O momento que Anna Lee Fisher estava esperando veio em uma tarde quente do verão de 1983. Cinco anos haviam se passado desde que Fisher e outras cinco mulheres foram escolhidas para se tornarem as primeiras astronautas americanas. Mas ela ainda não tinha ido ao espaço.
Seu chefe pediu para vê-la em seu escritório. Ele pediu que o marido, que também estava no programa de treinamento de astronautas, também comparecesse. Eles se sentaram juntos.
"Estou pensando", disse seu chefe, "em mandar Anna".
Era isso que Fisher, então com 33 anos, queria. Havia apenas uma pequena coisa a considerar — e estava crescendo dentro dela. No dia em que lhe pediram para entrar em um ônibus espacial e ser lançada no sistema solar, Fisher estava grávida de oito meses e meio.
Mesmo assim ela não hesitou.
"Nunca pensei em dizer não", disse ela, no mês passado, em entrevista ao Washington Post. "Você não diz não para uma oferta dessas."
E foi assim que Anna Fisher se tornou a primeira mãe do mundo a ir para o espaço. Algumas semanas depois de ser escolhida, Fisher deu à luz uma filha, Kristin.
Figura inspiradora
Em breve, ela comemorará o 35º aniversário de seu voo, o dia em que se tornou uma figura inspiradora para mães que trabalham em todos os lugares — inclusive para sua filha, Kristin, que é correspondente da Fox News no Distrito de Columbia e mãe de uma menina de 16 meses.
"Sempre cresci pensando que poderia ter um emprego exigente em tempo integral e ser mãe", diz Kristin. "Só quando engravidei e comecei a pensar na logística parei para refletir: 'Como ela conseguia?' "
A resposta é algo que Anna Fisher teve que descobrir rapidamente. Ela deu à luz Kristin em uma sexta-feira. Na segunda-feira, ela estava de volta à NASA, carregando uma almofada em forma de rosquinha que possibilitaria que ela ficasse sentada durante a reunião da equipe.
Ela queria enviar uma mensagem para seus colegas de trabalho e chefes: ela poderia ter tido um bebê, mas ainda estava trabalhando.
"Valeu a pena apenas ver os olhares em seus rostos", lembra.
Família sempre esteve nos planos
Fisher sempre planejou ter uma família e não omitiu do comitê de seleção para o programa de treinamento de astronautas durante a entrevista de seleção. Ela e seu marido, Bill, eram médicos na Califórnia, em 1977, quando se candidataram à chamada aberta da NASA para possíveis astronautas. Bill demoraria dois anos para se juntar a ela, em Houston.
Havia seis mulheres na turma de 35 novos astronautas — todas determinadas a garantir que seus colegas homens as tratassem como igualmente qualificadas. Sally Ride, que se tornaria a primeira mulher americana no espaço, foi com Fisher comprar calças folgadas para que elas estivessem vestindo roupas semelhantes aos homens da NASA. Fisher nunca usava maquiagem no trabalho. Ela frequentava o clube de esposas dos astronautas, para que as esposas de seus colegas não se sentissem desconfortáveis com uma mulher que trabalhasse tão intimamente com eles.
Durante 14 meses antes de seu voo, Fisher conseguiu lidar com seu treinamento e as obrigações da NASA e cuidar de sua filhinha. Ela e Bill pediram ajuda à mãe e contrataram uma babá. Ela começou a mostrar aos repórteres que os homens em seu voo também estavam deixando os filhos para trás.
No trabalho, ela aprendeu a servir como "Capcom", a pessoa no controle da missão que se comunica com os astronautas que já estão em órbita. Foi um papel importante, exigindo turnos longos e intensos — um comandante dela sugeriu que ela poderia desistir, se quisesse. "Você tem Kristin, você está treinando, é muita coisa", disse ele.
Fisher implorou para que ele reconsiderasse. Somente quando o controle da missão perdeu a conexão com o voo em órbita, Fisher entrou correndo no banheiro e bombeou o leite materno.
"Eles nunca tiveram salas de bombeamento ou algo assim", lembra Fisher. "Nunca me ocorreu pedir por uma. Nunca ocorreu a nenhuma de nós pedir acomodações especiais para nada."
Logo ela foi designada para o trabalho de projetar o patch da equipe que representaria o voo de sua equipe, STS-51-A. Ela colocou seis estrelas: uma para cada astronauta a bordo e outra para a bebê Kristin.
Nas semanas anteriores ao seu lançamento, em novembro de 1984, ela gravou dezenas de vídeos dela mesma com Kristin. Nos dias anteriores, ela escreveu uma carta à filha:
"Se alguma coisa acontecer comigo, saiba que eu te amo muito. Seu pai e sua avó cuidarão de você. E eu estarei cuidando de você."
Seu voo foi apenas a segunda viagem da NASA usando o ônibus espacial Discovery. Ela entendeu o risco ao qual estava se submetendo.
No dia em que ela foi para a plataforma de lançamento na Flórida, o marido usou o acesso da NASA para garantir que ele, Kristin e a mãe de Fisher estivessem lá para dar adeus. Então Fisher subiu a bordo do Discovery e foi para o céu.
"Eu te amo"
Seu voo consistia em uma missão de sete dias e 23 horas, focada na recuperação e no envio de satélites. Ao contrário dos astronautas de hoje, que podem telefonar e fazer videoconferência com seus filhos, Fisher não tinha como se comunicar com a família enquanto estava a bordo. Em vez disso, ela se sentava na janela da espaçonave, olhando para a Terra enquanto tocava uma fita que ela havia trazido em seu walkman, com uma gravação de Kristin dizendo: "I luh, eu luh [I love you, I love you]". Eu te amo.
Depois de viajar 5,3 milhões de quilômetros, Fisher voltou em segurança para casa. Ela colocou a carta que havia escrito para Kristin em sua caixa de jóias, agradecida de que sua filha nunca tivesse que lê-la — mas preparou-se para escrever outra na próxima vez que fosse ao espaço.
Dentro de um mês, ela foi designada para outro voo. Seis semanas antes, porém, o ônibus espacial Challenger explodiu. Uma das seis pessoas que perderam a vida naquele dia foi Judy Resnik, amiga de Fisher, que se juntou ao programa de astronautas ao lado dela.
Depois do Challenger, o programa do ônibus espacial parou e Fisher tirou uma licença de sete anos para criar Kristin e ter sua segunda filha, Kara.
Ela retornou à NASA em 1996, se tornou chefe da estação espacial e uma das astronautas com mais tempo de casa da história da agência.
Vida como avó
Até hoje, 50 mulheres americanas foram ao espaço, muitas delas mães. Muitas disseram a Fisher que, quando eram crianças, escreviam para ela. Ela lhes enviava uma foto e um autógrafo.
Ela adorava ouvi-las conversando umas com as outras nos corredores da NASA, mudando sem esforço de conversas sobre passeios espaciais e controles de missão para pediatras e reuniões infantis.
Em 2017, Fisher se aposentou da Nasa aos 67 anos. No mesmo ano, ela se tornou avó e logo se viu ajudando sua filha a lidar com as mesmas preocupações que tinha quando era mãe. O trabalho da filha Kristin como correspondente da Fox News significa que ela é frequentemente solicitada viajar pelo país e pelo mundo.
"Ela me liga e pergunta sobre viajar", diz Fisher. "Eu digo: 'Você se lembra de quando eu ia embora quando você tinha essa idade?' "
Kristin não se lembra. Ela diz que sua mãe sempre pergunta: "Você está feliz que eu tenha feito isso? Que eu tenha ficado longe de você, corrido o risco e ido para o espaço?" "
"E a resposta", diz Kristin, "é sem dúvida ‘sim’."
"Eu disse a Kristin para não se sentir culpada por estar longe", afirma Fisher. "Se você está fazendo algo que ama ou está trazendo o dinheiro, está fazendo algo importante para seu filho."
E quando ela pode, a Vovó, ou "Vó Anna" como Clara a chama, vai tomar conta dela enquanto Kristin trabalha. Em abril, Fisher foi a Washington para cuidar de Clara na noite em que Kristin e seu marido compareceram ao jantar dos correspondentes da Casa Branca.
Eles passaram o fim de semana lendo alguns dos livros que Fisher comprou para sua neta: "Química Orgânica para Bebês" e "Astrofísica para Bebês". E depois foram praticar sua atividade favorita. Fisher colocou Clara em um balanço, a puxou para trás e começou a contar.
"Cinco, quatro, três, dois, um", disse ela. "Decolar!".
Então ela soltou e viu sua neta balançar em direção ao céu.
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