Em 4 de julho de 2020, algumas centenas dos meus então colegas na Universidade de Princeton assinaram uma carta aberta apoiando uma série de demandas dos estudantes feitas em nome do "antirracismo" e propondo políticas alarmantes, como a criação de um comitê docente para policiar "comportamentos racistas". Quatro dias depois, publiquei um dissenso solitário no qual reconheci o direito dos signatários de expressarem suas visões. Também sugeri – e um mês depois, Conor Friedersdorf chegou a uma conclusão semelhante – que a maioria deles provavelmente não acreditava em todas as coisas nas quais estavam colocando seus nomes, ou talvez nem houvesse lido o documento.
Corte para 7 de outubro de 2023. Nos dias após o Hamas invadir Israel e cometer atos indescritíveis de brutalidade, fiquei agradavelmente surpreso que os professores de Princeton não tenham elaborado outra carta como essa. Talvez, pensei, eles tenham aprendido que era imprudente apoiar grupos como a filial do Estudantes pela Justiça na Palestina (SJP) em Princeton, que havia agendado uma “aula aberta" pró-Hamas no mesmo horário de uma vigília previamente anunciada em memória dos israelenses que o Hamas havia massacrado, e que divulgou um manifesto culpando Israel pelo mal do Hamas.
Em 22 de outubro, no entanto, o jornal Daily Princetonian publicou "Uma carta aberta de professores e estudantes de Princeton em solidariedade a Gaza". Esta nova carta recebeu até agora 664 assinaturas de pessoas afiliadas a Princeton, 69 delas funcionários da universidade.
Como esta carta não foi publicada no calor de algum momento traumático, mas apareceu mais de duas semanas após os ataques surpresa do Hamas a Israel, há pouca chance de alguém tê-la assinado sem entender o que está em jogo. O fato de ela ter sido produzida com "cuidado" torna seu conteúdo ainda mais horrível: muito pior, na minha visão, do que a reação impulsiva de um grupo de universitários.
Após começarem com uma breve expressão de "luto" pela "trágica perda de vidas israelenses e palestinas", os signatários deixam claro onde se posicionam: "O contínuo ataque israelense à Faixa de Gaza deve ser interrompido". Eles nada dizem sobre as ações da Jihad Islâmica Palestina e mencionam o Hamas apenas uma vez. Eles também reverberam a desinformação sobre o bombardeio do Hospital Árabe Al-Ahli.
Como em 2020, defendo o direito dos meus ex-colegas de dizerem coisas repugnantes. Como disseram recentemente Nadine Strossen e Pamela Paresky, "até mesmo antissemitas merecem liberdade de expressão".
Os signatários da nova carta aberta, no entanto, parecem estar iludidos de que a administração de Princeton pode puni-los por expressarem suas opiniões. Eles afirmam que o atual "ambiente político (...) serve para justificar ameaças crescentes e a criminalização da liberdade de expressão e da liberdade acadêmica envolvendo o fim da ocupação dos territórios palestinos". E eles "exigem garantias contínuas e inabaláveis de liberdade de expressão para nosso corpo docente, e especialmente para nossos estudantes".
Vindo deles, um interesse na liberdade de expressão e acadêmica é bastante irônico. Muitas das mesmas pessoas também assinaram a carta de julho de 2020 e não se juntam a organizações não partidárias como a Aliança pela Liberdade Acadêmica (que ajudei a fundar) ou apoiam a Fundação pelos Direitos e Expressão Individuais e Expressão, porque – e devo enfatizar isso – elas não acreditam realmente na liberdade de expressão ou na liberdade acadêmica. Na verdade, a presença dessas pessoas no campus ajuda a explicar o estado lamentável da liberdade de expressão em Princeton.
Por acaso eles defenderam a liberdade de expressão quando, durante o ano acadêmico de 2021-22, a administração usou as normas do Título IX para conceder aos estudantes pró-Palestina "ordens de não-comunicação" contra jornalistas estudantis judeus, impedindo, na prática, os estudantes judeus de escreverem sobre conflitos no campus sobre o Oriente Médio? (Sobre essa história chocante, leia o artigo contundente da atual estudante Danielle Shapiro no Wall Street Journal.) Não, eles não defenderam. Nade de "garantias inabaláveis de liberdade de expressão (...) especialmente para nossos estudantes".
Por acaso eles defenderam a liberdade de expressão quando manifestantes interferiram ruidosamente em uma palestra em março passado sobre as (sim, controversas) propostas de reforma judicial em Israel – palestra da por Ronen Shoval, um israelense que passou um ano como professor em Princeton (e agora retornou ao seu país para lutar na guerra)? Não, eles não defenderam. Na verdade, três professores titulares (um dos quais assinou tanto a carta de julho de 2020 quanto a carta de Gaza) recorreram às páginas do Daily Princetonian para denunciá-lo, sugerindo, como um deles afirmou, que Shoval tem "afinidade com visões fascistas".
Esses membros do corpo docente parecem se importar apenas com a liberdade de se expressarem de maneiras que muitos de nós consideram antissemitas. Em fevereiro, por exemplo, um jovem antissemita virulento, o ativista palestino e "influenciador" Mohammed El-Kurd, proferiu uma palestra nomeada no campus por convite do departamento de inglês. O presidente interino do departamento (que assinou tanto a carta de julho de 2020 quanto a carta de Gaza) defendeu El-Kurd e sua palestra, afirmando que "[o] compromisso do Departamento de Inglês é garantir que sua voz possa ser ouvida".
Depois, no início deste outono, um professor de estudos do Oriente Médio de Princeton, Satyel Larson, pediu aos alunos que lessem um livro tendencioso segundo o qual o governo israelense mutila palestinos intencionalmente e colhe seus órgãos. Infelizmente, concordo com a avaliação ponderada de Myles McKnight de que Larson estava em seu direito ao pedir que seus alunos lessem o livro. É revelador, no entanto, que um caso que parece ao mundo todo configurar antissemitismo possa mobilizar 37 membros do corpo docente e funcionários – além de mais de 350 estudantes, ex-alunos e o que se poderia chamar de "aliados" – para assinar uma carta aberta "em solidariedade a Satyel Larson e em apoio à liberdade acadêmica".
Esta está a situação: a liberdade de expressão e a liberdade acadêmica são vitais para extremistas de esquerda, mas aqueles que assinam tais cartas geralmente recusam os mesmos direitos àqueles com quem discordam. Como um professor de clássicos de Princeton, um dos principais signatários de todas as três cartas abertas, informou a classe de calouros em agosto de 2021: o que a maioria de nós chama de liberdade de expressão aparentemente tem um "sentido masculinizado, de ostentação de bravura". O que é realmente necessário, ele disse, é "uma liberdade de expressão e um discurso intelectual que sejam adaptados para um objetivo específico, e esse objetivo é a promoção da justiça social, e uma justiça social antirracista." Obviamente, isso não é uma defesa da liberdade de expressão ou de discurso, intelectual ou de outra forma.
É inegável que a resposta à carta aberta de julho de 2020 levou à revogação (altamente incomum) da minha titularidade como professor. Por isso, talvez não surpreenda que, mesmo com multidões consideráveis em espaços proeminentes no campus cantando "viva a intifada" e "do rio ao mar, a Palestina será livre", nenhum membro do corpo docente de Princeton tenha publicamente desautorizado aqueles que assinaram a nova carta "em solidariedade com Gaza". Não é surpreendente, mas é muito triste.
Joshua T. Katz é pesquisador sênior no American Enterprise Institute.
© 2023 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês: Double Standards at Princeton