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A fantasia do carro elétrico

Carros elétricos: pegada maior que combustíveis eletricos (Foto: Imagem de <a href="https://pixabay.com/pt/users/mmurphy-1358579/?utm_source=link-attribution&amp;utm_medium=referral&amp;utm_campaign=image&amp;utm_content=916561">Marilyn Murphy</a> por <a href="https://pixabay.com/pt/?utm_source=link-attribution&amp;utm_medium=referral&amp;utm_campaign=image&amp;utm_content=916561">Pixabay</a>)

O senador de Nova York Chuck Schumer prometeu que, se os democratas ganharem o Senado em 2020 (atualmente a maioria é republicana), eles aprovarão uma lei exigindo que todos os carros nos EUA sejam elétricos até 2040.

Os chineses devem estar comemorando, porque o país produz a maior parte das baterias do mundo e tem as mais novas fábricas em construção. Os chineses precisarão de alguém para comprar toda essa produção. No verão passado, quando a China abandonou os subsídios para veículos elétricos, as vendas caíram. O plano da China agora é exigir que as montadoras produzam veículos elétricos, mas insignificantes 3% a 4% da produção. Talvez Pequim acabe por aumentar as cotas, mas tecnologias verdadeiramente revolucionárias nunca exigem que os governos ordenem sua adoção. Quanto ao plano de Schumer, ele falhará em todas as frentes — incluindo na tentativa de salvar o setor de baterias da China.

Vamos começar com o que os consumidores querem. SUVs e picapes agora representam 70% de todos os veículos comprados. A maioria das pessoas, ao que parece, gosta de grandes veículos. A minoria que compra pensando exclusivamente na economia escolhe carros pequenos com motores a gasolina. A propósito, esta opção joga menos dióxido de carbono na atmosfera do que um Tesla.

Os consumidores são sensíveis aos preços em todas as categorias, uma realidade que os políticos ignoram. Baterias elétricas adicionam cerca de US$ 12 mil (R$ 48 mil) ao custo de carros pequenos e médios. Isso significa bastante para todos os consumidores, exceto o 1%. Segundo o Departamento de Estatísticas do Trabalho dos EUA (Bureau of Labor Statistics), os automóveis constituem a categoria mais cara de consumíveis para um lar médio, custando o dobro da assistência médica (habitação é a maior despesa). Uma análise recente da McKinsey sugere que as montadoras poderiam tirar os recursos extras, que todo vendedor sabe que é o que vende carros, dos veículos elétricos.

Deixando de lado detalhes como custo e recursos, a principal alegação é que o uso difundido de veículos elétricos reduzirá as emissões globais de dióxido de carbono — exceto que isso não ocorrerá, pelo menos de forma significativa. Primeiro, é importante observar que, independentemente da contabilidade criativa de Washington, a opção de obrigar todos os carros a serem elétricos acarretaria pelo menos US$ 2 trilhões em custos para a economia americana (equivalente a R$ 8 trilhões, mais do que o PIB brasileiro de 2018), apenas em custos mais altos com automóveis. Então, a aritmética simples mostra que essa opção não eliminaria nem 8% da demanda mundial de petróleo. E o impacto nas emissões globais de dióxido de carbono seria ainda menor.

Por quê? É preciso energia — o equivalente a 80 a 300 barris de petróleo — para fabricar uma bateria capaz de reter energia igual a apenas um barril. Assim, a energia usada para fabricar baterias traz uma "dívida" de carbono para os veículos elétricos que, dependendo de onde as fábricas estão localizadas, diminuem bastante ou até cancelam as emissões economizadas por não gastar combustível fóssil.

Nada disso muda o fato de que, pela primeira vez em um século, os veículos elétricos são opções interessantes para certos nichos de mercado. O crédito é dado aos três cientistas que receberam o Prêmio Nobel de 2019 de Química por inventarem a bateria de lítio — e a Elon Musk. Se os carros Tesla não fossem bem projetados e atraentes, mesmo os subsídios não teriam atraído compradores abastados. Nem toda montadora estaria tentando competir. Mas olhando em perspectiva as vendas em nichos de mercado: até o impressionante total de mais de 500.000 carros Tesla vendidos nos primeiros seis anos foi ofuscado pelas vendas do Ford Mustang: 2,5 milhões no mesmo período.

A realidade: não existe uma maneira fácil de mudar radicalmente o uso de energia dos carros convencionais, sendo 100 milhões comprados a cada seis anos nos Estados Unidos. E, como observa a Agência Internacional de Energia, as melhorias de eficiência esperadas para os motores de combustão economizarão 300% mais energia global do que todos os veículos elétricos previstos para as estradas em 2040.

O senador Schumer está procurando fazer uma revolução nos transportes em todos os lugares errados. A cidade de Nova York foi o epicentro da última revolução de mobilidade da história, quando os cidadãos adotaram o automóvel, deixando para trás a era das ruas imundas, congestionadas por cavalos inconvenientes e caros, e uma taxa de mortalidade dez vezes maior do que hoje para os passageiros de automóveis. Mudar o combustível usado pelos carros de hoje não é mais revolucionário do que mudar o tipo e a fonte de ração para cavalos há 120 anos.

Para uma verdadeira revolução energética, os legisladores deveriam se unir a Bill Gates, pedindo o único caminho viável para um futuro radicalmente diferente: muito mais pesquisa nas ciências básicas. Isso exigirá prioridades orçamentárias diferentes, além de paciência. Enquanto isso, se os carros elétricos de hoje fossem genuinamente atraentes, os consumidores não precisariam ser obrigados a comprá-los.

*Mark P. Mills é autor do recém-lançado ‘The New Energy Economy: an Exercise in Magical Thinking’.

©City Journal 2019. Publicado com permissão. Original em inglês


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