A União Soviética não libertou o mundo da tirania na Segunda Guerra Mundial. Apenas ajudou a derrotar um mal enquanto impiedosamente tentava suplantá-lo com outro.
Mas você não saberia disso lendo um artigo da agência de notícias Associated Press no início de setembro.
A Associated Press declarou originalmente que a União Soviética e a Alemanha nazista eram “aliadas” no começo da Segunda Guerra Mundial. Em seguida, emitiu a seguinte correção:
… Em 1939, apesar de acentuadas diferenças ideológicas, as duas potências entraram em um pacto de não-agressão que abriu o caminho para que eles dividissem a Polônia, e para que a União Soviética assumisse os estados bálticos da Lituânia, Estônia e Letônia. Esse pacto nunca foi formalmente reconhecido como uma aliança e, em 1941, a Alemanha atacou a União Soviética.
É digno de nota que, segundo o jornal israelense Haaretz, essa correção ocorreu depois que a Rússia pressionou a publicação. O Daily Signal entrou em contato com a AP sobre a correção, mas não houve resposta ao pedido de comentário.
A verdade é que a URSS e a Alemanha nazista eram funcionalmente aliadas nos primeiros estágios da Segunda Guerra Mundial, como explicou o historiador Timothy Snyder em seu livro “Bloodlands: Europe Between Hitler and Stalin” [Terras de sangue: A Europa entre Hitler e Stalin].
As “nítidas diferenças ideológicas” entre esses dois sistemas impiedosos talvez não fossem tão nítidas na realidade. Ambos se opuseram fundamentalmente a conceitos como “direitos naturais” e governo limitado do povo, pelo povo e para o povo.
Isso pode ser visto na Ucrânia, país que sofreu primeiro sob a tirania soviética, depois sob a tirania nazista.
Nos anos 1930, a União Soviética conduziu um programa para explorar a Ucrânia, um celeiro da região, tomando sua comida, o fruto de seu trabalho e matando-os de fome.
“Os ucranianos morreriam aos milhões, na maior fome artificial da história do mundo”, escreveu Snyder – fato obscurecido por uma propaganda pró-comunista no The New York Times, de Walter Duranty.
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Os soviéticos logo perderiam o controle, mas a miséria da Ucrânia estava longe de terminar.
“… Em 1941, Hitler tiraria a Ucrânia de Stalin e tentaria realizar sua própria visão colonial, começando com o tiroteio de judeus e a fome de prisioneiros de guerra soviéticos”, escreveu Snyder. “Os soviéticos colonizaram seu próprio país e os nazistas colonizaram a Ucrânia soviética: os habitantes da Ucrânia sofreram e sofreram”.
Essa história foi muitas vezes obscurecida pelo fato de a Alemanha ter se voltado contra a União Soviética, forçando a União Soviética a se aliar à Grã-Bretanha e aos Estados Unidos para formar uma aliança poderosa, mas incompatível ideologicamente, a fim de derrotar uma ameaça maior.
Em agosto de 1939, a Alemanha nazista e a União Soviética assinaram o Pacto Molotov-Ribbentrop. Em setembro, ambos os poderes invadiram e ocuparam a Polônia juntos sob este tratado de não-agressão. Os dois beligerantes continuaram a dividir grande parte da Europa Oriental até a decisão infeliz de Hitler de se voltar contra Stalin em 1941 – o que levou os soviéticos a cooperar com os Aliados.
É importante reconhecer essa história, tanto quanto a Rússia gostaria de ignorá-la.
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Muitos foram certamente salvos da tirania nazista devido ao esforço de guerra da União Soviética. A União Soviética desempenhou um papel vital na derrota da Alemanha nazista, fornecendo a mão-de-obra necessária para esmagar o exército alemão na Frente Oriental. Os soviéticos até liberaram a maioria dos campos de concentração nazistas proeminentes, incluindo Auschwitz.
Mas aqueles que foram libertados da tirania nazista logo cairiam sob outra tirania, uma baseada em Moscou.
Somente a Grã-Bretanha e os Estados Unidos libertaram as pessoas da tirania em larga escala.
Não devemos esquecer que a União Soviética entrou na Segunda Guerra Mundial em aliança com Hitler e perpetrou seus próprios crimes hediondos na conquista da Europa Oriental – antes, durante e depois da guerra.
Os aliados vieram para a Europa como libertadores. Os soviéticos vieram para conquistar e passaram gerações pilhando a Europa Oriental até que o sistema comunista desmoronou em 1989, provando o fracasso de sua ideologia subjacente.
O papel da União Soviética na Segunda Guerra Mundial foi muitas vezes mal interpretado. Sua imagem como um dos três grandes aliados – junto com a Grã-Bretanha e os Estados Unidos – só foi criada depois que uma parceria de necessidade foi forjada entre a URSS e o mundo livre nos últimos dias de 1941.
Embora a ideia de que a União Soviética “venceu” a Segunda Guerra Mundial e nos salvou de Hitler seja cada vez mais comum, devemos lembrar que a União Soviética desempenhou um grande papel em dar início à guerra mais mortal da história humana e não teve escrúpulos em se alinhar com fascistas para realizar seus objetivos.
As máquinas de guerra comunistas e nazistas trabalharam juntas nos primeiros dias da guerra para saquear seus vizinhos e cometer atrocidades em massa inigualáveis na história humana. Essa dinâmica só mudou quando Hitler apunhalou Stalin pelas costas e invadiu.
É importante manter esta história viva, não apenas por uma questão de precisão histórica, mas para demonstrar o abismo da diferença entre as nações livres, construídas sobre o edifício de proteção da liberdade individual e liberdade, e as erigidas sobre uma ideologia de tirania.
Devemos nos lembrar quando uma embaixada russa tenta envergonhar os Estados Unidos por seu uso “desumano” de armas nucleares no final da guerra.
"A data de hoje marca os 73 anos do bombardeio desumano e horrível em Hiroshima - não um alvo militar, mas uma cidade cheia de civis, incluindo mulheres e crianças. 6 de agosto de 1945 permanecerá para sempre uma data trágica na História da humanidade. Tal tragédia nunca deveria ser ignorada ou esquecida"
Poucos países na história perpetraram ou instigaram mais desumanidade no planeta Terra em nome do “progresso” do que a URSS de meados do século 20.
Os Estados Unidos estão longe de ser um país perfeito. O país muitas vezes falhou em viver de acordo com seus próprios ideais. Mas o American Way não produziu apenas a vitória na Segunda Guerra Mundial, produziu prosperidade para seus próprios cidadãos e para os cidadãos dos países que eles libertaram e derrotaram.
Em contraste, o comunismo destruiu não apenas os países satélites que a União Soviética ocupou e colocou sob seu controle. Também destruiu economicamente e espiritualmente a Rússia – atrasando a nação por gerações.
Este é um ponto de repreensão tanto aos revisionistas russos como aos apologistas do comunismo.
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A Grã-Bretanha e os Estados Unidos estavam do lado da liberdade, não apenas para si mesmos, mas também para as outras pessoas.
A América não saiu pelo mundo em busca de monstros para destruir. A vilania chegou à nossa porta e nós a derrotamos. A União Soviética só procurou trazer opressão monstruosa a outros, mudando de lado quando subitamente enfrentou a ameaça de ser engolida por outro regime.
Precisamos nos lembrar disso sempre, como nação. Apesar de nossa confortável posição no mundo, devemos evitar cair na armadilha de considerarmos que somos inatacáveis ou que nossa liberdade seja inevitável. Não houve “fim da história” após a queda da União Soviética. Hoje, há novas tiranias à espreita neste mundo, que também podem em breve desafiar nosso modo de vida.
E, assim como na Segunda Guerra Mundial, devemos esperar que possamos novamente ser um refúgio para a liberdade em um mundo de crescente escuridão – uma cidade brilhante sobre uma colina.
©2018 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês