Determinada a salvar o mundo das mudanças climáticas, a Califórnia praticamente pôs abaixo sua indústria de petróleo e gás natural, embora o estado atualmente obtenha 50% de sua energia total do petróleo e mais 34% do gás. A decisão mais recente do estado foi tomada pela Divisão de Gerenciamento de Energia Geológica da Califórnia, que negou novas permissões de fraturamento hidráulico em poços de petróleo e gás.
O ataque ao petróleo e gás tem sido incessante. Em setembro de 2023, o procurador-geral da Califórnia, Rob Bonta, processou a Exxon Mobil, Shell, Chevron, ConocoPhillips e British Petroleum por supostamente causarem danos relacionados às mudanças climáticas e enganarem o público. Um ano antes, em setembro de 2022, o governador Gavin Newsom assinou legislação para proibir novos poços de petróleo e gás dentro de 975 metros de qualquer estrutura ocupada — uma restrição tão propensa a matar a indústria que mais de 623 mil eleitores endossaram um referendo para revogá-la novembro passado.
O governo estadual em Sacramento (capital da Califórnia) parece determinado a estar na vanguarda de um movimento internacional para alcançar os objetivos anunciados em dezembro passado na COP28, em Dubai. Como parte da busca para alcançar zero emissão global líquida de carbono até 2050, os países se comprometeram a triplicar sua produção de energia nuclear, presumindo que as energias renováveis — principalmente eólica e solar — substituiriam o que sobrasse após o desaparecimento do petróleo, gás e carvão.
Um exame mais apurado das tendências globais de energia e população sugere que isso não passa de uma ilusão. A melhor fonte sobre a produção global de energia é a Revisão Estatística de Energia Mundial, publicada anualmente. Na edição de 2023, os insumos totais de energia global para o ano anterior totalizaram 604 exajoules. Com base nos dados atuais de população e uso de energia, isso equivale a 288 gigajoules per capita nos Estados Unidos e apenas 67 gigajoules per capita no resto do mundo. Até 2050 — a data-alvo para alcançar o "zero líquido" global — a população mundial total provavelmente se estabilizará em cerca de 10 bilhões.
Se assim for, para que cada pessoa no mundo tenha acesso a, digamos, 100 gigajoules, a produção global de energia total precisará se expandir para mil exajoules, um aumento de 66%. Enquanto isso, se tudo correr conforme o planejado, carvão, petróleo e gás — que, de acordo com a Revisão Estatística, forneceram 82% desses 604 exajoules de energia em 2022 — serão completamente eliminados, fornecendo nenhuma energia até 2050.
Isso não é possível. Para começar, o índice de 82% é enganador, pois a maioria das fontes oficiais, incluindo a Revisão Estatística e a Administração de Informações sobre Energia dos Estados Unidos, inflam os insumos de energia relatados de "energia não térmica" (ou seja, todas as fontes de energia, exceto os "combustíveis" — carvão, petróleo, gás e biocombustíveis), supostamente para mostrar o quanto do menos eficiente combustível fóssil já está sendo substituído.
Em termos de eletricidade real que essas fontes entregam à rede: em 2022, 15,6 exajoules (EJ) vieram da energia hidrelétrica, 9,6 EJ da nuclear, 7,6 EJ da eólica, 4,8 EJ da solar e 2,8 EJ da biomassa, além de outros 4,3 EJ de biocombustível (que já consome uma estimativa de 724 mil km2 de terra, enquanto desloca menos de 2% da demanda global de combustível para transporte). No total, as "energias renováveis não térmicas" (incluindo nuclear) entregaram apenas 44,7 EJ de energia em 2022. Temos 27 anos para aumentar isso para 1.000 EJ.
E 1.000 EJ representam o mínimo absoluto que a produção global de energia deve aspirar. Para os americanos reduzirem seu consumo per capita de energia para 100 gigajoules dos atuais 288, seria necessária uma melhoria extraordinária na eficiência energética. Carros elétricos, aquecedores e outras inovações podem aumentar tanto a eficiência? Porque é isso que os defensores do zero líquido e da eletrificação da economia precisam realizar. Caso contrário, 1.000 EJ não chegará nem perto de suprir as necessidades da humanidade.
De onde virá essa energia? Triplicar a energia nuclear aumentaria o total não proveniente de combustíveis fósseis para 64 EJ. Devemos dobrar a capacidade hidrelétrica, juntamente com biomassa e biocombustível? Isso nos levaria a 87 EJ, embora poucos achem desejável represar cada trecho restante de rio e alocar quase 1,6 milhão de quilômetros quadrados de floresta tropical para o cultivo de etanol de cana e diesel de óleo de palma. E isso nos traz à energia eólica e à solar: sob esse cenário, elas teriam que expandir sua produção de 12,4 EJs para um impensável 913 EJs — um aumento de 74 vezes.
Não é fácil resumir os desafios colocados pelo aumento massivo da energia solar e eólica. O aumento na mineração; a terra consumida; a expansão das linhas de transmissão; a necessidade de uma quantidade impressionante de ativos de armazenamento de eletricidade para equilibrar essas fontes intermitentes; a vulnerabilidade das fazendas eólicas e solares a eventos climáticos, incluindo nevascas, tornados e granizo; e a tarefa estupefaciente de fazer tudo isso de novo a cada 20 a 30 anos, à medida que as turbinas eólicas, painéis fotovoltaicos e baterias de armazenamento atingem o final de sua vida útil útil — tudo isso sugere que garantir mais de 90% da energia global proveniente de vento e sol é uma missão impossível.
Os guerreiros climáticos da Califórnia podem ter sucesso em sua missão de eliminar os combustíveis fósseis no estado, mas isso terá um custo terrível para seus conterrâneos, e é um exemplo que o mundo não pode imitar. A energia geotérmica pode compensar parte disso. Talvez a capacidade nuclear possa mais que triplicar. Mas o caminho para a Califórnia e o mundo é utilizar carvão, petróleo e gás da maneira mais limpa e sustentável possível. "Energia alternativa" não é uma alternativa viável.
Edward Ring co-fundou o California Policy Center em 2013 e foi seu primeiro presidente. Ele é autor de dois livros, 'Fixing California' [Consertando a Califórnia] (2021) e 'The Abundance Choice' [A escolha abundante] (2022).