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Há quase dois anos, amigos me deram de presente um exemplar do best-seller “12 Regras para a Vida”, de Jordan Peterson.
Comecei a ler o livro assim que o recebi, mas em algum momento me distraí e não terminei de lê-lo. (Isso não costumava me acontecer, mas criar três filhos me obrigou a mudar meus hábitos de leitura).
Com o retorno recente de Peterson à vida pública, decidi retomar o livro. Atualmente estou lendo a Regra 12 (“Acaricie um gato ao encontrar um na rua”) e planejo escrever uma resenha no futuro.
Antes de falar do livro todo, contudo, me parece apropriado compartilhar a mais importante regra da obra fundamental de Peterson, que vendeu mais de três milhões de cópias no mundo.
Assuma a responsabilidade pela sua vida.
É isso. Soa simples e até banal. É algo que você espera ouvir do pai ou avó ao cometer um erro ou ser demitido.
Ainda assim, é uma mensagem necessária. Norman Doidge, que escreveu o prefácio de 12 Regras, concorda que essa é a principal lição do livro de Peterson.
“...a regra mais importante é a que diz que você deve assumir a responsabilidade pela sua vida. Ponto final”, escreve Doidge, psiquiatra, escritor e amigo de Peterson. (grifos meus)
Sendo bem claro, “assuma a responsabilidade” não é uma das 12 regras de Peterson. Ainda assim, a análise de Doidge é correta e não deveria surpreender ninguém.
A responsabilidade pessoal pela própria vida é uma ideia que permeia as regras que Peterson expõe ao longo do livro como um antídoto ao caos que muitos de nós sentimos hoje em dia. (Isso também é tema de suas palestras e entrevistas). Quando Peterson diz para você se portar ereto, fazer bons amigos, arrumar a casa, dizer a verdade, fazer a própria cama, falar com precisão, etc., ele não está realmente preocupado com a limpeza do seu quarto. Ele está dizendo aos leitores como eles podem assumir o controle da própria vida. Ele os está lembrando de seu próprio poder. Da capacidade de ação deles.
A questão é: por que essa lição de repente parece tão importante? Afinal, a mensagem de Peterson não é exatamente nova. De certa forma, os ensinamentos dele canalizam um pouco os estoicos, que há dois mil anos ensinavam que o caminho para a vida feliz e pacífica era dominar a única coisa que os humanos podem controlar: a si mesmos.
“Onde está o bem? Em nossas escolhas”, disse o filósofo estoico Epiteto. “Onde está o mal? Em nossas escolhas”.
A mensagem dos estoicos era a de que não deveríamos sujeitar nossos sentimentos, nossa felicidade, a fatores externos. Afinal, geralmente não temos muito controle sobre os acontecimentos, circunstâncias e as outras pessoas. O caminho para a harmonia e felicidade é aprender a controlar como nós, enquanto indivíduos, reagimos a essas coisas.
As ideias de empoderamento, autocontrole e iniciativa não são exclusivas dos estoicos, claro. Outras filosofias antigas exploravam esses conceitos em maior ou menor grau, e esses temas estão entranhados no ideal americano e são encontrados em obras clássicas como Almanaque do Pobre Ricardo, de Benjamin Franklin, e no ensaio Autossuficiência, de Ralph Waldo Emerson.
O problema, de acordo com Peterson, é que os norte-americanos não ouvem mais essas lições. Numa entrevista de 2018 para a revista GQ britânica, Peterson foi perguntado por que as pessoas estavam tão “famintas” por sua mensagem.
“Elas estão famintas por uma discussão sobre a relação entre responsabilidade e sentido da vida”, respondeu Peterson. “Não temos essa discussão na nossa cultura há 50 anos”.
É uma resposta incrível. Durante a maior parte da história, os pensadores exploraram esse assunto – como nossas escolhas individuais se relacionam com uma vida plena de sentido — talvez mais do que qualquer outro. Esse era o tema central da filosofia de pensadores como Platão, Aristóteles, Immanuel Kant e Nietzsche.
Mas Peterson diz que não exploramos mais essas questões. A filosofia pós-moderno nos levou para outros caminhos.
“Nós nos concentramos em temas como direitos, privilégios, liberdades e prazer impulsivo”, diz Peterson. “São temas úteis, mas rasos, e isso não é bom. Porque se as pessoas ancoram em águas rasas as tempestades as destroem. E as tempestades sempre acontecem”.
É se apegando à responsabilidade que os seres humanos aprendem a suportar tempestades, que são inevitáveis. Como muitos sabem, o próprio Peterson enfrentou sua tempestade depois que sua esposa, Tammy, foi diagnosticada com câncer terminal em abril de 2019, e ele teve dificuldades para tratar da dependência em benzodiazepínicos.
Peterson sobreviveu à tempestade porque sua vida estava ancorada na responsabilidade, o que lhe deu sentido e força.
Infelizmente, muitas pessoas hoje não têm um ancoradouro.
Quando Peterson diz que não discutimos responsabilidade e a vida plena na nossa cultura “há 50 anos”, ele está fazendo referência a uma mudança cultural que ocorreu.
Não só deixamos de ensinar as pessoas a assumirem responsabilidade por suas vidas como, de certa forma, nós as desencorajamos a fazerem isso. A cultura woke, os espaços seguros e a vitimização são expressões de uma cultura que substituiu a responsabilidade individua por noções coletivas de injustiça. As pessoas são explicitamente hostis a mensagem de Peterson.
Isso não quer dizer que a injustiça não seja algo real. É e sempre será. O problema é que, em nossa busca por livrarmos o mundo da injustiça, esquecemo-nos de que primeiro temos de assumir a responsabilidade por nossas vidas e resolver nossos problemas.
Além disso, Peterson não diz para ignorarmos a injustiça. A mensagem dele é para que você assuma a responsabilidade por sua vida, a despeito das injustiças, que sempre existirão. (Peterson diz, por exemplo, que estudos mostram que o destino do candidato à liberdade condicional está sujeito ao fato de o juiz ter ou não almoçado antes da audiência. Aparentemente, juízes com fome são menos misericordiosos).
É assim que nos transformamos em embarcações capazes de aguentar uma tempestade – não dando poder a coisas que estão além do nosso controle, mas assumindo a responsabilidade pelas coisas que você pode controlar.
O próprio fato de haver pessoas que tratam a mensagem de Peterson como algo estranho e digno de hostilidade prova o quanto ela é necessária.
Deveríamos agradecer a Jordan Peterson por ele ter voltado a fim de espalhar sua mensagem.
Jonathan Miltimore é editor do site FEE.org.