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GBU-43/B Massive Ordnance Air Blast : força equivalente a cerca de 11 toneladas de TNT | /Reprodução
GBU-43/B Massive Ordnance Air Blast : força equivalente a cerca de 11 toneladas de TNT| Foto: /Reprodução

Na quinta-feira (13), os Estados Unidos lançaram uma bomba no Afeganistão, perto de um lugar chamado Achin. A GBU-43/B Massive Ordnance Air Blast (artilharia massiva de explosão aérea, em tradução livre) explodiu um complexo subterrâneo utilizado por combatentes do Estado Islâmico – e, logo depois, a imprensa. A cobertura da MOAB foi uma incrível mistura de histeria e pornografia de armas. O programa de TV “Fox & Friends” chegou a adicionar trilha sonora à tomada aérea da explosão.

Quase 16 anos depois do 11 de setembro, permanecemos em guerra no Afeganistão. A Força Aérea dos Estados Unidos já lançou 457 artefatos lá em 2017. Algo a respeito desse, contudo, deixou as pessoas meio loucas. Talvez seja o apelido: Mãe de Todas as Bombas. Por que tanta atenção para uma bomba, e tão pouca para a guerra que se arrasta?

Sim, a bomba era grande. A MOAB explode com uma força equivalente a cerca de 11 toneladas de TNT. É a bomba convencional mais poderosa no arsenal dos Estados Unidos, embora a Massive Ordnance Penetrator (artilharia massiva penetradora, em tradução livre) seja mais pesada. Munições diferentes são melhores para diferentes missões, mas o poder destrutivo total da MOAB é similar a de outros carregamentos de bombas, como a de um bombardeiro B-52 completamente carregado com mais de 50 bombas de 340 quilos. A própria MOAB é uma substituta de uma bomba anterior apenas levemente menos massiva popularmente conhecida como Cortadora de Margaridas, a qual os Estados Unidos usaram com efeitos terríveis no Vietnã, no Iraque e, sim, no Afeganistão.

A MOAB certamente chocou e atemorizou observadores por aqui. Diversas organizações de notícias reportaram que a GBU-43 tinha uma potência comparável à da bomba atômica que destruiu Hiroshima. Isso é estapafúrdio: a GBU-43 explode com a força de cerca de 11 toneladas de TNT. A bomba atômica que destruiu Hiroshima era cerca de mil vezes mais potente. As correções foram devidamente feitas, mas o tom da cobertura não mudou.

Essa foi dificilmente a primeira bomba que os Estados Unidos lançaram no Afeganistão. E certamente não é a última. Em junho do ano passado, o então presidente Barack Obama afrouxou as restrições a ataques aéreos dos Estados Unidos em apoio às forças armadas afegãs. Não muito depois disso, B-52s começaram a atacar alvos lá pela primeira vez em uma década. Ainda assim isso foi pouco observado nos Estados Unidos – pelo menos até que um avião MC-130 lançou a primeiríssima MOAB em uma situação de combate.

Reação extremada

Por alguma razão, as pessoas aqui reagiram à MOAB como se fosse uma arma nuclear, embora claramente não seja, seja em virtude de seu funcionamento ou de seu poder destrutivo. Parte dessa reação provavelmente reflete o momento em que vivemos. Depois de uma longa e amarga campanha presidencial na qual o dedo de Donald Trump no botão nuclear era a metáfora dominante para se discutir sua aptidão – ou falta de – para a avassaladora responsabilidade do Salão Oval, as pessoas estão assustadiças. Os ataques aéreos na Síria e as exibições de força na península coreana deixaram muitos nervosos, talvez mais do que os fatos justifiquem.

Mas há um fenômeno mais profundo em ação – o processo pelo qual decidimos quais armas são tabu e quais não são. Muitos de nossos compatriotas simplesmente não estavam certos de em que lado de uma linha muito imprecisa a MOAB está. E quem pode culpá-los? Afinal de contas, decidimos que destruir Hiroshima e Nagasaki com armas nucleares foi terrível, mas que atacar Tóquio com bombas incendiárias não foi. E que Bashar al-Assad, da Síria, não deve assassinar homens, mulheres e crianças inocentes com gás venenoso, mas apenas com bombas e foguetes convencionais. Essas distinções são arbitrárias, mas quando uma nova bomba aparece, é difícil saber como acomodá-las aos quadros conceituais existentes.

Resolução pela violência

E, ainda assim, o processo de se construir normas – por mais imperfeito que seja – é largamente a maneira pela qual seres humanos escolheram lidar com o fato de que Estados continuam a resolver disputas com violência. Conforme nossa capacidade tecnológica de semear destruição cresceu de metralhadoras para gás venenoso e armas nucleares, mais do que umas poucas pessoas observaram que a tendência de nossa espécie de recorrer à violência pode ser nossa destruição.

Eliminar a guerra, contudo, parece improvável. E então, ficando aquém desse objetivo elevado, tentamos proibir as piores armas – aquelas que causam sofrimento desnecessário ou horripilante e, de maneira mais importante, aquelas que não discriminam entre combatentes e não combatentes. Se nossas linhas são imperfeitas, sabemos que são melhores do que nenhuma. Se nossas restrições são muito estreitas, acreditamos que outros virão para tentar alargá-las.

Mas traçamos essas linhas porque sabemos que nossa capacidade de criar armas destrutivas excede vastamente a habilidade de nossas instituições políticas e sociais de administrá-las. Isso é o que Martin Luther King Jr. quis dizer, penso eu, quando falou em viver em uma era de “mísseis guiados e homens desorientados”. Nossa proeza tecnológica excede nossa sabedoria.

Talvez seja por isso que muitos dos nossos compatriotas se concentraram na bomba, em vez de na desgraça ensanguentada do Afeganistão: porque sabemos como por fim a uma guerra tanto quanto sabemos como por fim a todas as guerras. Então, em vez disso, esperamos, esperançosos de que nossos líderes políticos encontrarão soluções para os perigos que enfrentamos, enquanto tememos que, antes de que o façam, uma arma que não podemos controlar apareça – aquela que vai nos pegar no fim das contas.

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*Lewis é pesquisador do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais, em Monterey.

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