 15 minutos (que muda de nome para 20 minutos ou 30 minutos para áreas onde as distâncias são maiores), poderiam ser apenas uma passagem em direção a reorganização sonhada pelos proponentes do governo mundial, se considerarmos o projeto da Cidade dos Três Estados, a megalópole projetada para uma fatia do norte da Europa que deveria cobrir a Holanda e se espalhar pela Bélgica e Alemanha. O site do governo holandês nega que este projeto possa ter qualquer ligação com as políticas contra o uso de nitrogênio na agricultura do governo Rutte -- defenestrado não por acaso nas últimas eleições -- que ameaçavam a própria sobrevivência da agricultura.
Ainda mais à frente, no sentido tecnológico, está o projeto The Line, lançado em 2021 pela Arábia Saudita, que prevê uma cidade luxuosa mas sem carros, que se estenderá por 170 km no meio do deserto, atrás de muros de 500 metros de altura, invisíveis porque cobertos por um espelho. No interior, 9 milhões de neomianos, assim chamados pelo nome dado a este novo local, poderão se deslocar de um ponto a outro da cidade em poucos minutos graças a um trem de alta velocidade.