A apresentadora Rafa Brites irritou suas fãs ao publicar em seu Instagram, no dia 17 de maio, um pedido de desculpas. O motivo? Ter posado para a capa da revista “Boa Forma”, ainda em 2017, pouco tempo depois de dar à luz seu filho. Na publicação da imagem, em que aparece com uma barriga definida mesmo depois de ter passado por uma gestação, a celebridade pediu perdão aos seus 1,7 milhão de seguidores por, possivelmente, “ter gerado comparações e frustração em outras mães”.
Em sua postagem, ela afirma: "O número de mulheres que têm essa facilidade em perder peso é muito pequeno. Essa imagem não motiva e deve ter feito muitas mães se sentirem um lixo".
Não foi a primeira vez que uma celebridade foi criticada por exibir um corpo “sarado”. Em agosto de 2018, o comediante Whindersson Nunes brigou com seguidores após a publicação, em sua rede social, de um "antes e depois". O comediante emagreceu 15 quilos no processo.
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A foto veio acompanhada da frase "quem quer arruma um jeito, quem não quer arruma uma desculpa". A frase, claro, não passou despercebida. Pessoas o criticaram por ignorar que há quem engorde por sofrer de transtornos psicológicos, por exemplo. Houve quem dissesse que Whindersson só emagreceu por “ter dinheiro". Na ocasião, o youtuber se defendeu explicando não ter afirmado que todas as pessoas deixam de fazer exercícios por preguiça, e sim que estava se referindo a pessoas como ele próprio, que, mesmo tendo condições, não cuidam da dieta e tampouco do próprio corpo.
A nova luta dos movimentos sociais modernos
As primeiras ondas de movimentos sociais se caracterizaram por defender a igualdade formal, na busca por equiparação de tratamento perante à lei. Foi assim, por exemplo, com o movimento feminista que, num período marcado por uma sociedade machista e patriarcal, buscava mudanças legais, como o direito ao sufrágio feminino.
Sem deslegitimar o movimento em questão, é notável que as ondas mais recentes de movimentos sociais têm a tendência de buscar por privilégios legais a fim de “compensar” os anos de opressão institucionalizada. De igualdade formal, passou-se a buscar privilégios legais.
Os movimentos sociais de “minorias” rezam a cartilha do politicamente correto, em uma espécie de patrulha contra tudo o que lhes desagrada. Nesse contexto, os “justiceiros sociais” agora se voltam para criticar até mesmo quem se empenha em estar em boa forma, com exercícios físicos sob acompanhamento de profissionais e alimentação saudável.
Como afirma o filósofo Luiz Felipe Pondé, “um dos erros crassos do feminismo é confundir problema de cadeia (como o espancamento de mulheres) com a vida cotidiana”.
Ou seja, pode-se dizer que há opressão quando uma mulher ganha menos, mesmo exercendo função semelhante à de um homem na mesma organização empresarial, ou quando há um dispositivo legal que permite à mulher fazer algo apenas com anuência do homem, mas não quando uma mulher decide usar de seus atributos em seu benefício: a imagem de Brites provavelmente contribuiu, juntamente com suas outras habilidades e qualidades técnicas e profissionais, para que ela se tornasse apresentadora. Assim, ao contrário do que afirma o politicamente correto, ela não é “vítima de abuso de poder” de um mundo machista.
“Celebridades não são parâmetro”
A atriz, apresentadora e modelo britânica Jameela Jamil frequentemente utiliza suas redes sociais para colocar-se contrária à indústria da beleza e da dieta. Autodeclarada feminista e progressista, ela já descreveu como sua adolescência foi prejudicada por ser obcecada em seguir as dicas de revistas da moda para controlar seu peso, chegando a ter problemas de digestão e metabolismo.
Ela critica quem estimula “pessoas normais” a se compararem com celebridades, que por ofício possuem maior acesso a profissionais de saúde. Dessa forma, para ela, celebridades não devem ser vistas como parâmetro para pessoas comuns, porque estas vivem em um meio com mais recursos e, portanto, maior possibilidade de proximidade desse padrão de beleza.
Inveja
Na obra A Revolta de Atlas, a escritora russa Ayn Rand descreve uma sociedade distópica em que leva às últimas consequências a busca pelo “coletivismo” e pela “igualdade entre todos os indivíduos”. No romance, até mesmo as diferenças naturais virtuosas são coibidas para evitar “injustiças sociais”. A trama mostra como a produtividade é destruída a partir de quando essas premissas são colocadas em prática.
Para Pondé, toda a tentativa de proibir a exibição da beleza feminina é um ato fruto da inveja. O colunista da Gazeta do Povo Rodrigo Constantino concorda: “é pura ideologia da inveja e ressentimento, é o grito dos medíocres contra aqueles que, de alguma forma, se destacam positivamente”. Como entoa o filósofo, “o politicamente correto é a valorização da mediocridade”. E vai além: “As feias têm raiva das bonitas, as fazem pedir desculpas por não fazerem nada de errado, talvez porque se o mundo se tornar feio elas consigam se sentir mais em casa”.
Esse tipo de postura não é restrita ao mundo virtual. Em 2014, por exemplo, houve agressão entre adolescentes em uma instituição de ensino em Limeira, centro-leste de São Paulo, motivada pela beleza da vítima. Além de sofrer com socos e pontapés, ela teve seu cabelo cortado.
Ao escrever sobre o caso à época, Constantino sintetizou bem a postura do politicamente correto frente à inveja: “Em vez do invejoso ter vergonha de sua inveja, é o invejado que deve desculpas por ser melhor. Há uma total inversão dos valores, explicada apenas por uma completa aniquilação do indivíduo em nome da igualdade coletivista”.