O número de migrantes em todo o mundo atingiu um volume recorde – 244 milhões de pessoas deixaram os seus lares em 2015, de acordo com a ONU. Eles foram levados a isso por guerras, dificuldades econômicas e, para alguns, piora das condições ambientais trazidas pela mudança climática.
Há cada vez mais evidências que relacionam migração e mudança climática, de ilhas do Pacífico sendo submersas pela elevação do nível dos oceanos à devastação da seca no Chifre da África. Em um discurso este ano, o Secretário Geral da ONU, António Guterres, advertiu que “conforme mais regiões se tornarem inabitáveis, mais e mais pessoas serão forçadas a se mudarem de terras devastadas para cidades e para outros países”.
Um relatório recente da Oxfam revelou que mais de 20 milhões de pessoas por ano são deslocadas devido a condições climáticas extremas desde 2008, a maioria em países em desenvolvimento.
Mas relacionar migração a mudança climática é complicado porque o meio ambiente é apenas um dos muitos fatores ocorrendo ao mesmo tempo.
Muitos problemas
Consideremos o caso da Nigéria, onde quase dois milhões de pessoas estão deslocadas. A mudança climática é claramente um fator: o Lago Chade, maior fonte de água da região, está secando com a expansão do deserto do Saara ao sul.
Mas, ao mesmo tempo, a rebelião islâmica do Boko Haram tem feito uma campanha terrorista brutal. Pobreza rural e insegurança alimentar já eram grandes problemas. As oportunidades econômicas são melhores no sul. Então que combinação de fatores está fazendo as pessoas deixarem as suas casas?
Em qualquer caso de migração, como podemos saber o impacto da mudança climática, se é que ele existe?
Um novo estudo pode ajudar a responder essa questão ao olhar para uma onda migratória muito diferente com 150 anos de retrospectiva. Pesquisadores da Universidade de Freiburg, na Alemanha, analisaram a migração do século 19 da Europa central para a América do Norte e descobriram novas evidências que sugerem que a mudança climática desempenhou um papel relevante em estimular movimentos de massas populacionais.
Avô de Trump
Ao longo do século 19, cerca de cinco milhões de pessoas imigraram para a América do Norte de uma região que hoje corresponde ao sudoeste da Alemanha, incluindo o avô do presidente Donald Trump, Friedrich, que se mudou para os Estados Unidos em 1885. O estudo, publicado no jornal científico Climate of the Past, descobriu que cerca de 30% dessas pessoas se mudaram devido a perturbações climáticas.
Esse número é muito maior do que os pesquisadores esperavam, segundo Rüdiger Glaser, autor do trabalho. Pesquisas sobre migrações históricas costumam desconsiderar a mudança climática.
“Eu fiquei surpreso, na verdade”, disse Glaser. “O século 19 é um período com grandes mudanças no clima, na economia e na política. Isso é como um estudo de caso para aprender como funcionam as mudanças de sistema.”
As descobertas revelam um precedente histórico para um padrão que é cada vez mais familiar: clima incomum, seguido de quebras de safra, seguido de instabilidade econômica, seguido de êxodo em massa.
Pequena Era Glacial
O intervalo de tempo do estudo, de 1812 a 1887, foi um período de transição na história climática após a chamada Pequena Era Glacial, quando as temperaturas globais eram muito mais baixas do que são hoje.
Quando as temperaturas começaram a subir em resposta ao que hoje reconhecemos como aquecimento global antropogênico, era uma época de variabilidade tumultuosa a cada ano. Anos de seca eram repentinamente pontuados por ondas de frio que destruíam colheitas. Então apesar da “mudança climática” que as pessoas sentiram naquela época ter sido diferente do que estamos vivendo hoje, o seu impacto nos sistemas de alimentos foi similar.
Pesquisadores identificaram uma série de picos de emigração ao longo do século, e então compararam a recordes históricos de clima, colheitas e preços para culturas locais, como cevada, aveia e centeio.
A correlação foi convincente por si só, segundo Glaser. Mas, claro, há outros aspectos nessa história: o período após as guerras napoleônicas, o aumento da industrialização e comércio global e outras formas de agitações políticas e econômicas. Então Glaser e seus colegas construíram um modelo estatístico que poderia levar em conta a influência que esses outros fatores exerceram sobre a emigração.
Em alguns anos, o meio ambiente era um fator dominante, como em 1816, quando a erupção do Monte Tambora na Indonésia levantou uma nuvem de cinzas vulcânicas que afetou a produção agrícola europeia e levou milhares de pessoas a saírem da região.
Em outros anos, outros fatores foram mais importantes, como a prática adotada por alguns municípios na década de 1850 de pagarem seus cidadãos mais pobres para se mudarem. Mas, de modo geral, ficou claro que milhões de pessoas teriam ficado se não fosse pelas condições climáticas adversas, de acordo com o estudo.
A conclusão, segundo Glaser, é que os pesquisadores deveriam utilizar melhor os recordes históricos para procurar por pistas sobre como os migrantes climáticos poderão agir no futuro. Isso será ainda mais importante conforme o aquecimento global continuar obrigando as pessoas a se mudarem.
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