Na semana passada, o ex-policial Derek Chauvin foi condenado por homicídio. As provas da acusação de assassinato eram fracas; as provas de lesão corporal seguida de morte eram mais sólidas. Ainda assim, o júri precisou de apenas dez horas e nenhum questionamento para chegar a uma conclusão: culpado de todas as acusações.
O caso Chauvin jamais deveria ter se transformado numa história de alcance nacional. Afinal, em média três suspeitos são alvejados pela polícia todos os dias nos Estados Unidos, e milhares de homicídios que não têm absolutamente nada a ver com a polícia ocorrem no país todos os anos.
Teoricamente, o noticiário nacional deveria mostrar problemas nacionais profundos, e não anomalias estatísticas do tipo “homem morde o cachorro”.
Mas esse, claro, era o objetivo de transformar a história de George Floyd num escândalo nacional: mostrar que ela indica um problema mais profundo no âmago dos Estados Unidos. Assim, Chauvin foi condenado não por sua atividade criminosa individual, e sim por uma acusação que nunca lhe foi feita: a de racismo.
Como admitiu a procuradora-geral de Minnesota, Keith Ellison, não havia nenhuma prova de que Chauvin era racista ou de que a morte de George Floyd teria sido motivada pela raça. “Não temos qualquer prova de que Derek Chauvin levou em conta a raça de George Floyd ao fazer o que fez”, disse Ellison a um incrédulo Scott Pelley no programa “60 Minutes”.
E Pelley, falando por toda a grande imprensa — uma bolha esquerdista totalmente disposta a propagar a narrativa do racismo sistêmico — respondeu: “O mundo todo vê esse caso como o de um policial branco matando um homem negro porque ele é negro”.
Pelley não está errado. Por fim, a prova de racismo sistêmico é totalmente desnecessária. O racismo sistêmico não requer provas de dolo individual ou sistêmico. Ele requer apenas indícios de um disparate racial.
Por isso Ellison explicou que, ainda que não pudesse acusar Chauvin de crime de ódio, podia acusar todo o sistema de racismo no caso de Chauvin:
A fim de que paremos e prestemos atenção a este caso e nos revoltemos com ele, não é preciso que Derek Chauvin tivesse uma motivação racial específica para ferir George Floyd. (…) Pessoas de cor, negros, acabam sendo tratados com agressividade pela polícia. E outras pessoas que fazem a mesma coisa não.
Em termos estatísticos, isso é simplesmente errado. No fim de 2020, o Departamento de Estatísticas Jurídicas divulgou um relatório dizendo que não encontrou diferença estatística significativa entre atividade criminal e prisões por raça — em outras palavras, você só é preso nos Estados Unidos se for suspeito de um crime, não importa a sua raça.
Vários estudos, desde o realizado por Roland Fryer, de Harvard, até o de Peter Moskos, da John Jay College of Criminal Justice, mostram que a chance de um policial matar um negro é menor do que a dele matar um branco em circunstâncias semelhantes.
Mas pedir provas de racismo sistêmico para além da mera desigualdade de renda é ser cúmplice do racismo sistêmico, de acordo com a lógica circular do racismo sistêmico. Qualquer incidente envolvendo um policial branco suspeito de agredir um negro deve ser considerado racismo sistêmico; a prova do racismo sistêmico é a violência em si; negar que a raça está na base de tais incidentes faz de você uma engrenagem no racismo sistêmico.
A lógica circular, protegida pela chamada “armadilha kafkiana” — na qual declarações de inocência são tratadas como prova de culpa —, significa que o racismo sistêmico não pode ser falseado.
E é precisamente esse o ponto. O racismo sistêmico é uma religião fundamentalista. Ela propõe um pecado original; ela cria santos e profetas; ela cria até um “deus das lacunas”. Mais importante, ela persegue os hereges em nome de um suposto bem maior. Salvar-se é se declarar fiel à polarização racial; danar-se é negar essa fidelidade.
© 2021 Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês
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