Ao longo de dois anos, pela primeira vez na história os norte-americanos foram parcial ou totalmente privados de liberdades básicas – de reunião, de expressão, religiosa, de ganhar o próprio sustento, de dar educação aos filhos, de acesso ao tratamento precoce para um vírus potencialmente letal, etc. O fato de metade dos norte-americanos, sobretudo as elites, terem apoiado essas medidas explica por que muitos de nós tememos pelo futuro do país enquanto sociedade livre.
Mais preocupante ainda foram as reações das grandes religiões do país, sobretudo católicos, protestantes, mórmons e judeus. O governo assinou decretos irracionais (e também antirreligiosos e antiéticos) e quase todas as igrejas e sinagogas os obedeceram.
Essas igrejas e sinagogas fecharam suas escolas apesar de a Covid-19 não representar praticamente nenhuma ameaça para os jovens. As crianças tiveram muito mais prejuízo com o fechamento das escolas religiosas e seculares e, depois, com o uso obrigatório de máscaras até mesmo ao ar livre do que com a Covid-19. Isso ficou claro não só com os dados obtidos nos Estados Unidos, mas também na Suécia, país que nunca fechou as escolas para as crianças com menos de 16 anos, sendo que nenhum aluno ou professor morreu por Covid-19.
Como escreveram os médicos suecos numa carta publicada pelo New England Journal of Medicine em fevereiro de 2021:
“Apesar de a Suécia ter mantido escolas e pré-escolas abertas, descobrimos uma baixa incidência de casos graves de Covid-19 entre os alunos durante a pandemia de SARS-CoV-2. Entre as 1,95 milhão de crianças de 1 a 16 anos, 15 tiveram Covid-19, síndrome inflamatória multissistêmica, ou ambos, e foram admitidas em UTIs, o que equivale a 1 caso para cada 130 mil crianças. (...) Nenhuma criança com Covid-19 morreu.
Recentemente, algumas igrejas e sinagogas disseram aos fiéis que crianças de 5 anos deveriam ser vacinadas para poderem participar dos cultos. É imoral vacinar as crianças com um produto que não tem dados de segurança de longo prazo, ainda mais porque as crianças não correm riscos por causa do vírus. Ainda assim muitas igrejas, sinagogas, pastores, padres e rabinos insistem nisso.
Dado o comportamento submisso de muitos líderes e instituições religiosas, a questão que fica é: por quê?
Cada religião responde a essa pergunta de um jeito. As justificativas comuns são as de que não há mais diferença entre as grandes instituições e líderes religiosos e as grandes instituições e líderes do mundo secular. Fora o fato de frequentarem a igreja ou sinagoga, a maioria dos cristãos e judeus agem como a maioria dos norte-americanos seculares.
Quanto à Covid-19, a maioria dos líderes religiosos tem medo. E, quanto ao medo, a única diferença relevante entre os norte-americanos não é entre os religiosos e os seculares, e sim entre a direita e a esquerda.
Os clérigos conservadores têm menos medo do que os progressistas, assim como os norte-americanos não-religiosos conservadores têm menos medo do que os norte-americanos não-religiosos progressistas. O que, claro, levanta a questão: a religião torna as pessoas mais inteligentes, melhores e mais corajosas? Ou a religião se transformou em algo que serve apenas para os fiéis se sentirem bem?
Quanto aos cristãos, há o argumento de que o Novo Testamento prega a obediência às autoridades seculares. Citando o exemplo mais conhecido: “Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas. Portanto, aquele que se rebela contra a autoridade está se colocando contra o que Deus instituiu, e aqueles que assim procedem trazem condenação sobre si mesmos”. (Romanos 13:1-3).
Os mórmons têm uma questão adicional. Eles devem não só obedecer a Bíblia, mas também os líderes da igreja. O chefe da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias faz parte da Primeira Presidência, que consiste em três homens considerados profetas – Deus se manifesta por meio deles. Os mórmons fiéis, portanto, entendem os pronunciamentos da Primeira Presidência como a palavra de Deus.
Em 12 de agosto de 2021, a Primeira Presidência (cujo presidente é médico) divulgou uma nota na qual dizia: “Estimulamos as pessoas a se vacinarem” e “Podemos vencer essa guerra se todos seguirem as sábias recomendações dos especialistas e dos líderes governamentais”.
Como os mórmons em geral são o grupo religioso mais social e politicamente conservador do país, muitos não consideravam as “recomendações dos especialistas e líderes governamentais” sábias. Assim como muitos conservadores que não são mórmons, os mórmons conservadores consideram os especialistas e os líderes governamentais pouco sábios e, em geral, corruptos.
Então o que esses mórmons fazem? Uma publicação da Brigham Young University, o “Daily Universe”, citou uma mulher mórmon chamada Hannah Colby: “Eu estou meio desconfiada da Primeira Presidência, mas sei que o presidente Nelson é um profeta de Deus”, disse ela. O jornal não revelou como Colby resolveu essa contradição.
Os cristãos precisam obedecer ao Novo Testamento e obedecer às autoridades seculares. Foi o que muitos pastores e igrejas fizeram na Alemanha dos anos 1930. À luz de Romanos 13, eles agiram certo ou errado? Se as ordens irracionais e antiliberdade das autoridades seculares nos EUA e no Ocidente todo levarem cristãos sérios a se confrontarem com a questão da obediência, então essa terá sido uma consequência boa da Covid-19.
E o que levou a maioria dos judeus – ou praticamente todos os não-ortodoxos e algumas sinagogas ortodoxas – a obedecerem regras irracionais e imorais de autoridades seculares?
Uma resposta óbvia é que os judeus não-ortodoxos são de esquerda. E a esquerda vive com medo (da Covid-19, aquecimento global, cigarro, trampolins e outras coisas) e está preparada para subverter qualquer liberdade a fim de não sentirem medo. De qualquer forma, a liberdade não é um valor da esquerda; é um valor liberal. Mas muitos judeus e não-judeus liberais apoiam a esquerda.
Há outras duas razões menos óbvias para a obediência cega de muitas sinagogas e outras instituições judaicas. Uma é que os judeus tendem a idolatrar médicos e outra é que os judeus tendem a obedecer cegamente “especialistas”. Para muitos judeus não-ortodoxos, “os especialistas dizem que” equivale ao “assim disse o Senhor” dos ortodoxos.
Claro que a obediência cega aos “especialistas” também caracteriza muitos gentios. Na verdade, isso caracteriza muitas das pessoas com maior nível educacional. E os judeus são o grupo étnico-religioso mais educado dos Estados Unidos.
Apesar disso, o fato é que a maioria dos que desafiaram as medidas irracionais e inconstitucionais era formada por pessoas religiosas. A tragédia da vida religiosa nos Estados Unidos é que religiosos sem coragem ocupam as posições de liderança.
Em setembro de 2021, pelo 15º ano consecutivo (com exceção de 2020), ministrei serviços religiosos judaicos para cerca de 400 pessoas – sem a exigência de máscaras ou vacinação. Outras sinagogas poderiam ter feito o mesmo, mas quase todos os rabinos e sinagogas tinham medo ou eram obedientes demais. E, claro, o mesmo serve para as igrejas, sejam elas católicas, protestantes ou mórmons. Temerosas demais. E obedientes demais às medidas irracionais.
As religiões sofrerão as consequências à medida que as pessoas forem entendendo a fraqueza de seus líderes. E pagarão outro preço: ao manterem igrejas e sinagogas fechadas por tanto tempo, muitos os fiéis não retornarão. Se meu clérigo não considera importante que eu vá à igreja por quase dois anos, talvez não seja mesmo tão importante assim.
Dennis Prager é colunista do “Daily Signal”, radialista e criador da PragerU.
©2022 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês
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