• Carregando...
José Victor Salazar Balza (28) em chamas durante confrontos violentos entre manifestantes e as forças de segurança da Venezuela, em maio de 2017 | RONALDO SCHEMIDTAFP
José Victor Salazar Balza (28) em chamas durante confrontos violentos entre manifestantes e as forças de segurança da Venezuela, em maio de 2017| Foto: RONALDO SCHEMIDTAFP

Em 30 de março de 2017, a mais alta corte da Justiça venezuelana, dominada por chavistas, decidiu tomar para si as competências da Assembleia Nacional. A manobra não durou muito tempo, mas foi motivo suficiente para gerar uma onda de manifestações por todo o país contra o governo do ditador Nicolás Maduro - provavelmente a mais intensa e mortal na história recente da América: durou 134 dias e matou ao menos 120 pessoas, segundo relatório do Observatório Venezuelano de Violência. 

Pouco tempo depois daquela decisão, Maduro disse que iria revisar o sistema democrático do país para formar uma Assembleia Constituinte que substituiria o poder legislativo. O anúncio fez se instalar no país uma guerra civil. Em 3 de maio, o clima era tenso nas ruas de Caracas e confrontos entre as forças de segurança nacionais e os manifestantes eram constantes. 

No meio de toda essa convulsão social, naquele dia o fotógrafo Ronaldo Schemidt estava seguindo um grupo de manifestantes em uma rua que já havia sido um bairro residencial tranquilo da capital. A uma certa altura os manifestantes estavam comemorando porque haviam conseguido pegar uma motocicleta da guarda nacional. 

“A moto estava no chão, em chamas, rodeada por vários jovens. Um deles bateu no tanque de gasolina, gerando uma explosão”, contou Schemidt ao British Journal of Photography. Foi nessa hora que o fotógrafo, sentindo o calor originado pela explosão, começou, quase que instintivamente, a fotografar a cena. Um dos rapazes estava em chamas. 

“Estava a poucos metros de distância de costas para ele, mas quando eu senti o calor das chamas, eu peguei minha câmera e me virei para começar a fotografar o que quer que tivesse acontecido. Isso aconteceu em apenas poucos segundos, então eu nem sabia o que estava fotografando. Fui movido pelo instinto, foi muito rápido. Eu não parei de fotografar até perceber o que estava ocorrendo. Havia alguém em chamas correndo na minha direção”, relatou ele. Este homem era José Victor Salazar Balza, de 28 anos. Ele sobreviveu ao incidente com queimaduras de primeiro e segundo grau.

Leia também: Dieta Maduro: venezuelanos estão perdendo peso porque não têm o que comer

Entre as muitas fotos que Schemidt fez daquela cena horrorizante, uma delas foi escolhida como melhor fotografia do ano pelo World Press Photo, o mais importante prêmio mundial de fotojornalismo. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (12). Segundo uma das juradas do concurso, a vice-diretora de fotografia da National Geographic, Whitney C. Johnson, a imagem é simbólica. “O homem tem uma máscara no rosto. Ele está ali para representar não apenas a si mesmo, e a si mesmo em chamas, mas a ideia da Venezuela em apuros”. 

Outro membro do júri, o fotógrafo chefe da AFP na Turquia, Bulent Kiliç, apontou para um pequeno detalhe da imagem que passa despercebido à primeira vista: há uma arma na parede e ao lado se lê ‘paz’. “Isso também faz a imagem ser impactante”, declarou. 

“É uma foto clássica, mas tem uma energia e dinâmica instantâneas. As cores, o movimento e é muito bem composta, tem força. Eu fiquei instantaneamente emocionada”, disse a diretora de fotografia da Geo France e membro do júri, Magdalena Herrera. 

Schemidt deve estar orgulhoso do prêmio que recebeu pelo seu excelente trabalho como fotógrafo, mas sabe que a situação do seu país, desde o dia que tirou a foto do homem em chamas, só piorou. 

“Durante aqueles dias houve muita violência nas ruas. Os protestos foram muito intensos, e você pode sentir que algo grande iria acontecer a qualquer momento. Agora a situação piorou. Não houve violência e houve muito poucos protestos, mas a comida e a medicação tornaram-se mais escassas. Os serviços estão cada vez piores. Sinto que a população está desapontada e resignada, muitos deles estão desesperadamente saindo do país, o que está causando a separação das famílias”, lamentou o fotógrafo venezuelano em entrevista à BJP. 

Leia mais: Crise na Venezuela força idosos a ‘começar do zero’, mesmo aos 90 anos

Sobre o fotógrafo 

Segundo a World Press Photo, Ronaldo Schemidt nasceu em Caracas, na Venezuela, em 1971. Enquanto estava cursando a faculdade de antropologia na Universidade Central da Venezuela, ele decidiu se mudar para o México para estudar fotografia. Em 2003, iniciou sua carreira como fotojornalista. Atualmente, ele trabalha para a Agence France Press (AFP) na Cidade do México. 

Apesar de morar no México, Schemidt cobriu alguns dos mais importantes eventos que ocorreram na Venezuela recentemente, como a morte do presidente Hugo Chávez, em 2013, a eleição de Maduro e os conflitos que ocorreram no país em 2017.

Leia também: Crise humanitária na Venezuela pode não ser comentada na Cúpula das Américas mais uma vez 

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]