Todos querem receber em casa comida barata, rápida e ainda quente. Foi pensando nisso que empresas como iFood, Rappi e UberEats – as chamadas Rapps - montaram seus modelos de negócios. As entregas são feitas por entregadores autônomos que conseguem aumentar sua renda. O problema é que as empresas se tornaram alvo de críticas no debate público, sobretudo por parte da esquerda.
Entre os principais argumentos estão as condições precárias de trabalho a que os entregadores estão sujeitos: calor, chuva, risco de acidentes e esforço físico. Tudo isso em um trabalho que não tem vínculo empregatício, direitos trabalhistas ou estabilidade.
Nas redes sociais, várias publicações contrárias à atuação dos aplicativos viralizaram. Uma delas dizia que é uma imoralidade um jovem de 18 anos optar por ser entregador de iFood como primeira fonte de renda em vez de continuar os estudos. Afinal, o Estado deveria fornecer ensino superior gratuito e de qualidade para todos. Outra reclamava de uma idosa que escolheu fazer entregas pela Rappi para ter mais dinheiro e presentear o neto em seu aniversário. Afinal, o Estado deveria dar aposentadoria e benefícios previdenciários em valores suficientes para custear todas as demandas da sua vida. Por fim, uma mensagem mostrava a suposta imagem de um entregador com um adesivo que pedia a Deus “não me leve por causa de uma entrega de R$ 10”. Afinal, o Estado não deveria permitir atividades que configurem uma “escravidão aos moldes do século XXI”.
Motivado por essas críticas, o Ministério Público do Trabalho em São Paulo (MPT-SP) ajuizou duas ações civis públicas contra aplicativos de entrega. A fundamentação é de que eles atuam na ilegalidade por não estabelecerem vínculo empregatício com os entregadores. Os aplicativos, por outro lado, sustentam que a inovação logística acaba com a burocracia e que os usuários trabalham na hora e dia que desejarem, sem subordinação jurídica.
Atualmente, há 5,5 milhões de brasileiros que conseguem colocar comida na mesa graças aos aplicativos de entregas e de mobilidade urbana, com Uber, Cabify e 99. A renda mensal de um entregador chega a aproximadamente R$ 4 mil, montante superior à remuneração de 92% dos brasileiros.
Falácia do Nirvana
O professor de economia na Universidade da Califórnia Harold Demsetz cunhou a expressão “Falácia do Nirvana” para se referir a quem adota o ponto de vista do Nirvana para criticar o mundo real. Em outras palavras, muitos críticos ao capitalismo julgam sua eficiência ou moralidade em comparação a alguma utopia idealizada por eles.
Comparado a qualquer utopia, o mundo ideal sempre sai perdendo. E, para melhorar um mundo imperfeito, como afirma Demsetz, devem ser feitas proposições relativas ao mundo real e imperfeito.
Quando a esquerda critica empresas como a Uber e os Rapps, ela comparada a realidade com um mundo ideal onde todos têm altos salários, estabilidade e diversos auxílios. Se a solução para mudar o status quo for definir vínculo empregatício, o modelo de negócios pode acabar impossibilitado.
Paradoxalmente, para proteger os trabalhadores a esquerda pode estar defendendo o fim de um modelo que propicia renda a milhões de brasileiros.
Informalidade cresceu, mas empregos formais também
Uma crítica associada aos aplicativos é a de que eles representam uma “precarização das relações de trabalho”, já que os usuários muitas vezes atuam na informalidade.
Embora a informalidade de fato esteja crescendo, o Brasil atingiu a marca de 93,3 milhões de brasileiros ocupados — a máxima da série histórica. Na comparação com 2018, há 2,4 milhões de brasileiros a mais trabalhando.
Além disso, pelo quarto mês consecutivo, o emprego formal cresceu no país. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram abertas 43.820 vagas de trabalho com carteira assinada em julho, 0,11% a mais do que em junho. Entre janeiro e julho, foram abertas 461.411 vagas formais, enquanto no mesmo período de 2018 foram geradas 448.263 vagas formais.