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A revolta de Austin, no Texas, contra a onda de mendicância

Acampamento urbano em Los Angeles, na Califórnia: problema se alastra pelas cidades mais progressistas dos Estados Unidos. (Foto: Bigstock)

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A cidade de Austin, no Texas, merece a boa imagem de cidade agradável e próspera, com boa comida, vida noturna, uma pujante indústria tecnológica, a Universidade do Texas e importantes eventos como o festival de música Austin City Limits, o festival cultural South by Southwest e a Fórmula 1. Ao longo dos dois últimos anos, contudo, a cidade adquiriu uma nova reputação: a de cidade que enfrenta uma crise de mendicância impulsionada por uma equivocada política de fomento aos “acampamentos urbanos”.

No dia 1º. de julho de 2019, um decreto legalizou os acampamentos urbanos em praticamente todos os espaços públicos de Austin. As consequências foram imediatas. Os abrigos para os moradores de rua se esvaziaram, mendigos de todo o país migraram para Austin, esquinas importantes foram ocupadas por acampamentos e até a Town Lake, considerada uma das áreas mais belas e queridas da cidade, ficou cheia de barracas e acampamentos improvisados.

Austin incentivou a vagabundagem como escola de vida e não fez nada para se preparar para as consequências disso. Nós dois não concordamos em nada quando se trata de política nacional, mas há dois anos, quando nos conhecemos, percebemos rapidamente que o ativismo local seria a única forma de salvarmos Austin do fracasso de cidades como Los Angeles ou San Francisco.

Fundamos a Save Austin Now, uma organização sem fins lucrativos com a missão de esclarecer eleitores sobre as políticas municipais e as questões de padrão de vida na cidade. Estamos fazendo isso há quase dois anos.

Em setembro de 2019, descobrimos que a defesa da proibição dos acampamentos urbanos seria impossível com a composição atual da Câmara Municipal. Em fevereiro de 2020, lançamos uma petição para incluir a questão num referendo.

Não conseguimos obter a certificação das 20 mil assinaturas necessárias na primeira tentativa (a questão está sob litígio). Em dezembro de 2020, lançamos uma segunda iniciativa. Depois de apenas 50 dias, coletamos 30 mil assinaturas, que se transformaram em 27 mil assinaturas certificadas. Em fevereiros, estávamos preparados para o referendo de 1º. de maio.

Depois de uma campanha de dez semanas, nossa organização-irmã, a Save Austin Now PAC, garantiu uma vitória arrasadora em Austin (58% a 42%), com mais de 156 mil votos, num referendo com poucos eleitores e sem candidatos locais. O resultado foi obtido numa cidade onde os republicanos são apenas 21% do eleitorado.

Por fim, conquistamos os votos de ao menos 40% dos democratas, ao menos 85% dos independentes e 90% dos republicanos. Isso é o que chamo de coalizão vitoriosa. Se uma vitória como essa foi possível em Austin, uma das cidades mais progressistas dos Estados Unidos, ela é possível em qualquer lugar. Os ingredientes necessários foram estes: uma parceria realmente apartidária, foco em dados, organização, voluntariado, arrecadação de fundos e contato eficiente com o eleitor. E uma determinação absoluta.

A mendicância é um desafio constrangedor. Ela envolve questões complexas, como saúde mental, vício em drogas e álcool, educação e um ponto que geralmente é ignorado: a obediência às regras de convivência.

Uma parte da população de rua se recusa a acatar regras e leis municipais e se recusa a aceitar os serviços de acolhida. É uma porção reduzida da população de rua, mas que requer uma solução sob medida que começa com a aplicação das leis existentes.

Desde o começo acreditávamos que não era demais ansiar por uma cidade que fosse segura tanto para os moradores de rua quanto para os residentes. Mas os nossos líderes discordavam disso.

Nove dos dez vereadores e o prefeito se opuseram ao nosso esforço. O arquiteto e vereador Greg Casar, juntamente com o prefeito Steve Adler, fizeram uma campanha agressiva pela continuidade dos desastrosos acampamentos públicos.

Estimamos que nossa população de rua tenha mais que dobrado nos últimos anos, passando de 2,5 mil para mais de 5 mil pessoas. Enquanto isso, a segurança, a saúde pública, o turismo e a imagem da nossa cidade saem prejudicados. Todos os bairros, todas as esquinas, todos os parques, todos os hotéis, restaurantes e condomínios foram negativamente impactados por essa política.

Pior, nossos moradores de rua vivem em acampamentos sem higiene ou segurança, com muitos dejetos humanos e lixo se acumulando e onde drogas são vendidas e bandidos cometem ataques violentos e até estupros diariamente. Apesar disso, nossos líderes se recusavam a admitir a realidade.

Foram necessários 23 meses para desfazer uma política à qual 58% das pessoas se opõem. Isso está certo? Estávamos dispostos a investir este tempo e energia. Mas nem todos estavam. Hoje nossa cidade volta a procurar soluções de verdade e eficazes para o problema da mendicância.

Em Austin, temos dois bons exemplos. A Community First Village conta com mais de 500 microcasas e é um exemplo ótimos de como se resolver o problema da mendicância dando à comunidade a dignidade advinda da trabalho e o restabelecimento do contrato social que governa todas as vidas produtivas. Da mesma forma, o Camp Esperanza, que fica num terreno doado pelo estado, está construindo 238 estruturas temporárias para dar aos moradores de sua um espaço protegido a fim de que eles possam dormir em segurança, terem água corrente e eletricidade e a proteção da propriedade privada.

Se sua cidade passa por uma crise, cogite a possibilidade de copiar nossa estratégia. Adoraríamos ajudá-los com o que aprendemos. Os acampamentos urbanos não são bons para ninguém.

Matt Mackowiak e Cleo Petricek são cofundadores da Save Austin Now.

© 2021 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês

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