De certa forma, a onda de banimentos no Twitter foi a melhor coisa que poderia acontecer à Gab. De repente, a pequena rede social que foi construída por um republicano cristão conservador, e que promete “liberdade de expressão” para todos, tornou-se mais ativa do que nunca.
“The purge” foi como o alt-right – um pequeno movimento de extrema-direita que abraça crenças racistas, brancas nacionalistas e populistas – chamou uma série arrebatadora de expulsões levada a cabo pelo Twitter logo após a eleição de 2016 para a Presidência dos Estados Unidos. Começou horas após a plataforma reforçar suas políticas a respeito do “discurso de ódio” e tornar muito mais fácil para os usuários relatar qualquer violação.
Os banimentos tiraram do ar algumas das contas mais populares das várias coalizões favoráveis a Trump na internet: o autoproclamado nacionalista branco Richard Spencer, o nacionalista branco anônimo “Ricky Vaughn”, Paul Town, Pax Dickinson e John Rivers.
Com essas figuras proibidas de usar o Twitter e de repente muito mais ativas no Gab, a rede pouco conhecida instantaneamente tornou-se mais popular. Outros fatores também ajudaram: o combate do Facebook às “notícias falsas”, o que levantou suspeitas entre alguns conservadores de que plataformas muito maiores iriam tentar “censurar” sites simpatizantes ao alt-right, como Breitbart. Quando os novos usuários chegaram à Gab, eles encontraram um monte de gente que pensava como eles.
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Só nos oito dias seguintes, a rede teria ganhado 60 mil novas contas, relatou o fundador do site, Andrew Torba.
Banimentos recentes
Mais recentemente, em agosto de 2018, a remoção de conteúdos de diversas redes sociais causou controvérsia. Muitos apontaram que as tendências de esquerda dessas plataformas estariam por trás do banimento de páginas como a Infowars, ou outras mais alinhadas à direita, pelo YouTube, Apple e Facebook. As redes sociais alegaram violações de suas políticas para as remoções.
O presidente Donald Trump também fez críticas ao Twitter, que estaria bloqueando usuários e “silenciando vozes conservadoras”. O diretor do Twitter respondeu admitindo que os funcionários da empresa têm tendências esquerdistas, mas que isso não influencia as políticas da empresa.
Dessa forma, uma nova onda de usuários começou a fazer campanha convidando aqueles que tivessem sido banidos pelo Twitter a migrar para o Gab.
Meio Twitter, meio Reddit
Gab funciona como um híbrido de Twitter e Reddit. Tem um limite de 300 caracteres nas postagens e os usuários podem dar votos positivos ou negativos nos posts. Você pode criar listas de pessoas que quer seguir ou navegar por tópicos ou hashtag de tendências. Gab tem apenas algumas regras: não permite pornografia infantil, doxxing (chantagem virtual), ameaças, promover grupos terroristas ou agendas de terror.
Ela também dá uma sugestão: “tente ser agradável e gentil com os outros”.
A Gab não permite bloquear usuários, apenas deixá-los no “mudo”. Também permite que as pessoas silenciem seus feeds com palavras-chave, um recurso contra assédio que, Torba observou, antecede a mesma ideia lançada pelo Twitter.
Qualquer pessoa pode se juntar, Torba enfatizou na entrevista ao Washington Post, não apenas os alt-right e conservadores.
“Eu não tinha a intenção de construir uma ‘rede social conservadora’, a propósito”, disse ele, “mas eu senti que era hora de um líder conservador intensificar e fornecer um fórum onde qualquer um pode falar livremente, sem medo de censura”.
Torba decidiu criá-la depois de deixar o Vale do Silício (Califórnia), um lugar que ele descreve como saturado de agendas progressistas. Quando o Gizmodo reportou que os trending topics do Facebook poderiam ser injustamente tendenciosos contra assuntos conservadores, ele começou a trabalhar na Gab.
“Todas as principais redes de comunicação e todas as principais redes sociais pertencem e são geridas, controladas e operadas por líderes progressistas, trabalhadores progressistas do Vale do Silício”, disse ele.
Não ser nada disso o ajudou a construir uma relação de confiança com o núcleo da Gab, formado por pessoas que suspeitam profundamente das figuras do Vale do Silício, como Jack Dorsey, do Twitter, e Mark Zuckerberg, do Facebook, e de suas plataformas.
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Apesar das garantias quase diárias de Torba em sua própria conta na Gab de que sua plataforma é destinada e aberta a todos (e não apenas um espaço seguro para os alt-right), continua a ser difícil, neste momento, imaginar uma recepção calorosa a membros de comunidades online que a base atual de usuários da Gab parece desprezar.
Novos usuários
Também há festas de boas vindas para novas contas. Quando Alex Jones, da Infowars, se juntou à rede, em 2016, foi recebido com muita celebração; a estrela de reality show e admiradora de Hitler Tila Tequila também começou a postar muito mais na sua conta na Gab depois que o Twitter confirmou seu banimento por violar suas novas políticas de segurança.
Outros testaram os limites do compromisso de Gab com a liberdade de expressão. Quando o hacker Andrew “Weev” Auernheimer se juntou, decidiu fazer em sua biografia de perfil uma declaração vil que defendia a violência contra os judeus. Gab inicialmente o censurou, provocando uma pequena rebelião entre alguns dos supremacistas brancos. Gab e Weev finalmente chegaram a um entendimento sobre o assunto e sua bio agora diz outra coisa.
No dia 19 de agosto, Torba, através da conta oficial do Gab no Twitter, convidou o candidato a presidente pelo PSL, Jair Bolsonaro, a criar uma conta na rede. “Podemos obter Bolsonaro no Gab? Os comunistas do Twitter perderiam a cabeça. @jairbolsonaro”, escreveu.
Censura e liberdade
Ricky Vaughn relembrou sua suspensão do Twitter começando a usar a hashtag #TwitterTerror na Gab, que basicamente pareceu ser uma campanha de assédio concebida para arruinar o Twitter. “Crie contas rápidas, descartáveis, que você possa usar para assediar os críticos de Trump”, disse Vaughn em um post.
Em outras discussões, os membros da Gab concordaram que o Twitter estava “acabado” e diziam esperar que a Gab ocupasse o seu lugar. Há uma abundância de debates sobre se a “câmara de eco” da Gab vai – ou mesmo se deve – chegar a tal ponto.
Gab está crescendo rapidamente na Índia e no Brasil, disse por telefone o porta-voz da rede, Utsav Sanduja, e tem planos de contratar mais internacionalmente – incluindo na França e outros países de língua francesa, onde Sanduja disse haver interesse entre “romancistas e escritores independentes (que) estão sendo reprimidos por ter pontos de vista politicamente incorretos”.
Torba e Sanduja pediram paciência para provar que Gab foi projetada para ser algo mais do que a versão alt-right do Twitter.
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A história cautelar do que pode dar errado com a confiança do usuário – que é, agora, um dos maiores trunfos de Torba com a crescente base direitista do site – já existe no Twitter, a plataforma para a qual a rede foi criada como oposição.
A imposição infame e inconsistente do Twitter de suas regras tem um pouco a ver com seu tamanho e a grande equipe de moderadores que a plataforma emprega para tomar decisões em fração de segundos sobre violações de regras relatadas – um problema que o Twitter tem lutado para corrigir ao longo do tempo .
Torba está envolvido pessoalmente na moderação de muitas das disputas que acontecem na plataforma, algo que ele admite que não será capaz de fazer para sempre. É apenas sustentável com dezenas de milhares de usuários; e logo se tornará impossível, exceto em alguns casos.
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As especificidades de como exatamente a Gab se sairá melhor do que o Twitter nestas questões, disse Torba, serão trabalhadas à medida que o site crescer. Mas ele está confiante de que Gab ganhará “enquanto eles (Twitter) mantiverem o seu caminho estratégico de censura e nós mantivermos o de liberdade de expressão”.