Capa de revistas alemãs: ataque fez crescer o crédito entre os leitores| Foto: /Reprodução

Existem dois mundos paralelos no jornalismo alemão. Em um deles, os repórteres se deparam com um descrédito sem precedentes, inclusive com manifestações de ódio pelas ruas - em alguns casos, até atentados violentos. Segundo uma pesquisa recente, um quarto dos alemães concordam que a palavra “Lügenpresse” — termo cunhado pelos nazistas que significa “imprensa mentirosa” — é apropriada para descrever a mídia.

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Por outro lado, a confiança do público na imprensa alcançou um recorde. De acordo com um estudo recente da Universidade de Würzburg, que acompanhou mais de 15 anos da opinião pública sobre a imprensa, 55,7% da população da Alemanha confiou na imprensa no último ano. Os pesquisadores sugerem que a atmosfera incerta e até perigosa que jornalistas encontram quando cobrem protestos de extrema direita não se traduziu em um crescimento de ceticismo com a mídia no geral. Na realidade, o que aconteceu foi exatamente o oposto.

Outros estudos recentes estão chegando a conclusões similares, diz Martin Hoffmann, pesquisador senior no Centro de Liberdade de Imprensa e Mídia da Europa (European Center for Press and Media Freedom). Algumas pessoas, desiludidas com a mídia, têm uma opinião cada vez mais hostil contra jornalistas; mas, ao mesmo tempo, um número sem precedente de alemães discordam abertamente dessas opiniões.

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Ceticismo decrescente

Para os partidos alemães estabelecidos, esse pode ser um sinal encorajador. A chanceler Angela Merkel e outros líderes políticos temem que notícias falsas disseminadas pelas mídias sociais possam ajudar o partido de extrema direita Alternative für Deutschland (AfD) a alcançar um grande número vagas na eleição parlamentar em setembro. Tanto que o parlamento alemão chegou a aprovar uma emenda antinotícias falsas, que prevê multas para empresas de mídias sociais que não retirarem esses links das suas timelines.

O estudo também apresenta sinais alarmantes para o AfD e outros partidos cujos eleitores se afastaram dos veículos de mídia tradicionais. Os pesquisadores de Würzburg encontraram indicativos que a ligação entre partidos populistas de direita como o AfD e um ceticismo com a mídia está diminuindo. O número de entrevistados da pesquisa que se consideram de direita e que afirmaram confiar na mídia cresceu 18% no último ano, indo de 33% em 2015 para 51% em 2016.

Mais transparência

Essa diferença significativa possivelmente está relacionada com a crise dos refugiados na Alemanha, diz Hoffmann. Em 2015, o país acolheu um milhão de refugiados e imigrantes. Críticos alegaram que os veículos tradicionais, incluindo os mais conservadores, deram então as boas vindas para os estrangeiros. Essa atitude começou a desaparecer dos tablóides e das publicações conservadoras depois da noite de ano novo de 2015, em que estrangeiros recém chegados no país foram responsáveis por vários ataques sexuais na cidade de Colônia.

Desde então, emissoras e jornais nacionais tem se esforçado para abordar seriamente as preocupações dos leitores com a crescente chegada de refugiados. Mas Kim Otto, professor de jornalismo na Universidade de Würzburg e autor do estudo, diz que as agências de notícias tem feito outras mudanças que também ajudam a explicar o crescimento de confiança.

“Muitos dos editores e apresentadores tradicionais da Alemanha responderam o ceticismo com mais transparência. Eles convidaram cidadãos e críticos a conheceram como trabalham”, afirma Otto, cujas descobertas sugerem que os mesmos métodos poderiam funcionar potencialmente em qualquer lugar, incluindo os EUA.

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Tradução: Gisele Eberspächer