Fazer com que meus pais e avós falassem sobre suas experiências durante a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial sempre foi difícil. Eles viveram numa época pré-Dr. Phil [psicólogo celebridade dos Estados Unidos], antes que as pessoas expusessem em público seus pensamentos mais profundos.
Imagino como eles reagiriam ao pânico atual causado pela pandemia de Covid-19. Acho que a reação deles seria bem diferente da nossa.
Entre 1931 e 1940, a taxa de desemprego durante a Grande Depressão ultrapassou os 14%. Um em cada 4 norte-americanos estavam sem trabalho. Não chegamos a esse nível hoje, mas no último mês a quantidade de norte-americanos que pediu o seguro-desemprego chegou a 22 milhões. Alguns preveem que a situação ainda vai piorar.
A Comissão Orçamentária do Congresso prevê que a taxa de desemprego chegará a 16% em setembro. Temos uma população maior hoje e potencialmente mais postos a serem perdidos do que havia nas gerações anteriores.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os homens eram recrutados em todos os lugares. Jovens, muitos dos quais sem jamais terem saído de suas cidadezinhas, foram enviados para o exterior. Mais de 418 mil militares e civis norte-americanos morreram na Segunda Guerra Mundial. A quantidade de mortes atribuídas à Covid-19 nos Estados Unidos é de aproximadamente 55 mil. Naquela época, uma única morte era relevante; toda morte hoje é mais do que estamos preparados para suportar. Temos de fazer de tudo para reverter a maré.
Alguns de nós reclamamos por termos de fazer fila para entrar no supermercado, por usarmos máscaras ou por praticarmos o distanciamento social. As gerações anteriores tinham cupons de racionamento e viviam sem boa parte dos alimentos e facilidades de que gozamos hoje em dia. E eles viveram assim por 15 anos, de 1930, quando a Grande Depressão realmente começou a afetar as pessoas, até o Dia da Vitória, em 1945. Algumas pessoas passaram por dificuldades durante vários anos depois do fim da guerra.
Acho que, em parte, reclamamos porque aqueles de nós que nos beneficiamos dos sacrifícios dos nossos pais e avós jamais tivemos de passar pelo que eles passaram. Essa era uma das motivações por trás da ideia de “segui sempre em frente”, isto é, se sacrificar para que seus filhos e netos não tivessem de passar pela mesma coisa.
Isso foi uma bênção, mas também uma maldição.
Por não precisarmos sacrificar nada e por nos dizerem que sempre devemos esperar mais e melhor de tudo, sentimos que nossos direitos nos foram roubados. Sem sabermos o que é o sacrifício, parece que somos incapazes de reagir à adversidade de uma forma positiva, uma forma que provavelmente vai nos tirar da situação atual ou ao menos vai nos manter de pé nela.
Aquelas gerações anteriores balançariam negativamente a cabeça ao verem como estamos reagindo aos atuais desafios econômicos.
Eles lidaram com a varíola e a pólio. Eles leram nos jornais ou ouviram no rádio as pessoas dizendo que os Estados Unidos jamais seriam os mesmos? Não, eles ouviram Franklin Roosevelt dizer “A única coisa a temer é o medo em si” e Winston Churchill dizendo aos britânicos: “Nunca desista. Nunca desista. Nunca, nunca, nunca, nunca – em nada, grande ou pequeno, importante ou não – nunca se renda, a não ser à sua honra e ao bom-senso”.
O presidente Donald Trump tenta ser otimista, dizendo que os Estados Unidos sairão dessa mais fortes do que antes da pandemia, mas ele está sendo silenciado pelas vozes do pessimismo e derrotismo que soariam estranhas às gerações anteriores.
Parafraseando a música, se não conseguimos vencer nos Estados Unidos, onde é que vamos conseguir? Abençoados os governadores que estão reabrindo algumas empresas em seus estados. Levará algum tempo para sabermos se as decisões deles foram boas ou ruins, mas esses líderes estão se comportando de um jeito que aqueles que já se foram admirariam.
O segredo é a atitude. Foi o que meus pais e avós me ensinaram, não tanto com palavras, mas dando o exemplo.
*Cal Thomas é colunista, escritor, apresentador e palestrante.
© 2020 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês
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