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No fim de maio, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou o fim do envio de dinheiro norte-americano (e da participação do país) na confusa Organização Mundial da Saúde (OMS). Recentemente, o ritual formal de retirada começou para valer, com a saída definitiva marcada para julho do ano que vem. Agora, contudo, alguns membros do Congresso estão procurando uma “solução legislativa” para que cerca de US$500 milhões por ano continuem enchendo os cofres da instituição burocrática.
O jornal The Hill diz que o orçamento a ser proposto pelos democratas da Câmara “garante financiamento para a Organização Mundial da Saúde, assim como financiamento para outras organizações internacionais problemáticas”. Diante da reação atrapalhada da OMS na pandemia de coronavírus, a manutenção do financiamento da organização significa um cheque em branco como recompensa por seu mau comportamento. Um orçamento realmente preocupado com a saúde pública fazia com que a OMS pagasse por suas ações. Quem apoia o envio de dinheiro do contribuinte para iniciativas globais, organizações mais dignas, como a Médicos Sem Fronteiras, seriam mais merecedoras. Os pacientes simplesmente não podem esperar que a OMS se recomponha.
Não surpreende ninguém o fato de que os deputados democratas não ficaram felizes com a decisão de Trump de retirar os EUA da OMS. A presidente do Congresso, Nancy Pelosi, disse que a retirada é uma bobagem perigosa e ilegal. Pelosi também declarou que a medida vai “ser habilmente contida”. Mas a verdade é que, cada vez mais, é perigoso e não faz sentido nenhum continuar sustentando um órgão burocrático mundial inchado e pouco confiável.
No dia 14 de janeiro, tornou-se famoso um tuíte da OMS no qual ela dizia que as autoridades chineses “não viram sinais claros de transmissão entre humanos do novo coronavírus”, apesar da denúncia de corajosos, como o médico Li Wenliang, que falavam de uma doença que parecia estar sendo transmitida de paciente para paciente.
Por seu “crime” de ter alertado para o surgimento de uma doença nova, Li foi preso pelas autoridades chinesas e obrigado a assinar um documento no qual prometia não cometer mais “ilegalidades”. O médico de 34 anos morreu semanas mais tarde, deixando uma esposa grávida e um filho pequeno.
Apesar de a China ter acobertado a doença e esperado duas semanas para deixar que a OMS entrasse no país e analisasse os casos, o diretor-geral da instituição, Tedros Adhanom Ghebreyesus, elogiou o presidente chinês Xi Jinping por seu suposto comprometimento político, liderança e transparência relativos à reação à pandemia.
Taiwan
Alguns pesquisadores e acadêmicos tentaram argumentar dizendo que a organização tem de fazer concessões para continuar contando com a cooperação chinesa, mas as ações da OMS vão além da mera diplomacia. A OMS continua negando um lugar a Taiwan em suas reuniões de emergência, apesar de o país asiático ter sido bem-sucedido na contenção do coronavírus. Taiwan é um país com mais de 23 milhões de pessoas (população semelhante à da Flórida), e mesmo assim teve menos de 10 mortos por Covid-19. O país insular deteve o coronavírus precocemente por meio de uma combinação rigorosa de exames em massa e medidas de controle de infecção hospitalar.
Taiwan claramente tem muito a contribuir explicando suas práticas para o restante do mundo. Ainda assim, os estudiosos da Universidade de Nova York Yu-Jie Chen e Jerome Cohen notam que “por causa do poder da China, incluindo seu lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU, Pequim consegue impor sua política de ‘China única’ sobre todo o mundo, à custa da inclusão de Taiwan. Essa política inclui entre suas prerrogativas impedir que Taiwan faça parte das reuniões da OMS, mesmo que isso comprometa a saúde da população”.
E, obviamente, a reação fracassada da OMS à pandemia gerou imprecisões básicas nos dados coletados. Em março, o site “Our World in Data”, ligado à Universidade de Oxford, anunciou que teriam de deixar de usar dados da OMS por causa dos erros e inconsistências. Como resultado, a plataforma passou a usar dados do Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças, que publica dados mundiais precisos diariamente sobre a Covid-19.
Talvez em vez de darem um cheque em branco para o trabalho impreciso da OMS, os legisladores devessem defender o financiamento de fontes confiáveis de dados sobre a disseminação da pandemia.
A retirada dos Estados Unidos da OMS também servirá como um sinal de que a politização da saúde pública é nociva e não será tolerada. As pessoas merecem informações imparciais de instituições que não estão nem preocupadas em agradar regimes corruptos nem em desagradar países de que não gostam.
A continuidade do envio de dinheiro para a OMS será um desperdício e prejudicará a saúde pública à custa da integrada e das melhores práticas.
Ross Marchand é diretor da Taxpayers Protection Alliance.