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Num texto recente para o “New York Times”, intitulado “Quando consentimos, não deveríamos nos sentir mal depois, né?”, Emma Camp, recém-formada pela Universidade da Virgínia e editora da “Reason” que causou furor com um artigo que criticava a supressão da liberdade de expressão nos campi, fala de como a elite ensina aos jovens sobre sexo. Ela menciona uma sessão de orientação para calouros da qual participou e que ensina os alunos a lidarem com as situações envolvendo sexo na universidade.
Em reação a uma epidemia de assédio sexual no campus, a universidade enfatizava a importância de ensinar os alunos a pedirem o consentimento dos parceiros. Ainda que o consentimento seja importante para uma relação sexual saudável, os membros da Geração Z estavam aprendendo que somente o consentimento bastava para que a experiência fosse boa. Camp, porém, argumenta que há muitos outros aspectos da vida sexual, como comprometimento, confiança e segurança emocional, e que a educação sexual deveria tratar disso.
O texto de Camp é sinal de uma mudança cultural que está acontecendo entre essa geração. Criada em meio à mentira que as gerações mais antigas contaram com o movimento “amor livre” dos anos 1960, eles começam a perceber a objetificação repulsiva que nasce desse tipo de cultura. Por consequência, a cultura da Geração Z está começando a refletir os problemas dela com o sexo casual.
Os membros da geração Z (também chamados de “zoomers”) se acostumam ao sexo insatisfatório já no começo da vida adulta, graças ao aparato que alimenta essa cultura: a indústria da pornografia. Ainda que os Estados Unidos tenham leis que impeçam menores de consumirem pornografia, essas leis são ineficientes, uma vez que a idade da primeira experiência pornográfica é hoje de 13 anos, de acordo com a American Psychological Association. Outros estudos estimam que essa idade chegue aos 11 anos. As crianças da geração Z, incapazes de consumir pornografia com um mínimo de ceticismo, cresceu aceitando o sexo como um ato meramente transacional.
A estrela pop Billie Eilish expressou o sofrimento dos jovens para o apresentador Howard Stern em dezembro. Eilish, então com 19 anos, disse ter começado a consumir pornografia aos 11 e disse que isso foi uma “desgraça que realmente destruiu meu cérebro, e eu fiquei arrasada por ter me exposto a tanta pornografia”. Além disso, a pornografia distorceu a visão dela quanto ao sexo. “Nas primeiras vez que fiz sexo, não rejeitei coisas que não eram boas. Isso porque eu achava que aquelas coisas tinham que me atrair”, contou ela.
Depois de passar os anos de pré-adolescência e adolescência enganados pela pornografia, os zoomers dão início à vida sexual com uma visão horrível do assunto, visão que aceitam e tratam como se fosse a regra, o que os leva a terem vidas sexuais sem sentido, assim como acontecia com seus pais. Mas talvez eles estejam descobrindo que essa visão do sexo é insatisfatória, o que fica claro no tipo de mídia que essa geração consome. Os dramas adolescentes geralmente refletem o comportamento da plateia; eles não são alta cultura que pretendem desafiar a opinião do público consumidor, por isso a mensagem desses filmes e séries pode nos ajudar a avaliarmos as crenças dos jovens.
A série “Bridgerton”, da Netflix, mostra a insatisfação juvenil. Ainda que critique a visão puritana do sexo que predominou na Inglaterra do começo do século XIX, a série não deixa de criticar o sexo casual. Um elemento fundamental da primeira temporada é a transformação de Simon Bassett, interesse amoroso e futuro marido da protagonista, Daphne Bridgerton. Antes de conhecer Daphne, Simon é promíscuo, mas a série mostra com bons olhos a rejeição dele ao sexo casual. Simon passa a se dedicar e cuidar apenas da esposa. Ao longo da série, as cenas de sexo, mesmo o sexo antes do casamento, são resultado de um compromisso entre dois personagens.
Outra série da Netflix a tratar do assunto é “Outer Banks”, que retrata o protagonista, o órfão John B. Routledge, em sua busca por um tesouro escondido. Uma subtrama da série é a relação dele com Sarah Cameron, que hesita em “dar o próximo passo” em seu relacionamento com o atual namorado, Topper. Depois de terminar com Topper e começar a namorar John B., o casal apaixonado discute o tema. John B. descreve sua primeira vez com uma mulher qualquer de Cincinnati. “Eu me senti uma m****”, diz ele, e os dois chegam ao consenso de que o sexo casual é insatisfatório.
Isso não quer dizer que os zoomers estejam preparados para adotar a moralidade cristã. “Bridgerton” não condena os casais que fazem sexo fora do casamento e “Outer Banks” mostra John B. e Sarah fazendo sexo logo depois de ter a conversa descrita no parágrafo anterior. Além disso, a forma como essas séries tratam do assunto não é universal. Outras produções, como “Riverdale”, ignoram totalmente o caráter moral do sexo.
A insatisfação tampouco surge da oposição moral com base na ideologia. Ela é simplesmente resultado de uma geração sentindo os efeitos da exposição a uma ideia de sexo que é degradante tanto ao ato em si quanto aos envolvidos. Os zoomers estão descobrindo que, ao contrário do que lhes ensinam as autoridades universitárias, relações sexuais saudáveis exigem mais do que o mero consentimento. Diante dessa percepção surge a possibilidade de se criar uma geração mais dedicada ao casamento. Se um comprometimento maior torna o sexo mais agradável, a conclusão lógica é a de que o sexo é melhor quando envolve um comprometimento maior, isto é, no casamento. A geração Z está descobrindo que as gerações mais velhas lhe deram conselhos equivocados. Nossos jovens têm problemas, claro, mas eles também têm a capacidade de resolvê-los. No final das contas, talvez os jovens estejam com a razão.
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Charles Hilu é cientista político e redator da National Review.