Muitos de nós assistimos horrorizados o vídeo que viralizou na Internet. Um urso polar magríssimo procurando comida numa terra estéril, as costelas aparecendo por sob a amarelada pelagem branca.
“Essa é a aparência das mudanças climáticas”, disse a National Geographic.
A revista explicou que, por causa do derretimento da calota polar, provocado pelas mudanças climáticas, cada vez desses mamíferos estão morrendo de fome. Eles mencionaram um novo estudo da revista Science que sugeria que os ursos polares precisam consumir muito mais calorias do que se acreditava antes.
O vídeo, feito pelos cinegrafistas Paul Nicklen e Cristina Mittermeier na ilha Somerset, no Canadá, gerou revolta por causa do extermínio dos ursos polares por causa do aquecimento global.
O vídeo foi assistido por 2,5 bilhões de pessoas, de acordo com uma estimativa da própria National Geographic. O vídeo ainda é o mais assistido na história no site da National Geographic.
Depois do vídeo
Ainda que muitos se lembrem do vídeo do urso polar, poucos sabem o que aconteceu em seguida.
Como explicou recentemente Michele Moses na New Yorker, cientistas acusaram a National Geographic de “não ser exigente quanto aos fatos”. Não há provas, muitos disseram, de que o urso estava naquela condição como resultado das mudanças climáticas. O urso podia simplesmente ser velho, estar mal ou sofrendo de alguma doença degenerativa.
Mittermeier admitiu isso mais tarde.
“Não posso dizer que o urso estava com fome por causa das mudanças climáticas”, escreveu ela na National Geographic.
Talvez tenhamos cometido um erro ao não contarmos toda a história – de que estávamos procurando uma imagem que mostrasse o futuro e que não sabíamos o que tinha acontecido a esse urso polar específico.
O urso polar como símbolo
Mittermeier procurava uma prova visual do futuro que ela imaginava, um futuro destruído pelas mudanças climáticas. E ela encontrou essa imagem naquele urso esfomeado.
Como disse Moses na New Yorker, os ursos polares se transformaram “num símbolo inquestionável das mudanças climáticas”.
“A história das mudanças climáticas tem sido contada, em parte, com imagens de ursos polares”, escreve Moses. “E não por acaso: em seu habitat de gelo, eles refletem a beleza etérea que o aumento nas temperaturas ameaça destruir”.
Aquela imagem de um único urso morrendo de fome supostamente fez mais pela promoção do problema das mudanças climáticas do que qualquer artigo científico ou relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). Infelizmente, o vídeo nos diz pouco sobre o estado real da população de ursos polares.
O que os números dizem
Embora existam manchetes à beça dizendo que os ursos polares estão ameaçados de extinção, os números contam uma história bem diferente.
Dados de grupos ambientalistas e do governo mostram que a população de ursos polares é hoje cinco vezes maior do que nos anos 1950 e três ou quatro vezes maior do que nos anos 1970, quando os ursos polares passaram a ser protegidos por um tratado internacional.
Na verdade, embora os ursos polares tenham sido incluídos na Lei de Espécies Ameaçadas de 2008 por causa do temor de que seu território de caça no Ártico tivesse sido reduzido em consequência das mudanças climáticas, a população de ursos polares se manteve estável nas últimas três décadas.
Em 1984, a população de ursos polares era estimada em 25 mil indivíduos. Em 2008, quando os ursos polares foram considerados uma espécie ameaçada, o jornal New York Times disse que o número se manteve inalterado. “Há mais de 25 mil ursos no Ártico, sendo que 15.500 dos quais vagam pelo território canadense”.
Novas estimativas feitas pela International Union for Conservation of Nature mostram uma estimativa média de 26.500 indivíduos (entre 22 mil a 31 mil) em 2015. No relatório The State of the Polar 2018 [O estado do urso polar em 2018], a zoóloga Susan J. Crockford diz que dados atualizados da IUCN estimam a população em mais de 30 mil indivíduos.
Mesmo que se aceite o número menor, a estimativa é a mais alta desde que o urso polar se tornou uma espécie protegida internacional em 1973.
A saúde da população de ursos polares contraria as previsões de estudiosos que dizem que dois terços dos ursos polares desaparecerão nas próximas décadas por causa do aumento nas temperaturas e do derretimento do gelo no Ártico.
A boa notícia de que os ursos populares estão se reproduzindo dificilmente atrairá tanta atenção quanto imagens de um urso polar esfomeado procurando comida na ilha Somerset. Ainda assim, a história da ressurgência dos ursos polares merece ser contada e aplaudida.
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Jonathan Miltimore é editor-administrativo da FEE.org. Seus textos já foram publicados na revista TIME, The Wall Street Journal, CNN, Forbes, Fox News e Washington Times.
© 2019 FEE. Publicado com permissão. Original em inglês