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Enquanto a Suprema Corte dos Estados Unidos decide se mantém o “direito ao aborto” criado pelo judiciário no caso Roe vs. Wade, os membros da esquerda feminista entram em pânico.
Os direitos das mulheres, insistem eles, implodirá se elas não puderem abortar seus filhos. Somente esse “direito” poderia equalizar as desigualdades biológicas naturais que impõem às mulheres o fardo da gestação e do parto.
Essa guerra contra a biologia é fundamental para a definição que a esquerda dá para a autonomia do ser humano. Nas páginas do “New York Times”, a ativista democrata Elizabeth Spiers deixou isso bem claro ao argumentar que o aborto deve ser considerado a alternativa moral à adoção.
“Quando acordava”, escreve ela, "meu filho acordava pouco depois e eu o sentia se virando e se espreguiçando e, de uma forma nada prazerosa, pressionando seu pezinho contra meu útero. Esse é um dos paradoxos da gravidez: um alienígena usurpa seu corpo, suga seus nutrientes e energia, mas você está programada para permitir alegremente isso, protegendo-o desesperadamente. É uma espécie de lavagem cerebral biológica”.
Lavagem cerebral biológica. As mesmas pessoas que dizem que a biologia determina que você pode ser um homem num corpo de mulher e que isso não é disforia de gênero — uma forma de lavagem cerebral biológica — e sim uma realidade objetiva que as sociedades deveriam aceitar também argumentam que a biologia gera relações moralmente injustas entre a mãe e a criança.
Como diz Spiers, “a lavagem cerebral biológica (...) ocorre durante a gestação”. Mas mulheres não podem “simplesmente optar por não ter uma relação afetiva com a criança que elas estão gestando apenas com base no fato de não estarem preparadas ou de não se verem como alguém capaz de sustentar a criança”. Isso significa que as mulheres deveriam cogitar matar a criança em vez de dá-la para adoção.
A ideia de uma “lavagem cerebral biológica” não para na relação de afeto entre mãe e filho. Na semana passada, a deputada Alexandria Ocasio-Cortez, uma estrela tola do Instagram, chamou a oposição ao aborto de “legalização do parto forçado”.
Para ela, a biologia em si é uma imposição sobre as mulheres (a esquerda convenientemente ignora o termo orwelliano “pessoas que dão à luz” quando se trata do aborto). Para ela, pôr fim à gestação por meio do assassinato de um feto é uma restauração da ordem natural.
A verdade é o extremo oposto disso, claro. A consequência previsível do sexo – na verdade, o objetivo biológico do sexo – é a procriação. O processo por meio do qual a concepção resulta num parto é contínuo e natural. Interferir nesse processo por meio do assassinato de uma vida humana por nascer é a própria definição do que não é natural.
Mas esta é a visão de mundo esquerdista, segundo a qual a autonomia verdadeira representa um confronto entre a carne e o espírito. De acordo com a esquerda, qualquer controle de nossos desejos – até mesmo uma análise biológica – deve ser derrubado a fim de se criar um cenário de oportunidades iguais. Na biologia, mulheres são diferentes dos homens; portanto, a biologia deve ser combatida.
O resultado dessa loucura é óbvio: homens e mulheres cada vez mais afastados, furiosos diante da realidade da vida e dispostos a ignorar aquela que talvez seja a maior alegria da existência – a perpetuação da espécie humana por meio do nascimento de bebês.
Mas outras civilizações não são suicidas assim. Enquanto nos envolvemos com esse tipo de questão, focados em nossa sensação subjetiva de autonomia, outras civilizações reconhecem que a biologia é, no mínimo, uma realidade inescapável. Essas civilizações que se adequam à bela realidade prosperarão. As que não fazem isso acabarão por se destruir.
Ben Shapiro é apresentador do “Ben Shapiro Show" e editor emérito do Daily Wire.