O ensino de matemática nos Estados Unidos segue tradicionalmente uma sequência: Álgebra I na oitava série, seguida nas séries seguintes por Geometria, Álgebra II e Pré-cálculo. A progressão é projetada para dar a todos os alunos uma boa base em matemática e permitir que alunos avançados façam Cálculo na décima segunda série [algo equivalente ao último ano do ensino médio no Brasil], preparando-os academicamente para cursos universitários em STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática). Uma pesquisa mostra que o acesso precoce à álgebra resultou em mais alunos fazendo cursos avançados de matemática mais tarde no ensino médio e em maior desempenho acadêmico. Por exemplo, fazer álgebra na sexta série é uma das principais razões pelas quais os alunos da China e de Cingapura costumam superar os alunos dos EUA em matemática e ciências.
No entanto, a política de matemática do San Francisco Unified School District (SFUSD — Distrito Escolar Unificado de San Francisco), implementada em 2014, retardou os alunos ao atrasar a Álgebra I até a nona série. A política também exige que todos os alunos, independentemente da capacidade, façam a mesma sequência de curso até o primeiro ano, um processo chamado “detracking”. Então, na décima primeira série, os alunos podem fazer um curso comprimido de Álgebra II e Pré-cálculo. O objetivo declarado dessa abordagem era tornar igualitário o acesso a cursos avançados de matemática.
Os líderes do SFUSD afirmam que a política foi bem-sucedida porque a taxa de reprovação/repetição em Álgebra I vem caindo desde 2014 e porque mais alunos negros e hispânicos na décima primeira série estão matriculados na classe de compressão Álgebra II/Pré-cálculo, que o distrito rotulou como “ matemática avançada”. Jo Boaler, professor da Universidade de Stanford e um dos autores da estrutura matemática proposta pela Califórnia, promoveu os resultados do SFUSD como evidência de que o resto dos distritos escolares da Califórnia deveriam adotar uma abordagem semelhante.
Pesquisadores e grupos de defesa dos pais, como Families for San Francisco (FSF — Famílias por San Francisco), consideraram as alegações do SFUSD enganosas. A análise da FSF revelou que o distrito reduziu a taxa de reprovação/repetição em Álgebra I apenas eliminando a exigência de aprovação no exame de saída do Teste de Padrões da Califórnia em Álgebra 1. Quanto à alegação do distrito de que a matrícula em matemática avançada aumentou, a FSF observou que o sistema da Universidade da Califórnia rejeitou a classificação do SFUSD de sua classe de compressão como “matemática avançada” por causa de seu conteúdo pré-cálculo inadequado. Um grupo de professores STEM também declarou que o curso de compressão é “antitético à preparação responsável”. Depois de excluir os dados de matrícula da classe de compressão, a análise da FSF mostra que a matrícula em aulas de matemática avançada realmente diminuiu. Pior ainda, outro estudo descobriu que as diferenças de desempenho entre os grupos raciais e étnicos em matemática aumentaram desde que o SFUSD implementou essa política de matemática.
Em 2016, mais de 1.000 pais assinaram uma petição para trazer de volta Álgebra I na oitava série. Depois que o distrito escolar rejeitou a petição, as famílias com recursos recorreram a várias soluções alternativas, como pagar aulas particulares, tutores ou matricular seus filhos em escolas particulares. Um avô preocupado admitiu ter pago mais de US$ 800 para que sua neta fizesse um curso online de Álgebra I no verão, antes de ela começar a nona série. Ele está se preparando para pagar mais US$ 1.000 para inscrevê-la em uma aula de pré-cálculo online neste verão. Enquanto isso, os alunos mais pobres, muitos deles minorias, estão presos no sistema sem saída. Poucos deles se formarão em STEM na faculdade ou encontrarão carreiras utilizando essas habilidades.
Um estudo recém-divulgado por pesquisadores da Universidade de Stanford confirma que a política matemática do SFUSD não produziu equidade. As lacunas raciais e étnicas nas matrículas em cursos avançados de matemática quase não mudaram: “a porcentagem de estudantes negros matriculados em qualquer curso avançado de matemática permaneceu estatisticamente significativamente indistinguível do período pré-política, enquanto a matrícula de alunos hispânicos em matemática avançada aumentou 1 ponto percentual. ” O estudo também confirma que “atrasar Álgebra I até a nona série tornou difícil para alguns alunos concluir a sequência de pré-requisitos do curso que os posicionaria para fazer AP Calculus [exame que pode ser usado para ganhar créditos universitários ou avançar em programas de matemática em universidades dos Estados Unidos e de outros países] antes de se formarem”. Assim, podemos adicionar a sequência matemática do SFUSD à longa lista de políticas progressistas, desde o corte de fundos da polícia até leis de salário mínimo, que prometem equidade, mas acabam prejudicando as próprias comunidades que deveriam ajudar.
No entanto, o SFUSD não mostrou sinais de reverter o curso. Pior ainda, o Departamento de Educação da Califórnia está considerando seriamente adotar o currículo de matemática do SFUSD para o resto do estado.
Em março, pais fartos processaram o SFUSD, alegando que sua política de matemática piorou as diferenças raciais e étnicas ao impedir que os alunos que podem se destacar, especialmente aqueles de grupos pobres e marginalizados, avancem. O processo também acusa o distrito de violar o código educacional da Califórnia ao exigir que os alunos refaçam Álgebra I na nona série, mesmo que tenham sido aprovados em outro lugar.
Qualquer um que pense que a guerra de San Francisco contra a álgebra afeta apenas aqueles que moram lá deve pensar novamente. Se a Califórnia adotar a política matemática do SFUSD em nível estadual, os progressistas de outros estados poderão seguir o exemplo. O que acontece na Califórnia frequentemente acontece com a nação.
No ano passado, cerca de 1.800 educadores, profissionais STEM e cientistas, incluindo ganhadores do Prêmio Nobel, assinaram uma carta aberta alertando contra uma ampla adoção da política matemática do SFUSD: “Reduzir o acesso à matemática avançada e elevar os cursos modernos, mas superficiais, sobre as habilidades fundamentais causaria danos duradouros à educação STEM no país e exacerbar a desigualdade ao diminuir o acesso às habilidades necessárias para a mobilidade social”. Isso também prejudicaria a competitividade econômica do país. América, você foi avisada.
Helen Raleigh é colaboradora sênior do site Federalist e autora de "Confucius Never Said" [Confúcio nunca disse isso] e "Backlash: How China’s Aggression Has Backfired"[Como a agressão chinesa saiu pela culatra].
©2023 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês.
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