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O presidente Donald Trump nos jardins da Casa Branca, após retornar da residência oficial em Camp David | MANDEL NGAN/AFP
O presidente Donald Trump nos jardins da Casa Branca, após retornar da residência oficial em Camp David| Foto: MANDEL NGAN/AFP

A primeira página do The New York Daily News de sexta-feira (09) estampava um grande “MENTIROSO” sobreposto a uma foto do presidente Donald Trump. O título principal do USA Today foi na mesma linha: “Comey chama Trump de mentiroso”. Canais de televisão a cabo, redes de notícias e até o Wall Street Journal — todos colocaram o Trump nas manchetes. Não foi um bom dia para o presidente.

“Não é a toa que Trump está se retirando para seu casulo no Fox News”, disse Allan Schlosser, relações públicas antigo em Washington. “Em qualquer outro lugar, a cobertura é extremamente negativa”. 

Nada de novo até aí. No último mês, uma pesquisa de Harvard mostrou que, nos primeiros 100 dias da presidência de Trump, 80% das matérias em grandes veículos de imprensa mostravam o presidente de forma negativa. Isso não tinha precedentes. 

A mídia conservadora foi rápida em louvar o estudo, o usando como prova da tendência liberal da mídia — ainda melhor que fosse com o aval de uma instituição da elite cultural como Harvard. 

Pergunta errada

Trump, é claro, tem se feito de vítima há meses. “Veja o jeito com que tenho sido tratado recentemente, especialmente pela mídia”, ele reclamou em um discurso de formatura da Guarda Costeira dos EUA mês passado. “Em toda a história, nenhum político - e digo isso com toda certeza - foi tratado pior ou com mais injustiça do que eu”. 

Sob esse ponto de vista, a cobertura midiática de Trump tem sido um pesadelo político. 

Não é injusto? 

Aqui vai minha resposta sutil: óbvio que não. 

Estamos fazendo a pergunta errada quando consideramos negativo x positivo sobre a cobertura de um governante eleito. 

Apoiadores do governo afirmam que os acertos do presidente recebem pouca atenção. Mas sejamos sinceros: políticos não podem esperar uma cobertura balanceada entre positivo e negativo nem nada perto disso. Se o presidente está fazendo um trabalho ruim, é dever da mídia informar os motivos do trabalho estar assim. 

Neutralidade

A ideia de uma neutralidade é suspeita. Uma cobertura positiva deveria ser feita, como se fosse um direito de nascença, a um presidente que mente consistentemente, vazou informações confidenciais a um adversário e demitiu o presidente do FBI que estava investigando sua administração? 

É claro que não. Por isso que esforços como o editorial do New York Times, que pediu para “se dizer algo bom sobre Donald Trump”, são tão absurdos, mesmo que sejam irônicos. 

Porém, é razoável - e até crucial - considerar algumas questões que envolvem justiça, foco e esforços generalizados: 

- Quando uma empresa de mídia faz algo errado, eles assumem e corrigem o erro? Ou eles seguem em frente na esperança que ninguém perceba? 

- Jornalistas permitem que o presidente e sua administração respondam as críticas de maneira justa, com o espaço apropriado? 

- Os sites de notícias dão atenção para assuntos políticos sérios além de publicar inúmeras fofocas sobre as personalidades do momento? 

O professor de Harvard Thomas E. Patterson, autor do estudo, vê mais problemas nesse último ponto. 

“A mídia está focando na personalidade, não na substância”, ele comentou recentemente no programa de rádio “On the Media”. Isso reflete “não uma tendência partidária, mas uma tendência jornalística”, uma tendência que busca a polêmica. (Nenhum mistério aqui - a polêmica é mais interessante). 

“É a imprensa sendo a imprensa, e isso desgasta a confiança do público”, afirma Patterson. 

Audiência

E existe ainda um segredo que todo jornalista sabe: histórias sobre o Trump rendem alto índice de audiência e muitos clicks. Ter a palavra “Trump” no título aumenta drasticamente a chance do texto ser lido. (Somos todos culpados). 

Diga o que quiser do presidente, ele continua sendo uma máquina de audiência. 

Além disso, os sites de jornalismo ou os canais de notícia continuam focados no presidente — nem sempre com relevância jornalística. 

“Seria bom que jornalistas passassem menos tempo em Washington e mais tempo em lugares em que a política interfere na vida das pessoas”, sugere o estudo de Harvard. “Se tivessem feito isso durante a campanha presidencial, eles não teriam perdido o gancho da vitória de Trump - o desaparecimento do sonho americano para milhões de pessoas normais”. 

E esse é um assunto muito melhor para autoexame do que forçar uma cobertura positiva do presidente. Temos muito para melhorar. Mas dar parabéns para o Trump não é uma forma de fazer isso.

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