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A reação de boa parte da esquerda aos ataques terroristas contra Israel nos últimos dias encerrou qualquer dúvida: grupos que se dizem defensores dos direitos humanos são capazes de apoiar movimentos como o Hamas, que comete atrocidades impublicáveis contra civis.
Não é coincidência. As raízes dessa postura estão nas ideias do próprio Karl Marx.
De uma forma mais genérica, Marx é responsável pela noção de que tudo deve ser medido pela divisão entre “opressores” e “oprimidos”. Embora o autor comunista tenha tratado principalmente das classes sociais, não demorou até que seus discípulos estendessem a lógica para qualquer relação de poder. Entre Israel e Palestina, Israel é o opressor porque é mais rico e (na visão de muitos árabes) equivale a um colonizador europeu. Logo, justifica o que quer que o oprimido (a Palestina) faça.
Mas a relação de Karl Marx com o ódio a Israel vai muito além.
Para Marx, o deus dos judeus é o dinheiro
Karl Marx expôs o que pensava sobre os judeus em ‘Sobre a Questão Judaica’, um artigo que se transformou em livro. Escrita em 1843, a obra analisa a reivindicação de direitos dos judeus que viviam na Alemanha.
No livro, Marx comenta um livro de Bruno Bauer, ele próprio acusado de antissemitismo. Bauer afirma que o judeu na Alemanha só pode se emancipar (tornar-se livre) depois que o povo alemão o fizer. E isso só pode ocorrer quando a religião for superada.
Marx concorda em parte, mas argumenta que a religião judaica há muito foi substituída pelo simples amor ao dinheiro. Ao fazê-lo, ele reproduz um dos estereótipos preconceituosos contra os judeus.
Com a típica miopia de seu materialismo histórico, Marx interpreta uma religião milenar, de uma rica tradição espiritual, com apenas uma lente: a econômica. O capitalismo é um inimigo. E o judeu é responsável pelo capitalismo. Logo, o judeu é um inimigo. “Não procuremos o mistério do judeu em sua religião; procuremos, antes, o mistério da religião no judeu real. Qual é o fundamento secular do judaísmo? A necessidade prática, o interesse próprio. Qual é o culto secular do judeu? O negócio. Qual é o seu deus secular? O dinheiro”, ele escreve.
Marx culpa diretamente os judeus pelo desenvolvimento do capitalismo: “Identificamos, portanto, no judaísmo um elemento antissocial universal da atualidade, que o desenvolvimento histórico, cujo aspecto perverso os judeus fomentaram diligentemente, encarregou-se de levar à sua atual culminância, na qual ele necessariamente se dissolverá”, diz ele. Na visão de Karl Marx, a base do judaísmo é o “egoísmo”, e a ascensão do capitalismo representou a “dominação universal” por parte dos judeus. A própria ideia de uma identidade nacional judaica era, na visão do autor socialista, uma farsa: “A nacionalidade quimérica do judeu é a nacionalidade do mercador, do homem do dinheiro de modo geral”.
Para Marx, o caminho para “emancipar” o judeu da religião é simplesmente abolir o capitalismo. “Uma organização da sociedade que superasse os pressupostos do negócio, portanto, a possibilidade do negócio, teria inviabilizado o judeu. Sua consciência religiosa se dissiparia como uma névoa insossa na atmosfera da vida real da sociedade”, escreve.
Menos de um século depois, na própria Alemanha, judeus estavam sendo enviados para a câmara de gás, em parte graças aos estereótipos que, se não foram criados por Marx, foram reforçados por ele.
As ideias de Karl Marx continuam ecoando.
Figuras de esquerda endossam terrorismo
Muito antes dos ataques dos últimos dias, o Hamas já era conhecido por praticar atrocidades contra civis. Ainda assim, o grupo recebia o apoio de entidades de esquerda.
Em 2021, 20 deputados federais brasileiros assinaram uma moção de apoio ao Hamas depois que o governo britânico incluiu o grupo na lista de organizações terroristas. Os parlamentares pertencem a PT, PSOL, PCdoB e PSB. A CUT (Central Única dos Trabalhadores) e o MST (Movimento dos Sem Terra) também assinaram a nota. O texto começa afirmando que “resistência não é terrorismo”.
Nos últimos dias, mesmo depois que o Hamas assassinou centenas de civis em solo israelense, a esquerda radical manteve a simpatia pelo grupo. O deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP), por exemplo, se recusou a condenar o Hamas e apenas lamentou as mortes dos dois lados. A postura levou um de seus coordenadores de campanha à prefeitura de São Paulo, Jean Gorinchteyn, a deixar a equipe em protesto. O PCO (Partido da Causa Operária) negou que o Hamas seja um grupo terrorista e ainda defendeu o fim do Estado de Israel.
O militante petista Breno Altman, amigo pessoal de José Dirceu, também celebrou o ataque do Hamas e escreveu que “quando um povo submetido ao colonialismo se rebela contra um Estado colonial, por quaisquer meios que seja, não há dúvidas sobre o lado certo da história”. A deputada estadual Luciana Genro (PSOL-RS) disse que o povo palestino "tem o direito de resistir e se levantar contra a opressão”. E os Socialistas Democráticos dos Estados Unidos expressaram “solidariedade” aos palestinos, enquanto terroristas metralhavam inocentes em Israel.
No que depender de muitos seguidores de Karl Marx, o legado antissemita dele vai continuar vivo.