Faz anos que há uma tendência na imprensa televisiva de pôr em horário nobre parte das pautas dos programas de mundo cão. Tais programas são aqueles que os pobres e os velhos gostam de ver, especializados em violência contra a mulher, ladrões reincidentes e drogados assassinos. Desses crimes, só a parte de violência contra a mulher vai para o noticiário nobre, porque os bem-pensantes decidiram que o machismo é um dos fantasmas estruturais que saem matando todo mundo por aí.
O caso de Robinho, portanto, é ótimo para ganhar a essa imprensa. Mostra ao distinto público que o machismo estrutural está a tal ponto entranhado em nossa sociedade que o Homem, mesmo brilhante, mesmo bem sucedido, mesmo podendo ter pencas de mulheres pagas ou grátis, sentirá prazer em abusar sexualmente de uma bêbada desacordada. Melhor, só se Robinho fosse branco e a vítima fosse negra.
É claro que a informação poderia ser matizada. Segundo o sempre bem informado Eli Vieira, “90% dos homens heterossexuais se excitam mais com estímulos consensuais, ou seja, ao saber que a parceira deseja o ato sexual”. Logo, o estupro é antes uma anomalia a ser explicada, e uma anomalia da qual participa uma minoria de homens. Na verdade, mesmo sem pesquisa, o mero bom senso deveria bastar para nos fazer duvidar muito da ideia de que por trás de cada verdureiro, cada professor, cada gari e cada advogado há um estuprador esperando a oportunidade para revelar sua natureza estupradora.
Longe de mostrar que o Homem é estuprador, o caso Robinho deveria servir para ponderarmos duas coisas. A primeira, que a ação humana sempre tem algo de imponderável – lembrete prosaico, mas que os utopistas se obrigam a esquecer. E a outra, que talvez a formação cultural de Robinho ajude a explicar a sua conduta. Afinal, qual punição esse brasileiro rico poderia esperar no seu país natal?
Prender criminoso é uma boa ideia
O caso Robinho está sendo julgado na Itália, e parece que a coisa vai ficar feia para ele. No entanto, ganharam destaque no horário nobre, mais ou menos ao mesmo tempo que Robinho, o caso de uma adolescente dopada e estuprada por cinco num baile funk e o de um homem que espancou a namorada no meio da rua, diante de câmeras de celulares. Embora “especialistas” feministas celebrem a denúncia, a família da menina teve que fugir da favela, área dominada pelo tráfico, que na certa não gostou da denúncia. No caso do espancador, descobriu-se que ele tinha uma ficha longa, com 11 queixas. E mesmo tendo sido pego pelas câmeras no seu ato brutal, não houve flagrante e ele foi liberado.
A imprensa, então, expôs a cara e o nome do homem em rede nacional. O que, evidentemente, não deixa de ser um convite ao justiçamento, e um bom motivo para o espancador, inclusive, preferir sair das ruas e encontrar guarida na polícia, que está por lei proibida de justiçá-lo e será cobrada caso o faça.
Eu diria que a imprensa está coberta de razão em fazê-lo – se não fosse, ela mesma, em parceria com as universidades, a grande fomentadora da impunidade que ora vige neste país, e que é a verdadeira causa de estupros a ser combatida pela sociedade. Os mesmos jornalistas que reclamam que “o Brasil prende muito”, que falam no “encarceramento em massa da juventude negra” (alô, Robinho!), no “sistema prisional superlotado”, em “prisão não melhora ninguém”, depois parecem crer mesmo que prisão não resolve mesmo, e que é melhor as turbas pegarem os criminosos.
Mas só os criminosos pinçados pela imprensa nobre. Porque se a opinião pública brasileira fosse julgar cada caso mostrado pelo jornalismo de mundo cão, não faria mais nada da vida. Minto: talvez fizesse teses acadêmicas sobre o cracudismo estrutural.
O caso da justiça é análogo ao da educação. Se aparece uma teoria dizendo que o professor não precisa trabalhar, pois basta ficar com papo de boteco de humanas em sala de aula, a corporação vai aderir a ela. Outrossim, se aparece uma teoria dizendo que a justiça não precisa trabalhar, pois basta deixar todo mundo solto, a corporação irá aderir. Dente podre só não é moda em odontologia porque os pacientes ainda pagam pelas consultas.
Pra Robinho, a Itália serve; pra Battisti, não
Dizia Maluf: “Estupra, mas não mata!” De fato, neste mundo cão, as pessoas costumam preferir dar a bolsa (e tudo o mais) a dar a vida, se não houver a opção de não dar coisa nenhuma ao meliante. Felizmente, este mundo cão está desacostumado ao terrorismo movido por princípios. Traficante toca o terror, mas é movido por razões pecuniárias. Bem ou mal, é possível ao cidadão negociar com ele. Mas e quando o terrorismo é movido por razões ideológicas?
Aqui, tivemos amostras modestas disso: em 66, morreu gente inocente no atentado de Guararapes perpetrado pelo grupo radical de esquerda Ação Popular; na década de 70, guerrilheiros tocaram o terror na população do Araguaia suspeita de os ajudar militares; em 2014, black blocks mataram o cinegrafista Santiago Andrade. Ainda assim, somos felizes em comparação ao Peru, à Itália ou à França, onde terroristas matam sem nenhuma razão passível de negociação.
Na Itália, Cesare Battisti, branco, não aderiu ao dito malufista, e matou aos montes. Matou por nada de pecuniário ou pessoal. Matou gente aleatória por ideologia. Veio ao Brasil, foi recebido como valoroso homem de esquerda, vítima da justiça italiana. Da Itália democrática, diga-se de passagem. Já Robinho, negro, foi mal recebido no Brasil (com razão).
Fica a pergunta: se os bem-pensantes acreditassem mesmo em racismo estrutural, não seria o caso de redimir Robinho, o homem negro julgado na Europa, na Itália de Salvini, por supostamente abusar de uma mulher branca? Não se deve combater o mito do negro estuprador? E, ainda que fique provado, não seria o caso de encontrar uma “lógica no estupro”, uma vez que a midiática filósofa Márcia Tiburi encontrou uma “lógica no assalto”? Se há tratos à bola para justificar e contemporizar os crimes de Battisti, não é difícil fazer o mesmo para qualquer ação de Robinho.
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