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Em novembro de 1947, sob a presidência do brasileiro Oswaldo Aranha, a ONU propôs a partilha do território conhecido como Palestina em dois Estados: um árabe e um judaico. A proposta foi imediatamente aceita pelos judeus e totalmente rejeitada pelos árabes, que prometeram erradicar os judeus da região.
Em 1948, como consequência da invasão dos países árabes (Síria, Transjordânia, Iraque, Líbano e Egito, com reforço da Arábia Saudita) ao recém criado Estado de Israel, ocorrem abandonos e expulsões de populações: 750.000 judeus são expulsos ou abandonam países árabes e entre 700.000 e 750.000 árabes fazem o mesmo em Israel. Todos os judeus, sem exceção, são absorvidos em Israel e nos demais países e nenhum árabe é absorvido nos países muçulmanos aos quais se dirigiram (exceto Transjordânia). É o começo do chamado “problema palestino”.
Assim como os judeus foram absorvidos, muitos outros refugiados em todo o mundo também foram absorvidos em suas novas sociedades — dos 7.249.000 refugiados do Paquistão que chegaram à Índia na mesma época já não há sequer um refugiado. Ao mesmo tempo, os 750.000 árabes saídos de Israel em 1948, hoje são 5.540.000 de acordo com a ONU. Os principais responsáveis pela existência de refugiados árabes, hoje chamados palestinos, são principalmente a ONU e, em menor escala, a Liga Árabe.
A ONU criou duas agências distintas para cuidar de refugiados: o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (UNHCR, Office of the High Commissioner for Refugees, em português ACNUR) e a Agência das Nações Unidas de Assistência e Obras para a Palestina (UNRWA — The United Nations Relief and Works Agency for Palestine Refugees in the Near East).
A UNRWA foi criada em Dezembro de 1949 e o ACNUR em Dezembro de 1950. A criação da segunda deveria englobar a UNRWA pois cuidaria de todos refugiados do mundo. No entanto, isto não ocorreu e hoje o ACNUR cuida de todos os refugiados do mundo, menos os palestinos, e a UNRWA cuida tão somente dos refugiados palestinos e conta com pouco mais de 32 mil funcionários.
Esta imensa estrutura consumiu, em 2022, segundo a própria UNRWA, acima de R$ 4 bilhões (US$ 803 mil) para uso exclusivamente na Cisjordânia e em Gaza. Para facilitar, são quase um bilhão de dólares. Ora, é claro que 32 mil funcionários com quase um bilhão de dólares na mão não querem perder seus empregos e tudo fazem para que a questão dos “refugiados palestinos” continue.
É interessante a comparação entre a UNRWA e o ACNUR na tabela a seguir:
Mas quem são os refugiados palestinos para a UNRWA?
Como podem haver 5.540.000 “refugiados” se o número de pessoas que saíram de Israel foi entre 700.000 e 750.000 pessoas? Como este número se multiplicou por 8? A resposta está na “bondosa e ampla” definição de refugiados palestinos pela UNRWA. Eles consideram como refugiado qualquer um que tenha saído de Israel como consequência de guerras e conflitos mais seus filhos, seus netos, seus bisnetos, tataranetos etc. Também é refugiado qualquer pessoa que case com um dos anteriores e seus descendentes.
Mas não se limita a isso.
Qualquer um que seja adotado por algum dos anteriores também é considerado refugiado e entra na lista tanto dos 5.540.000 como nos planos de benefícios que incluem escolas (a maioria educando para o ódio), hospitais e ajuda financeira — tornando-os ao mesmo tempo protegidos da UNRWA mas desestimulados de buscar emprego e progresso, já que a UNRWA cuida deles — e para isso pede dinheiro a governos, ONGs e doadores mundo afora.
Normalmente deslocados internamente não são considerados refugiados — exceto para a UNRWA. Lembrando que os árabes/palestinos que vivem em Gaza e na Cisjordânia não deixaram o seu país em 1948, mas foram deslocados dentro dele (já que a Cisjordânia e Gaza estão dentro das fronteiras do que era a Palestina em 1948). Curiosamente os judeus deslocados na mesma ocasião não foram jamais considerados refugiados, incluindo os que foram expulsos de Hebron, Gush Etzion, Jerusalém entre outros.
Diferenças entre UNRWA e ACNUR/UNHCR
Ao contrário da UNRWA, a ACNUR/UNHCR oferece soluções permanentes ou duradouras para os refugiados, o que inclui integração em seu novo local. E outra gritante diferença é a chamada “cláusula de cessação”: ao contrário da UNRWA, o ACNUR/UNHCR tem definido claramente quando o status de refugiado acaba.
E o papel da Liga Árabe?
A Liga Árabe, fundada em 1945, se opôs em 1947, de forma unânime e violenta, à criação de dois Estados na Palestina. Os governos árabes (exceto Jordânia), reunidos na Liga Árabe, negam cidadania aos palestinos sob o argumento que seria “visto como uma forma de permitir a Israel fugir à sua responsabilidade para com os refugiados”. Usando este argumento, mantêm os refugiados e todos seus descendentes em “campos de refugiados”, sem os mínimos direitos de cidadão, nem sequer um documento de identidade. E agora, com a difícil situação em Gaza, o rei Abdullah, da Jordânia, alertou no dia 17 de outubro contra o envio de refugiados para o Egito ou a Jordânia, acrescentando que a situação humanitária deve ser tratada dentro de Gaza e na Cisjordânia. Suas palavras textuais: "Nenhum refugiado na Jordânia, nenhum refugiado no Egito”.
O jornalista Árabe Tashbih Sayyed , membro da Fundação para a Defesa das Democracias, criticou as nações árabes por violarem os direitos humanos e por tornarem os filhos e netos dos refugiados palestinos cidadãos de segunda classe no Líbano, na Síria ou nos Estados do Golfo, e disse que os refugiados palestinos da UNRWA "mantêm a ilusão de que derrotar os judeus irá restaurar a sua dignidade". Enquanto isso, nações árabes e a UNRWA vão perpetuando o problema e gerando opinião pública contrária a Israel simplesmente por total desconhecimento dos fatos.
Marcos L. Susskind é radialista e guia de turismo em Israel.