Faz uma semana que o forasteiro da política de 39 anos Emmanuel Macron venceu a eleição presidencial francesa.
Mas sua esposa, Brigitte Macron, de 64 anos, continua a enfrentar uma litania de comentários misóginos iguais àqueles que a atormentaram durante a campanha, a maioria deles a respeito da diferença de 24 anos entre o casal.
A revista satírica Charlie Hebdo publicou na terça-feira uma capa com caricaturas do presidente eleito francês e de sua esposa com a legenda: “Ele vai fazer milagres!”
O texto era uma referência ao discurso otimista da campanha de Macron em uma eleição polarizada. Mas dada a ilustração – do presidente pousando sua mão sobre a barriga de “grávida” de sua esposa — era um claro golpe na diferença de idade do casal.
Nas redes sociais, muitos criticaram a capa da revista como “sexista” e “idadista”.
A própria Brigitte respondeu à capa, tuitando: “Nem tudo que é tecnicamente possível é necessariamente desejável ou desejado.”
Ela acrescentou a hashtag #JeSuisCharlie, um slogan que se tornou popular depois que terroristas da Al-Qaeda emboscaram e mataram 12 pessoas no escritório do Charlie Hebdo em Paris em 2015.
Brigitte foi elogiada por sua resposta irônica.
Manchetes e ataques
A essa altura, a história de fundo de como Emmanuel Macron e sua esposa ficaram juntos é conhecida na França e em outros lugares: ele tinha 15 anos quando eles se conheceram; ela era sua professora de teatro no ensino médio. Na época, ela era casada e tinha três filhos.
Dois anos depois, ele declarou seu amor por ela, de acordo com relatos. Apesar da diferença de idade e das convenções sociais, ela eventualmente deixou o marido por ele. “O amor tomou conta de tudo em seu caminho e me levou ao divórcio. Era impossível resistir a ele”, Brigitte disse à revista Paris Match ano passado, de acordo com o New York Times. Ela se divorciou do marido em 2006 e se casou com Macron em 2007.
O romance do casal capturou manchetes de tabloides durante a campanha presidencial francesa, mas não foi um obstáculo à vitória decisiva de Emmanuel Macron contra sua oponente de extrema-direita Marine Le Pen na semana passada.
Para muitas eleitoras francesas, ao menos, a diferença de idade não era uma questão, Mary Jordan, do Washington Post, noticiou.
“É normal ver homens com mulheres mais jovens”, Martine Bergossi, uma lojista em Paris, disse a Jordan antes da eleição. “Então é muito bom ver o oposto.”
A vitória de Macron não impediu algumas pessoas de atacarem sua esposa nas redes sociais, chamando-a de “pedófila”, entre outros insultos. Esses ataques, assim como a capa do Charlie Hebdo, impeliram muitos a se posicionarem em defesa da senhora Macron — inclusive sua filha do primeiro casamento, Tiphaine Auziere, de 32 anos, que disse que era “inveja” o que estava alimentando tamanho ódio contra sua mãe.
“Penso que não podemos nos manter indiferentes a isso, e não quero agora dar nenhuma importância para as pessoas que transmitem esse tipo de coisa, porque acho totalmente revoltante que se façam esses ataques na França do século XXI”, Tiphaine disse à afiliada da CNN na França, BFM TV.
“Esses ataques não seriam dirigidos a políticos homens ou a um homem que acompanha uma política mulher. Então acho que há muita inveja, e que isso é muito inapropriado.”
Mesmo aqueles que não são fãs do presidente eleito correram em defesa de sua esposa.
“Não passarei cinco anos defendendo [Emanuel] Macron”, um usuário do Twitter escreveu. “Contudo, passarei cinco anos defendendo Brigitte Macron contra quaisquer comentários misóginos e idadistas.”
A apresentadora de televisão francesa Cecile Menibus tuitou que ela achou a nova primeira dama “muito mais elegante do que todos aqueles críticos que eu leio... e, de qualquer forma, qual o sentido disso!?”
Valerie Pecress, a presidente republicana do conselho regional da região administrativa de Île-de-France, tuitou que Brigitte era vítima de comentários sexistas e misóginos.
“Francamente... é uma vergonha!”, acrescentou.
Normal... se fosse homem
Romances com grandes diferenças de idade entre políticos e seus parceiros não são nenhuma novidade, como Adam Taylor, do Washington Post, noticiou em uma análise das diferenças de idade de líderes globais e seus parceiros.
Neste caso, a diferença é simplesmente que acontece de a mulher ser mais velha do o homem. A título de comparação: a diferença de 24 anos de idade entre os Macron é a mesma entre o presidente Donald Trump e sua esposa, Melania, mas essa última não provocou nenhum escrutínio.
O futuro líder francês, inclusive, parece ter cansado de falar sobre isso.
“Se eu fosse 20 anos mais velho do que minha esposa, ninguém teria pensado por um segundo sequer que isso era errado”, ele disse ao jornal francês Le Parisian esta semana.
“É porque é ela que é 20 anos mais do que eu que muitas pessoas dizem: ‘Esse relacionamento é errado’.”
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