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opinião

A liberdade de expressão, as agências de checagem e o bom debate

Redação da Gazeta do Povo, em Curitiba | Jonathan CamposGazeta do Povo
Redação da Gazeta do Povo, em Curitiba (Foto: Jonathan CamposGazeta do Povo)

O mais novo fórum do debate político-ideológico nacional é a recente iniciativa do Facebook de aliar-se a agências de checagem para reduzir o alcance de posts classificados como falsos na rede social. O projeto começou nos Estados Unidos e chegou ao Brasil no último dia 10 de maio, tendo as agências Lupa e Aos Fatos como parceiras da empresa de Mark Zuckerberg. Imediatamente foi desencadeada uma reação contrária de analistas, movimentos e atores políticos, com diversos textos publicados a respeito por toda a internet, incluindo na Gazeta do Povo, pelos colunistas Flavio Gordon e Rodrigo Constantino. 

Os textos publicados por Gordon e Constantino na Gazeta trazem na essência uma preocupação da qual tanto eu como o jornal compartilhamos. Qualquer trabalho de checagem deve ser feito com critérios claros e rigorosos de objetividade, evitando margem para que a subjetividade ou visões ideológicas contaminem a avaliação final sobre a veracidade de uma informação. Isso vale para o trabalho diário de uma redação. Vale para direita, esquerda, centro ou qualquer outro espectro ideológico. 

Vale em escala muito maior em um projeto como o anunciado pelo Facebook, em que qualquer postagem feita na rede social pode levar, nos casos mais severos e recorrentes, a uma página ter seu alcance total reduzido drasticamente – fora os danos à imagem – se for carimbada como falsa. Escrutínio ao qual estão sujeitos desde uma página recente, de dono e origem desconhecidos, a veículos que há décadas fazem jornalismo profissional, com elevados padrões de apuração a que seus repórteres e editores são submetidos antes de publicar um conteúdo. 

Há, porém, dois caminhos de manifestar a preocupação em manter a checagem blindada de subjetividades. Um é debater ideias. Mesmo que isso ocorra de forma crítica e dura, desde que com responsabilidade e respeito à veracidade das informações, sempre se estará mais perto do adequado exercício da liberdade de expressão, que não deve ser visto como um bem absoluto, mas a ser usado adequadamente. É como a Gazeta do Povo orienta que seus repórteres e editores executem o trabalho jornalístico. É como sempre estimulamos todos os colunistas e blogueiros a exercer a autonomia de opinar dentro do nosso espaço. 

NOSSAS CONVICÇÕES: O poder da razão e do diálogo

Há outro caminho, que é o de discutir e criticar pessoas. Com esta opção sempre se assume o risco de, direta ou indiretamente, voluntária ou involuntariamente, induzir ataques não a ideias, mas pessoais. Uma escalada que só aumenta em um momento de tensão extrema no debate público. E que é potencializada à medida que mais fontes se manifestam na mesma direção.

Resgatar postagens antigas de jornalistas para detectar o que já foi dito sobre determinado assunto é algo a que qualquer pessoa que tenha seu trabalho submetido ao olhar público, como profissionais da informação, está sujeito. No caso dos jornalistas das agências de checagem, rapidamente este resgate deu lugar à exposição de familiares e a ameaças nas redes sociais. Esta Gazeta do Povo e seus profissionais jamais apoiarão a exposição de familiares nem ameaças a quem for, pelo motivo que for. 

Neste caso, torna-se secundário se não houve intenção de provocar este efeito ou se a essência da preocupação é legítima. Quando algo que publicamos contribui, em alguma medida, para consequências que extrapolem o necessário debate de ideias, só nos resta lamentar profundamente, nos solidarizar e pedir sinceras desculpas às equipes das agências Lupa, Aos Fatos e Pública (esta última, atingida mesmo não sendo parte do projeto com o Facebook). 

NOSSAS CONVICÇÕES: O valor da comunicação

Por outro lado, o episódio criou uma oportunidade para a reafirmação dentro da nossa equipe de jornalistas e com os colunistas de em quais dimensões acreditamos que se dá o bom debate. E para a reafirmação do perigo das fake news e seu potencial de influência nas eleições deste ano. 

A Gazeta do Povo assumiu desde o início do ano o compromisso de participar de trabalhos de combate a informações falsas em colaboração com diversas empresas de comunicação, o que inclui agências de checagem. Se o faz é por ter confiança no profissionalismo de cada parceiro. E isso independe de estes parceiros terem visões de mundo similares ou distantes da nossa. Pelo contrário. Será a partir do convívio respeitoso de diferentes visões de mundo que a comunicação fortalecerá a democracia e a sociedade brasileira.

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