Diversos comentaristas, nas redes sociais, compararam a grande atenção recebida pelo submersível Titan, que deixou cinco vítimas nos arredores dos destroços do Titanic, com outras notícias de menor repercussão e cobertura a respeito de migrantes econômicos que se arriscam em embarcações diversas, às vezes lotadas, no Mediterrâneo, tentando alcançar a Europa, ou no mar do Caribe, tentando alcançar os Estados Unidos.
Muitos morrem afogados: de acordo com a Agência de Refugiados das Nações Unidas, foram mais de 24.400 mortos ou desaparecidos anualmente no Mediterrâneo entre 2014 e 2021. Sua tragédia, portanto, não é algo incomum ou inusitado.
Como é ensinado nas graduações em jornalismo, “notícia não é quando o cachorro morde o homem, mas quando o homem morde o cachorro”. Não é uma teoria completa do jornalismo, mas aponta corretamente para o inusitado como um dos ingredientes comuns que fazem notícia porque são de interesse espontâneo do público. A máxima circula desde o século XIX, com aparente origem em um livro de 1899 do dramaturgo Jesse Lynch Williams, dita por um jornalista fictício.
O fenômeno é mais profundo do que sugere o ditado. Na neurociência, sabe-se que estímulos repetidos viram um pano de fundo, recebendo menos atenção com o tempo. Na teoria matemática da informação, eventos incomuns são mais ricos em informação que eventos de rotina.
Muitas das pessoas que reclamam da suposta atenção desproporcional e injusta da imprensa se comportam exatamente da mesma forma, expressando pesar passageiro a respeito das tragédias dos migrantes econômicos, mas se engajando em prolongados debates a respeito dos cinco infelizes tripulantes do Titan.
O defeito apontado na imprensa, portanto, está mais para uma característica geral da natureza humana.
Leia mais sobre a tragédia do Titan e a reação desumanizante dos comunistas na reportagem completa da Gazeta do Povo.
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