Colégio adventista sofre pressão por tratar de homossexualidade em prova do 9.º ano.| Foto: Pixabay

O Colégio Adventista de Correios (nota-se que é uma escola confessional), em Belém - PA, foi criticado duramente pela revista Carta Capital e nas redes sociais por uma questão de prova considerada por estes homofóbica.

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As seguintes subquestões desta prova, aplicadas para alunos do 9.º ano, foram publicadas no Instagram por um maquiador, irmão de uma das estudantes, devidamente circuladas em vermelho: “d) a pessoa nasce ou se torna homossexual?”; e) a bíblia condena a relação homossexual?; f) homossexualismo tem perdão?”. Seguidas de um comentário em letras garrafais “OLHEM ESSAS PERGUNTAS...” Transcrevo aqui as que o maquiador aparentemente deixou de fora: “a) o que é homossexualismo?; b) isso é coisa moderna?; c) homossexualismo é doença ou opção sexual?”.

A dita questão, de número 35, era um exercício de interpretação de texto, baseado no livro De bem com você, obra destinada a ajudar os adolescentes a compreender e a lidar com os dramas dessa idade – a sexualidade inclusive – de um ponto de vista cristão, ou mais precisamente evangélico.

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Não vou entrar na discussão se as questões em si mesmas são homofóbicas ou não, nem vou salientar o fato de muitas delas serem questões abertas que poderiam servir de debate franco sobre um tema cuja instrução é necessária para a idade, tampouco vou defender a resposta para as questões, que devem ser mais ou menos claras para quem tem familiaridade com a Bíblia ou com o catecismo – e que provavelmente surpreenderiam até o nosso maquiador indignado. Mas não me custa imaginar o que poderia ter acontecido com a escola, ou os responsáveis por ela, caso o acórdão do STF sobre o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) 26 e do Mandado de Injunção (MI) 4733, aquele que equiparou a homofobia ao crime de racismo, estivesse em vigor.

Por supuesto, ninguém defenderia crimes contra a população LGBT – assim como para qualquer outro grupo social. O problema está na definição jurídica do que seria homofobia e como as situações concretas do dia a dia seriam impactadas por interpretações laxas do novo entendimento proposto pelo STF. Como o acórdão ainda não foi publicado não é possível responder a estas indagações. Mas a julgar pelo barulho gerado em relação às perguntas enumeradas acima, que ocorreram dentro de um ambiente confessional e não são nada capciosas, as escolas terão de redobrar o cuidado para tratar do tema do homossexualismo.

Como combater a homofobia sem restringir a liberdade de expressão e a liberdade de culto seria um tema para um amplo debate no Congresso, mas o STF resolveu se adiantar e colocou um abacaxi na mesa dos juízes.

Num futuro próximo, em situação análoga, provavelmente o Ministério Público terá sido acionado, e sabe-se lá o que se passaria na cabeça do juiz que receberia o processo. Bastam algumas punições mais ou menos injustas para que, por medo, as pessoas deixem de debater o assunto, mas o fato concreto da homossexualidade, com todo seu drama humano, continuará a existir.

Os dramas pessoais são costumeiramente tratados em nossa sociedade nas igrejas, nos consultórios de psicologia e, como nesse caso, nas escolas. Se o Estado postular de antemão o que se pode e o que não se pode falar em casos como esses, acabou a possibilidade de atuação efetiva dessas instituições – vai ser o deus-dará.

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Pergunto-me se é possível aliviar o sofrimento das pessoas, seja lá qual for, sem poder falar abertamente sobre ele. Tudo isso porque o STF resolveu criar um tabu.

PS. Quando digo dramas humanos, ou pessoais, quero me referir aos conjuntos de escolhas que vão formando nossa história e estreitando nossas possibilidades de vida. Por mais que as postulações da filosofia moderna preguem uma liberdade absoluta, ela não se pode realizar (afinal, não se pode fazer tudo, e no mesmo tempo). Isso inclui certamente as escolhas sexuais e afetivas das pessoas que, quaisquer que sejam, podem com o tempo adquirir um caráter dramático.