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No último domingo (14), Bill Gates (patrimônio líquido de US$ 133 bilhões) e Anderson Cooper (US$ 110 milhões) se reuniram no programa jornalístico 60 Minutes para discutir os numerosos sacrifícios que os americanos deverão fazer para evitar uma catástrofe climática iminente.
Em primeiro lugar, vamos nos abster de chamar esses tipos de conversas de "jornalismo", uma vez que Cooper nunca questiona qualquer uma das previsões terríveis de Gates, tampouco mostra uma pitada de ceticismo profissional em relação ao assunto. Cooper simplesmente avança para o próximo ponto da conversa como um apresentador de slides numa reunião corporativa.
Gates, que lançou um novo livro chamado How to Avoid a Climate Disaster [Como evitar um desastre climático], disse a Cooper que acredita que a mudança climática “é o desafio mais difícil que a humanidade já enfrentou” e que as nações ricas – não a China ou a Índia, pode-se supor – devem chegar a zero emissões de carbono até 2050 ou o mundo estará basicamente destruído. Não 40%, nem 5%: zero.
Em outra parte da entrevista, Gates pediu um "esforço total nacionalista, você sabe, como uma guerra mundial, mas agora somos nós contra os gases de efeito estufa".
Os americanos usam mais de 20 milhões de barris de derivados de petróleo todos os dias – agora mais abundantes e mais fáceis de extrair do que nunca. Então, a menos que surja alguma tecnologia completamente nova, será necessária uma tecnocracia fascista para vencer esse conflito. Mas eu não uso "fascista" levianamente aqui. Nem estou sugerindo que Gates vislumbre agentes da Gestapo chegando em bando em frente a sua porta toda vez que você deixa o ar-condicionado abaixo de 23 graus. Aliás, que tipo de monstro teria um ar-condicionado com uma ameaça de extinção pairando sobre a humanidade?
Ele, no entanto, prevê o Estado ditando virtualmente todas as decisões tomadas pela indústria relacionadas às emissões de carbono – ou seja, toda a economia. Se houver uma frase mais precisa que “tecnocracia fascista” para descrever uma economia controlada pelo Estado que dirige a propriedade privada e pública sobre os meios de produção durante a guerra, terei o maior prazer em usá-la.
É claro, se Gates está interessado em lutar uma guerra contra o dióxido de carbono em sua casa de 6,1 mil m², isso é problema dele. Espero que ele invista pesadamente em novas tecnologias de energia – além de sua empresa de jatos particulares – porque as que temos agora são irremediavelmente inadequadas para a tarefa de alcançar o futuro que ele vislumbra, para não dizer proibitivamente caras para o cidadão médio que suporta os custos da escassez artificial.
Durante a onda de frio desta semana, os preços da energia dispararam no Texas e em outros estados, e milhões enfrentaram apagões contínuos – que já são norma na Califórnia – em parte porque a capacidade significativa da geração de energia por combustível fóssil foi entregue às alternativas solares e eólicas não confiáveis. Não é apenas o custo, é a confiabilidade.
Dito isso, o livro de Gates é mais interessante quando ele está propondo ideias. Algumas parecem bobas e desnecessárias, mas outras, como a captura de carbono, o armazenamento térmico, o hidrogênio barato e usinas nucleares de próxima geração são atraentes o suficiente. Mesmo eu – um troglodita autoproclamado e verdadeiro fã de combustíveis fósseis – ficaria feliz em trocá-los assim que surgissem outras fontes acessíveis e confiáveis.
Mas, embora Gates seja muito mais honesto sobre as compensações da descarbonização do que outros, ele ainda depende muito da criação do medo e de previsões terríveis para fazer esses custos parecerem palatáveis, como fazem a maioria dos campeões do clima.
Gates, por exemplo, disse a Cooper que “a Guerra da Síria foi um vigésimo de como será a migração climática”. (“Um vigésimo da Guerra da Síria” é um cálculo científico?) Em seu livro, ele afirma que na “pior seca já registrada na Síria – que durou de 2007 a 2010 – cerca de 1,5 milhão de pessoas deixaram as áreas agrícolas para as cidades”, preparando o cenário “para o conflito armado que começou em 2011.”
A crise climática está em curso há décadas, dizem, mas Gates é reduzido a falar sobre a Síria – cujo conflito os ambientalistas culpam a mudança climática, e outros de nós culpam a violência sectária, o ISIS e homens fortes do Baath –, porque tão poucas guerras são travadas por recursos.
Enquanto Gates alertava sobre a crise climática, milhões de pessoas em todo o mundo garantiram acesso regular a alimentos e água pela primeira vez. Enquanto os elementos naturais já mataram regularmente muitos americanos, desde 1980, todas as mortes causadas por desastres naturais e calor e frio estão bem abaixo de 0,5% do total. Mortes devido a eventos climáticos despencaram. A extrema pobreza global despencou. Os conflitos baseados no Estado despencaram. A poluição do ar despencou e as mortes por poluição do ar despencaram.
Quando o estado da Terra está melhorando em quase todas as formas quantificáveis, os alarmistas são obrigados a confiar em profecias que não apenas foram notoriamente erradas, mas raramente levam em consideração a adaptabilidade humana.
“Como as mudanças climáticas podem afetar você e sua família?” Gates pergunta retoricamente em seu livro. Cada situação que ele apresenta como motivo de preocupação quase certamente seria pior sem energia acessível. Gates, por exemplo, argumenta que as chuvas se tornaram menos previsíveis para os agricultores. Alguns anos elas têm 55 cm. Outros anos, 73. No passado, a precipitação era aparentemente a mesma todos os anos.
Gates monta algumas histórias sobre fazendeiros que lutam contra esse problema. Nossa própria comida está em risco, avisa ele.
“Pode parecer que estou escolhendo o exemplo mais extremo, mas coisas como essa já estão acontecendo”, admite Gates, “especialmente para agricultores pobres e, em algumas décadas, podem estar acontecendo com muito mais pessoas”.
Sim, Gates escolhe o que lhe agrada ao longo do livro. Os rendimentos da agricultura americana aumentaram dramaticamente devido à eficiência tecnológica. Os agricultores se adaptaram às variações climáticas recentes, como fazem há milhares de anos. A comida agora é muito mais acessível, “especialmente” para os pobres. As ideias de Gates ameaçariam essa realidade muito mais do que as mudanças climáticas.
Gates subestima o quão difícil será substituir toda a nossa infraestrutura de cimento e aço por versões de alta tecnologia. Ou como será difícil substituir todos os nossos sistemas de aquecimento e ar. Ou quão difícil será levar o país para a carne bovina sintética. “Você pode se acostumar com a diferença de sabor”, garante Gates.
A certa altura, Gates menciona um estudo que conclui que se espera que uma descarbonização de 90 a 95% da rede elétrica europeia "faça com que as taxas médias subam cerca de 20%". Bem, um aumento de 20% nas contas de energia prejudicaria bastante a economia. Esse custo também será arcado pelos consumidores de... tudo.
Não é dito o fato de que países como a Alemanha, sem uma descarbonização de 90%, já têm os maiores preços de eletricidade por residência do mundo, seguidos por Dinamarca, Portugal e Bélgica. Na verdade, oito dos dez mercados de energia mais caros do mundo podem ser encontrados na Europa. A diferença entre o que americanos e europeus pagam por energia é enorme. A Alemanha está fazendo acordos com a Rússia para construir um duto de gás natural, não outra fazenda solar. E boa sorte em conseguir que os americanos paguem oito dólares o galão pela gasolina.
Aqui está o que Gates também deveria estar perguntando: "Como os combustíveis fósseis afetaram as famílias americanas?" A resposta é: eles tornaram suas vidas melhores de uma maneira incalculável.
E embora haja algumas externalidades negativas associadas aos combustíveis fósseis, mitigamos muitas delas. Ele deveria perguntar: “Vale a pena criar intencionalmente grandes dificuldades econômicas para os Estados Unidos e revolver a modernidade a cada ano nos próximos 30 anos?” Porque essa é a única maneira de chegarmos a zero emissões de carbono em 30 anos.
David Harsanyi é redator sênior da National Review e autor de “First Freedom: A Ride through America’s Enduring History with the Gun”.